O Jornal de Angola não se publicava ao domingo pelo que o próximo número saiu segunda-feira ,dia 30 de maio. Não possuímos esse número, pelo que vamos analisar o jornal publicado terça-feira dia 31 de maio.
Já teria sido anunciada, na véspera, a morte dos dirigentes do MPLA, pelo que nas páginas deste jornal se dá amplo destaque ao assunto.
Na 1ª página uma nova comunicação ao país de Agostinho Neto, acompanhada de uma uma fotografia de corpos queimados encontrados no farol das Palmeirinhas “barbaramente massacrados pelos fraccionistas”.
“ Cada vez se vão esclarecendo mais as ligações políticas e militares de Nito Alves e José Van-Dúnen, para a realização dum golpe de estado na República Popular deAngola.(…)
Neste momento, há centenas de presos, somente na cidade de Luanda, e muitos outros nas províncias. E todos eles prestam declarações, todos eles informam. Uma das coisas que nós dissemos foi que o Comissário político das PAPLA, Bakalof, estava ligado ao fraccionismo. (…) E também Monstro Imortal está detido, porque como nós já temos a certeza, ele participou em muitas atividades contra o governo. Vários elementos do Comissariado Político das Faplas, também, foram detidos . (…)
Esses elementos fracionistas tinham constituído uma direção política. Tinham constituído um comando operacional, ao qual também pertenciam elementos do destacamento feminino e alguns comissários provinciais. Nós exoneramos o Comissário Provincial de Luanda. O Comissário de Malange está detido. E estamos a investigar acerca de outros. Tinham alguns elementos da OMA, da JMPLA, alguns elementos na UNTA e nas FAPLA.”
Mais à frente nega a participação cubana na repressão da revolta. Quanto aos camaradas soviéticos “ nem sequer aparecem. Estão fora desta contenda.”
“Sim, os camaradas cubanos estão connosco. Nós sabemos fielmente, diretamente. E não há nenhuma clivagem entre angolanos e cubanos. Não há. Estamos ligados por laços que não podem ser destruídos. Mas é falso dizer-se que foi por causa da presença dos camaradas cubanos, em Angola e exclusivamente por essa causa, que esses bandidos foram esmagados e serão neutralizados.(…)
É claro que há estrangeiros que estão implicados neste processo. Não os vou mencionar hoje. Vou mencionar mais tarde. À estrageiros que andaram a incitar, principalmente em Luanda, onde estão as embaixadas.
E agora, a questão é para o nosso Povo encontrar as cabeças desta tentativa de golpe. Eles estão mergulhados em caves, estão escondidos. Mas é possível encontra-los e fazer justiça.
E não me venham dizer que procedendo assim, nós estamos a defender uma direita no país. Não é isso. Não há direita que resista a uma esquerda unida. Mas a direita avança quando a esquerda está dividida. E o que quiseram fazernos aqui era dividir a esquerda, dividir os progressistas, dividir os nacionalistas, em dois grupos, para que a direita pudesse avançar mais depressa.”
Termina apelando “à caça” ao fraccionista:
“Camaradas e Compatriotas:
Não vamos simplesmente pensar que é necessário dar um combate sério e verdadeiro aos fraccionistas. Mas vamos atuar duma maneira prática em cada bairro, em cada cidade, em cada sanzala, em cada Kimbo. Vamos procurar os reacionários. Desde que eles apareçam, vamos fazer justiça.”
Ainda na 1ª página o editorial clama : “Vingar os heróis”
Segundo o articulista, provavelmente o diretor do jornal , Costa Andrade (Ndunduma) a estratégia do golpe passaria pela realização de uma manifestação ilegal que, sendo reprimida , daria o argumento para acusar o “Líder Querido”, o governo e o MPLA de repressão contra o povo. Por outro lado criavam problemas na distribuição dos alimentos para fomentar a revolta e exacerbavam o racismo e o regionalismo afim de captar os incapazes, os lupem, os drogados, para a aventura de assalto ao poder.
“O preço a pagar pela oposição ao golpe foi o mais alto, sofrido na Luta de Libertação, em quadros superiores. Foi necessário chegar à ambição neocolonialista e fascista mascarada de palavreado falsamente marxista para vermos os heróis vivos da pátria, esquartejados e queimados depois.”
E conclui:
“Sanguinários, fascistas da pior espécie mataram com requinte, queimaram os corpos das sua vítimas e atiraram as viaturas onde os meteram esquartejados para as barrocas onde o povo os pudesse ver e marcar para sempre na memória a mais terrível das recordações.
Em nome de todas as Mães, em nome de todos os combatentes, (…), em nome da Revolução Socialista, em nome da Vida, a Pátria de pé exige que Nito Alves, Zé Van-Dunem e os seus apaniguados facínoras sejam fuzilados!”
Nas páginas centrais fotografias dos corpos dos camaradas assassinados e das manifestações dos apoiantes dos revoltosos.
Todos os restantes artigos vão no mesmo tom, o fuzilamento dos fraccionistas.
Destaca-se pela violência das palavras o artigo “PRUMO”:
Os revoltosos são reduzidos à condição de “lagartixas racistas, pequenas lagartixas de palavreado livresco e sem sentido, pseudo-marxista e mentiroso.”
E termina:
“Contra a violência reacionária, só a violência revolucionária será eficaz. E o fuzilamento não seria um forma de punição demasiado severa para os crimes praticados pelas lagartixas fraccionistas.”
Num outro artigo, “Temas de luta,” recordam-se as palavras de Agostinho Neto:
“Seremos o mais breves possível para podermos resolver esses problemas, e vamos tomar decisões segundo a lei revolucionária”.
Segundo o articulista “esta orientação define o fim da tolerância e traça o procedimento a ter para com os que quiseram parar a Revolução. Se hoje fossemos tolerantes, amanhã já não haveria revolução. É preciso compreender que quando se é implacável na repressão à contra-revolução, isso significa que não há outra via.”
Na terceira página inicia-se o “inquérito” á população que se irá prolongar ao longo de vários números.
Curiosamente, nesta primeira abordagem o repórter refere:
“Durante o nosso inquérito tivemos a oportunidade de verificar que algumas pessoas, ou se encontram receosas, ou estão com “eles”. Abordados alguns transeuntes e explicadas as razões de ali nos levaram, a resposta permanecia: “Não sei de nada. Não ouvi nada”. Não acreditámos! Mas enfim, haverá tempo de vermos quem está com o MPLA e quem não está.”
João Garcia
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