O Quitexe, em relação à sua dependência administrativa, faz lembrar certos estados da Europa Central e dos Balcãs, que em curtos períodos da sua história passaram a estar na dependência ora de um, ora de outro estado, conforme os caprichos dos homens, as mais das vezes e raramente de harmonia com os seus interesses e relações naturais.
Umas vezes estava integrado no concelho de Ambaca e no distrito do Congo, outras no do Cuanza Norte, finalmente no Concelho do Dange, em que acabou, como sede desse concelho, então criado, embora transitando ainda para o distrito do Uíge.
Em qualquer dessas situações nunca entraram em consideração factores de ordem geográfica e étnica que deveriam ser os mais determinantes, nem tão pouco os de natureza económica, que a partir de certa altura também já eram relevantes.
Neste caso, pelo menos, a divisão administrativa era feita em cima do joelho, por qualquer csar instalado em Luanda, sobre um mapa em que os interesses de alguns faziam desenhar as mais extravagantes figuras.
Isto não teria mais interesse, para além daqueles que resulta de mais uma situação anómala a juntar a tantas outras, se não trouxessem ao grémio das gentes do Quitexe uma figura destacada na galeria dos seus elementos, o então director da Administração Civil do Uíge, o velho Dr. Borja Santos, cabo-verdiano há muito radicado em Angola e que ele mesmo inculcava deverem chamá-lo de “nosso bondoso director” e que as mais das pessoas não tinham relutância em fazer para não desgostarem o velho e também, porque efectivamente não parecia mau homem.
A razão da sua vinda foi igual à de tantos outros: demarcar terrenos para roça de café, e porque não, se até o padre Rosa já tinha uma demarcação no vale do Loje.
Deitou as vistas para uns terrenos à beira da estrada, em frente ao Matos Vaz enxameados de lavras dos povos do Quimassabi e do Quitoque. Tirou uma licença de mil hectares que legalizou no Cadastro como ocupante dessa área. Só que, mesmo ocupando todo o terreno pertencente a essas duas senzalas, nem a quinhentos hectares chegaria.
Isso, aliás, não o preocupou, por aí além.
Não fez concretamente a demarcação no terreno, já porque a licença requerida lá não cabia e também porque iria alarmar desnecessariamente os donos das lavras, que calmamente expulsaria depois, um a um, sem alarmes nem problemas que a tentativa de ocupação total ocasionaria.
A meio da encosta fez uma cubata onde ia passar os fins-de-semana, as mais das vezes a semana inteira, já que a administração Civil passava bem sem a sua presença.
Conforme ia correndo com os negros das suas lavras, aumentava por esse meio a área cultivada e a produção, que mesmo assim nunca passou de pouco mais que nada, à escala de fazenda de branco, pois nesta época, antes das plantações extensivas, dois ou três pés de café constituíam a maior parte das lavras, mesmo assim plantadas pelos morcegos com os restos das suas refeições de café-cereja.
O chefe do posto do Quitexe, em atenção à sua posição hierárquica, mandava para lá trabalhar todas as semanas meia dúzia de homens daqueles que os sobas de todas as senzalas tinham que mandar obrigatória e gratuitamente trabalhar para a granja administrativa do Posto, e que mesmo a própria alimentação tinham que levar da senzala para aquela semana de corveia.
Entre patrão e empregados nunca houve questão com contas. Estavam sempre certas e em dia, até que certa vez um mais animoso, parecendo-lhe que não era a mesma coisa a semana de trabalho que tinha que cumprir na Granja, que era do Estado, e aquela que igualmente cumpria na tonga do nosso bondoso director, encheu-se de coragem e foi pedir contas num sábado, antes de abalar para o seu povo.
- Contas? Então tu não sabes que eu é Estado?
- Não estás a ver estas biçapas?
- Estado é estado, não é patrão de pagar!
E assim continuou ainda por algum tempo, até que a reforma o apeou do galarim e deixou de ser Estado, assim como a fazenda deixou de existir.
Alfredo Baeta Garcia
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