Sábado, 24 de Abril de 2010

APONTAMENTOS PARA A HISTÓRIA DO QUITEXE IV - FUNDAÇÃO DO POSTO MILITAR DO QUITEXE

 

Coordenação: João Matos Garcia

 

Colaboração: Arlindo de Sousa  

                    João Cabral

 

 

A data da fundação do Quitexe como posto militar ainda está envolta em controvérsia, embora a data mais provável seja Março de 1917, como veremos.

 

 Depois das campanhas de João de Almeida, em 1907 contra os Dembos (aqui com significado das populações da região administrativa, compreendida entre o curso médio do Dange ou Dande, a norte, e o rio Bengo a sul) julgava-se a zona pacificada. Nada mais erróneo. A debilidade do dispositivo militar português e a tentativa de cobrança do imposto de palhota ia fazendo estalar revoltas dos que se tinham submetido uns anos antes, aliando-se, agora, aos que mantinham a sua independência. Durante vários anos os Dembos mantiveram-se fora do controle das autoridades portuguesas: os impostos não eram cobrados e os fortins eram impotentes. No entanto foi desenvolvido um lento processo de envolvimento militar e administrativo da região, apertando-se o cerco a norte e leste. Para isso muito contribuiu o governador do distrito de Quanza Norte (major de artilharia Alfredo Djalme Martins de Azevedo). Neste distrito ao qual estavam ligados os Dembos (incluindo os do norte do rio Dange, que noutros tempos tinham estado dependentes de S. José do Encoge) um destacamento militar que partira de Camabatela (fundada em 1915) instalou em 1915 (segundo Hélio Felgas – “História do Congo Português” – Carmona, 1958) ou, mais provavelmente, em Março de 1917 (segundo Marquês do Lavradio - “Pedro Francisco Massano de Amorim”, Pelo Império n.º 73, Agência Geral das Colónias, 1941), os postos militares de Quisseque e de Quitexe e criou a capitania-mor do Ambuíla. Dirigiu-se depois para S.José do Encoge pelo leste. ( Texto redigido a partir de Pélissier, René - História das Campanhas de Angola, Editorial Estampa)

 

 

Em relatório datado de 13 de Abril de 1917 e publicado no livro de Marquês do Lavradio, Massamo de Amorim, que fora nomeado Governador Geral de Angola em 29 de Janeiro de 1916, dá-nos conta da situação da colónia nos seguintes termos:

 

 “Os trabalhos de ocupação, nos últimos 10 meses, pelos Governadores dos Distritos, com o pessoal sob as suas ordens, minguado em número, mas cheio de dedicações, boa vontade e energia, determinou (…) a conquista de territórios que já agora podemos considerar, com verdade, subordinados à nossa autoridade. Diremos em resumo a este respeito:

(…) No Cuanza o Governador Djalme de Azevedo, com uma persistência grande, apenas comparável à sua serenidade, consegue em trabalhos sucessivos de duas colunas, que organizou no grande e pequeno Cacimbo e acompanhou, romper primeiramente o território que lhe ficava entre Lucala e o Ambuíla chegando até ao Encoge, deixando à retaguarda o posto de Quissaque (17 de Março de 1917) e depois, numa segunda fase das operações militares, montar o posto de Quiteche e internar-se já a Norte e a Sul em território dos Dembos (…)”.

 

O posto militar fundado nas terras do dembo Quitexe e adoptando o seu nome, foi estabelecido num “plateau” a 750m de altitude, rodeado de serras e às portas da região dos Dembos e veio dar origem à povoação e vila do Quitexe.

 

  

Estilo de casas da fundação do Uíge (o posto militar do Uíge foi fundado alguns meses depois do posto do Quitexe)

 

  

A autoridade portuguesa só seria estabelecida nos Dembos em 1919.

 

Nota Final

 

“As operações nos Dembos não ficaram pelas de 1913. Anos depois, nova coluna invadiu a região e, de então para cá, se pode considerar completa a sua vassalagem, não sem que por ela tenha corrido um caudal de sangue. Necessário? Não necessário? A História o dirá. Por enquanto é cedo de mais para fazê-la. As ossadas dos que tombaram, andam por lá, ainda, à flor da terra, e o tempo não apagou, ainda, os vestígios e os trágicos efeitos da luta.”

 

 

Esta nota escrita por Manuel Resende no livro “A ocupação do Dembos 1615-1913” é bem premonitória dos trágicos acontecimentos de 1961 e da guerra que se seguiu. Depois prolongou-se, numa guerra fratricida entre os movimentos de libertação até ao século XXI. É caso para dizer que, passados quase 100 anos, “as ossadas dos que tombaram, andam por lá, ainda, à flor da terra”.

publicado por Quimbanze às 08:48

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