O Jornal de Quinta Feira, 2 de Junho trás poucas novidades. Refere-se aos encontros do Presidente com as delegações do governo do Congo e da Frelimo. Realçamos, no entanto, o discurso de Agostinho Neto perante a delegação da FRELIMO. Um discurso comedido, em que tenta enquadrar historicamente os motivos das divergências e remetendo muitas culpas para os extremistas de Portugal.
Transcrevemos na íntegra:
“ Nós tivemos estes acontecimentos resultantes de uma série de situações que vêm do tempo da guerra e que não foram resolvidas no momento oportuno.
Como o camarada Sérgio sabe, Angola teve durante a luta várias regiões, várias tendências que não comunicavam umas com as outras. Houve uma altura em que nós quisemos fazer a comunicação entre a Quarta Região e a Primeira Região e os nossos camaradas foram massacrados no limite ocidental da província de Lunda.
Alguns camaradas estiveram muito tempo na cadeia, outros camaradas desapareceram, mas o que é certo é que nós sofremos naquele momento perdas e portanto houve uma divisão dos indivíduos que dirigiam a luta em várias regiões, alguns dos quais são aqueles que hoje estão em fuga. Eu não disse “camaradas” porque finalmente, estamos a ver que nem todos eram realmente camaradas.
E agora, depois da independência, começaram a revelar-se as ilhas políticas que nós temos aqui em Angola. Ilhas políticas que tinham ideias diferentes e a confrontação que se fez agora é uma confrontação entre radicais e os camaradas que seguem a linha do Movimento. Os radicais são apoiados pelos extremistas de Portugal, ainda têm relações muito íntimas com Portugal. São indivíduos que funcionaram sempre dentro das ideias dum esquema europeu e extremista de organização.
A confrontação principal aqui é que nós defendemos a unidade nacional. Eles não, eles gostariam de ver uma Classe Operária a governar, mas a governar sozinha e combatendo, continuamente, as outras classes.
Eu não concebo isto, não houve da parte de nenhum país socialista uma atitude dessas. E se nós não estamos de acordo com certas práticas sociais e políticas duma pequena burguesia, dum campesinato, isso não significa que devemos abandonar. É preciso dirigir para ser todo o Povo junto.
Um dos pontos que foi atacado muito frequentemente foi a quetão racial. Esses indivíduos pensavam que era preciso retirar brancos e mestiços da direção e isso justifica alguns ataques individuais em relação a certos dos nossos camaradas dirigentes. E é extremamente infeliz que, neste momento, em que nós acabamos apenas de assistir a confrontações militares junto das nossas fronteiras, na fronteira oriental e nós fomos atacados na fronteira sul, pelos sul-africanos, em Santa Clara, que tenha haviso esta coincidência. Talvez tenha sido apenas uma coincidência mas o que é certo é que há estrangeiros que estão implicados neste processo.
Portanto, eu penso que o Povo de Angola não vai continuar a ter uma posição que possa complicar ainda mais o nosso processo de reconstrução e vai, como eu faço agora, agradecer aos camaradas de Moçambique que vieram aqui para se informar e para nos trazer o seu apoio.
Portanto a luta continua. Muito obrigado.”
No editorial referem-se às relações com a União Soviética, embora não se mencione este país:
(…)“ Daí a certeza absoluta de que a nossa independência de decisão não pode ser interpretada como hostilidade a este ou aquele país com quem temos profundos laços de amizade, como igualmente não pode ser interpretada por ninguém como posição de aproximação de linhas que desde sempre nos foram irredutivelmente opostas. (…)
Estamos ligados por laços indestrutíveis aos países socialistas e estamos abertos às relações de mútuo respeito e não ingerência com todos os países do mundo. Tal posição de sempre, não nos coíbe, no entanto, de afirmarmos as nossas posições relativamente a todos os problemas que nos digam respeito de perto ou de longe. Do mesmo modo que o fraccionismo, usando uma cobertura pseudo-revolucionária, terá impressionado alguns entre os nossos amigos (…)”
Vão sendo publicadas mensagens de todo o país de repúdio pela ação dos nitistas:
Na última página a fotografia do Comandante Nzaji
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