Domingo, 18 de Abril de 2010

APONTAMENTOS PARA A HISTÓRIA DO QUITEXE III - S. JOSÉ DO ENCOGE

Coordenação: João Matos Garcia

 

Colaboração: Arlindo de Sousa  

                    João Cabral    

 

 

 

 

Estabelecido pelo governador capitão general da província de Angola, António de Vasconcelos, os Portugueses ergueram em 1759 um forte de pedra, destinado a impedir o contrabando estrangeiro através da costa norte do Congo, do Ambriz e do Mossul.

 

Antonio de Vasconcellos saltou em terra na noite de 4 de Outubro de 1758, e tomou posse em 14 do dito mez, governando cinco annos, sete mezes, e vinte e hum dias. No primeiro conquistou a celebrada pedra de Encoge situada entre os dous poderozos dembos Ambuilla, e Ambuella, sem que algum delles disputasse a posse, e formando-se o novo prezidio se lhe deu o nome de S. Jozé do Encoge. Foi cabo desta expedição Francisco Manoel de Lira tenente de granadeiros, que lhe deo a primeira forma. He a tal pedra huma prodigioza obra da natureza, e dentro do seu recinto pode receber hum grande exercito. He também útil a sua posse ao nosso commercio pelo concurso e frequência das nações circunvizinhas, sebem o clima he o mais enfermo de todo este sertão.

Na província de Embaça avasallou aos dous potentados Molundo, e Quiangalla. Na de Encoge o dembo Quitexe.”

(" Catalogo dos governadores do Reino de Angola. Com huma previa noticia do principio da sua conquista, e do que nella obrarão os governadores dignos de memória."- Academia Real das Ciências 1826).

 

Como é referido, os dembos que ali exerciam maior influência, eram o Ambuíla e o Amboela; O dembo Ambuíla revoltou-se contra os portugueses e foi batido em 1765. Passado um quarto de século, isto é, em 1791 foram derrotados os Dembos Dambi-Angonga e Quitexi-Cambambi que passaram a prestar vassalagem ao rei de Portugal.

 

 

Pormenor de mapa com a indicação do Dembo Ambuíla e Dambi-Angonga

 

Completamente isolado atrás de uma barreira rochosa (Pedras do Encoge), o forte, de forma quadrada, com quatro baluartes pequenos, nos ângulos, era feito de pedra solta e ainda se encontrava em sofrível estado no fim do século XIX, ao contrário das restantes construções (residência do chefe, arrecadação, paiol, casa do guarda, etc.) que estavam em total ruína, incluindo as peças de artilharia, todas elas incapazes de fazerem um único tiro.

 

 

Nesta data a igreja, de pedra e cal, mas com tecto de palha ainda conservava as imagens de S. José e de Santo António.

 

 

Inicialmente protegida por uma centena de soldados que faziam uma ligação trimestral a Luanda, contava com um branco e 27 mestiços. Só que depois, talvez em consequência do marasmo do país provocado pelas Invasões Francesas primeiro, pela guerra civil mais tarde (a seguir à Revolução de 1820) e por outros momentos de grande instabilidade e crise nacional, entrou em profunda decadência. Depois de 1853 este forte não representava mais que um elemento simbólico da presença portuguesa.

 

Segundo Alfredo Sarmento (“Os sertões d'Africa (apontamentos de viagem)” publicado em 1880, F.A. da Silva, Lisboa) a fortaleza era “guarnecida por catorze soldados pretos, armados de espingardas de fuzil cheias de ferrugem e, pela maior parte quebradas”. Mas a decadência continuou a ponto de em 1907, João de Almeida (1873-1953), ao reconhecer a zona, da grandeza passada ter ali encontrado somente ruínas “e três soldados de segunda linha acocorados em volta de uma fogueira.” (DEMBOS pelo capitão Henrique Galvão, Lisboa, 1935, pág. 31).

Os únicos méritos da fortaleza eram, por um lado, o facto de ela se situar muito acima do paralelo 8º Sul, o qual concretiza a presença portuguesa numa zona que os ingleses pretendiam ser resnullius ; e, por outro lado, o facto de ela ser um posto avançado no caminho do Reino do Congo. De facto, os caminhos para o Encoge só eram transitáveis a Oeste (11 a 12 dias de Luanda) quando os Dembos ditos “vassalos” se não opunham à passagem.

 

 

Mapa de Angola – 1870 (observar a divisão administrativa – “Districtos” de Engoge, Colungo Alto, Ambaca, etc – se substituirmos o termo distrito por concelho teremos sensivelmente a divisão administrativa existente em 1894 como veremos mais à frente)

 

 

 No fim do século XIX eram estes os dembos ou régulos “avassalados”, todos com nomes portugueses:

 

- Dembo Ambuíla, D. Álvaro Afonso Gonçalves. Nas terras da sua jurisdição contava para mais de 200 sanzalas e podia por em armas cerca de 10 000 homens. Pagou sempre dízimos de 500 fogos (dois escravos), apesar de nunca ter consentido que se fizesse o seu arrolamento.

 

- Dembo Nambuangongo, D. Mateus Ribeiro Afonso da Silva, equiparado em importância e poder ao anterior e parente do famoso Marquez do Mossulo, também aceitava pagar dois escravos como dízimo de 500 fogos.

 

- Dembo Quitexe, D. Francisco Joaquim de Oliveira, que pagava dízimo de 300 fogos e que, ao que consta, era pouco amigo dos Portugueses.

 

- Dembo Dambi Angola, D. Paulo dos Santos de Carvalho, um dos mais fieis aliados do Dembo Ambuíla.

 

- Dembo  Cabonda Cacuhi, D. Francisco Sebastião Afonso da Silva.

 

- Dembo Muene Dando, D. Francisco Manuel, um dos que mais prestava serviço do presídio.

 

- Dembos Ambuelas, D. João e D. Manuel Afonso da Silva, Quicuengo, D. Manuel Silvestre; Canga Bendo, D. João Paulo; Muene Coxi, D. Sebastião Afonso da Silva; Quiadembe, D. Francisco de Sousa; Muene Lumba, D. Agostinho João; Maungo Mabuigi, D. Álvaro de Oliveira.

 

 

Os dembos não avassalados conservavam os nomes gentílicos, e estavam em hostilidade permanente com os portugueses, atacavam as caravanas e os dembos vassalos e eram, entre muitos outros:

Muaingi-agulongo, Pumba Sahi, Muene Huengo, Muene Cananga, Muene Quingimba, Congo-apaca, Muene Vungo, etc.

Todos estes dembos, os ditos avassalados e os independentes, podiam por em armas, de um momento para o outro, perto de cem mil homens aguerridos.

 

Verificamos, assim que na zona do actual Quitexe, os dembos (Quitexe, Dambi Angola, Ambuíla) eram considerados, desde há muito vassalos de Portugal, mas, muitas das vezes, mais por ausência de real autoridade portuguesa do que por verdadeira submissão.

publicado por Quimbanze às 08:05

link do post | comentar | favorito

.OUTRAS PÁGINAS

.posts recentes

. Novo Plano Urbanístico do...

. Rui Rei 1955 - 2018

. Batalhão de Caçadores 3 e...

. Município de Quitexe nece...

. O Nosso Bondoso Director

. Associação da União dos N...

. Governador do Uíge emposs...

. Plano Urbanístico do Quit...

. Fotografias do Quitexe - ...

. 15 de Março - "Perderam-n...

.arquivos

. Abril 2018

. Março 2018

. Junho 2017

. Outubro 2016

. Setembro 2016

. Agosto 2015

. Julho 2015

. Novembro 2014

. Março 2014

. Janeiro 2014

. Setembro 2013

. Agosto 2013

. Julho 2013

. Junho 2013

. Maio 2013

. Abril 2013

. Março 2013

. Janeiro 2013

. Setembro 2012

. Julho 2012

. Junho 2012

. Maio 2012

. Abril 2012

. Março 2012

. Fevereiro 2012

. Janeiro 2012

. Novembro 2011

. Outubro 2011

. Setembro 2011

. Agosto 2011

. Julho 2011

. Junho 2011

. Maio 2011

. Abril 2011

. Fevereiro 2011

. Janeiro 2011

. Dezembro 2010

. Novembro 2010

. Outubro 2010

. Setembro 2010

. Julho 2010

. Junho 2010

. Maio 2010

. Abril 2010

. Março 2010

. Fevereiro 2010

. Janeiro 2010

. Dezembro 2009

. Novembro 2009

. Outubro 2009

. Setembro 2009

. Agosto 2009

. Julho 2009

. Junho 2009

. Maio 2009

. Abril 2009

. Março 2009

. Fevereiro 2009

. Janeiro 2009

. Dezembro 2008

. Novembro 2008

. Outubro 2008

. Setembro 2008

. Agosto 2008

. Julho 2008

. Junho 2008

. Maio 2008

. Abril 2008

. Março 2008

. Fevereiro 2008

. Janeiro 2008

. Dezembro 2007

. Novembro 2007

. Outubro 2007

. Setembro 2007

. Agosto 2007

. Julho 2007

. Junho 2007

. Maio 2007

.mais sobre mim

.Abril 2018

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30

.pesquisar

 

.subscrever feeds

Em destaque no SAPO Blogs
pub