Coordenação: João Matos Garcia
Colaboração: Arlindo de Sousa
João Cabral
Estabelecido pelo governador capitão general da província de Angola, António de Vasconcelos, os Portugueses ergueram em 1759 um forte de pedra, destinado a impedir o contrabando estrangeiro através da costa norte do Congo, do Ambriz e do Mossul.
“ Antonio de Vasconcellos saltou em terra na noite de 4 de Outubro de 1758, e tomou posse em 14 do dito mez, governando cinco annos, sete mezes, e vinte e hum dias. No primeiro conquistou a celebrada pedra de Encoge situada entre os dous poderozos dembos Ambuilla, e Ambuella, sem que algum delles disputasse a posse, e formando-se o novo prezidio se lhe deu o nome de S. Jozé do Encoge. Foi cabo desta expedição Francisco Manoel de Lira tenente de granadeiros, que lhe deo a primeira forma. He a tal pedra huma prodigioza obra da natureza, e dentro do seu recinto pode receber hum grande exercito. He também útil a sua posse ao nosso commercio pelo concurso e frequência das nações circunvizinhas, sebem o clima he o mais enfermo de todo este sertão.
Na província de Embaça avasallou aos dous potentados Molundo, e Quiangalla. Na de Encoge o dembo Quitexe.”
(" Catalogo dos governadores do Reino de Angola. Com huma previa noticia do principio da sua conquista, e do que nella obrarão os governadores dignos de memória."- Academia Real das Ciências 1826).
Como é referido, os dembos que ali exerciam maior influência, eram o Ambuíla e o Amboela; O dembo Ambuíla revoltou-se contra os portugueses e foi batido em 1765. Passado um quarto de século, isto é, em 1791 foram derrotados os Dembos Dambi-Angonga e Quitexi-Cambambi que passaram a prestar vassalagem ao rei de Portugal.
Pormenor de mapa com a indicação do Dembo Ambuíla e Dambi-Angonga
Completamente isolado atrás de uma barreira rochosa (Pedras do Encoge), o forte, de forma quadrada, com quatro baluartes pequenos, nos ângulos, era feito de pedra solta e ainda se encontrava em sofrível estado no fim do século XIX, ao contrário das restantes construções (residência do chefe, arrecadação, paiol, casa do guarda, etc.) que estavam em total ruína, incluindo as peças de artilharia, todas elas incapazes de fazerem um único tiro.
Nesta data a igreja, de pedra e cal, mas com tecto de palha ainda conservava as imagens de S. José e de Santo António.
Inicialmente protegida por uma centena de soldados que faziam uma ligação trimestral a Luanda, contava com um branco e 27 mestiços. Só que depois, talvez em consequência do marasmo do país provocado pelas Invasões Francesas primeiro, pela guerra civil mais tarde (a seguir à Revolução de 1820) e por outros momentos de grande instabilidade e crise nacional, entrou em profunda decadência. Depois de 1853 este forte não representava mais que um elemento simbólico da presença portuguesa.
Segundo Alfredo Sarmento (“Os sertões d'Africa (apontamentos de viagem)” publicado em 1880, F.A. da Silva, Lisboa) a fortaleza era “guarnecida por catorze soldados pretos, armados de espingardas de fuzil cheias de ferrugem e, pela maior parte quebradas”. Mas a decadência continuou a ponto de em 1907, João de Almeida (1873-1953), ao reconhecer a zona, da grandeza passada ter ali encontrado somente ruínas “e três soldados de segunda linha acocorados em volta de uma fogueira.” (DEMBOS pelo capitão Henrique Galvão, Lisboa, 1935, pág. 31).
Os únicos méritos da fortaleza eram, por um lado, o facto de ela se situar muito acima do paralelo 8º Sul, o qual concretiza a presença portuguesa numa zona que os ingleses pretendiam ser resnullius ; e, por outro lado, o facto de ela ser um posto avançado no caminho do Reino do Congo. De facto, os caminhos para o Encoge só eram transitáveis a Oeste (11 a 12 dias de Luanda) quando os Dembos ditos “vassalos” se não opunham à passagem.
Mapa de Angola – 1870 (observar a divisão administrativa – “Districtos” de Engoge, Colungo Alto, Ambaca, etc – se substituirmos o termo distrito por concelho teremos sensivelmente a divisão administrativa existente em 1894 como veremos mais à frente)
No fim do século XIX eram estes os dembos ou régulos “avassalados”, todos com nomes portugueses:
- Dembo Ambuíla, D. Álvaro Afonso Gonçalves. Nas terras da sua jurisdição contava para mais de 200 sanzalas e podia por em armas cerca de 10 000 homens. Pagou sempre dízimos de 500 fogos (dois escravos), apesar de nunca ter consentido que se fizesse o seu arrolamento.
- Dembo Nambuangongo, D. Mateus Ribeiro Afonso da Silva, equiparado em importância e poder ao anterior e parente do famoso Marquez do Mossulo, também aceitava pagar dois escravos como dízimo de 500 fogos.
- Dembo Quitexe, D. Francisco Joaquim de Oliveira, que pagava dízimo de 300 fogos e que, ao que consta, era pouco amigo dos Portugueses.
- Dembo Dambi Angola, D. Paulo dos Santos de Carvalho, um dos mais fieis aliados do Dembo Ambuíla.
- Dembo Cabonda Cacuhi, D. Francisco Sebastião Afonso da Silva.
- Dembo Muene Dando, D. Francisco Manuel, um dos que mais prestava serviço do presídio.
- Dembos Ambuelas, D. João e D. Manuel Afonso da Silva, Quicuengo, D. Manuel Silvestre; Canga Bendo, D. João Paulo; Muene Coxi, D. Sebastião Afonso da Silva; Quiadembe, D. Francisco de Sousa; Muene Lumba, D. Agostinho João; Maungo Mabuigi, D. Álvaro de Oliveira.
Os dembos não avassalados conservavam os nomes gentílicos, e estavam em hostilidade permanente com os portugueses, atacavam as caravanas e os dembos vassalos e eram, entre muitos outros:
Muaingi-agulongo, Pumba Sahi, Muene Huengo, Muene Cananga, Muene Quingimba, Congo-apaca, Muene Vungo, etc.
Todos estes dembos, os ditos avassalados e os independentes, podiam por em armas, de um momento para o outro, perto de cem mil homens aguerridos.
Verificamos, assim que na zona do actual Quitexe, os dembos (Quitexe, Dambi Angola, Ambuíla) eram considerados, desde há muito vassalos de Portugal, mas, muitas das vezes, mais por ausência de real autoridade portuguesa do que por verdadeira submissão.
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