Por cortesia de C. Viegas transcrevemos do seu blogue "Cavaleiros do Norte - Quitexe" esta crónica de Albino Capela, pároco do Quitexe até 1975
Recordo bem os motivos que me levaram de Luanda para o Quitexe. Seria uma espécie de degredo, mas não o foi. Desde logo, fiquei encarregado da Missão Católica do Quitexe, que compreendia a área do Quitexe, Aldeia Viçosa e Vista Alegre. Perante área tão grande, procurei organizar a minha actuação, do ponto de vista religioso. Celebraria sempre no Quitexe e depois iria a Aldeia Viçosa e Vista Alegre. Aqui começou o bom e o bonito. Para ir a Vista Alegre, era preciso escolta militar e eu desconhecia tal coisa. Cheguei ao controlo, em Aldeia Viçosa, e o soldado que estava de serviço disse-me que não podia passar e eu..., cheio de pena porque tinha trabalho em Vista Alegre, fui falar com o Comandante da Companhia e ele dispensou-me imediatamente um Unimog, ou dois, com muitos soldados. Ia no meu carro e pensava: "Sou uma pessoa importante, até vou com escolta"...
Depois aprendi a mentir (um padre a mentir!!!!...), como qualquer outro camionista, e lá passava livremente até Vista Alegre. Qual era a mentira? "Vou para a Fazenda Madeira e Marques...». Mas como todos os camionistas diziam que iam para lá, os soldados comentavam: "Madeira e Marques deve ser uma grande cidade".
Devo esclarecer que Madeira e Marques era (ainda é?) uma fazenda de café muito bem organizada e orientada pelo seu gerente, o Zé da Madeira e Marques. E agora as recordações vêm-me em atropelo: este Zé, grande amigo, bem como a família, veio a morrer em Luanda, em circunstâncias muito difíceis de esclarecer. Mais tarde, soube que a sua esposa estava em Alijó, funcionária dos CTT. Para ela, se me está a ler, um grande beijo do Padre Albino. Era assim que eu era conhecido.
Gostava imenso das pessoas do Quitexe e, quando digo Quitexe, quero dizer Quitexe, Aldeia Viçosa, Vista Alegre e Cambamba. Sempre fui muito bem recebido por toda a gente. Quando ia celebrar missa a uma sanzala, os nativos faziam uma festa: cantavam, dançavam, tocavam batuque. E nesse dia sabia-se que havia churrasco na casa do soba.
No Quitexe propriamente dito, na Vila do Quitexe, falava com toda a gente (era tão pouca!...) e mantenho ainda contactos com algumas pessoas que de lá vieram. Gostava imenso de receber na minha casa "os tropas" e lá falávamos de tudo. Era bons momentos, que não se podem esquecer. A todos estes momentos - contacto com as gentes, com os fazendeiros, como pessoal das fazendas, com os nativos das sanzalas, etc... - voltarei, se Deus quiser nos "próximos capítulos".
ALBINO CAPELA