Diz-se que “quem bebeu a água do Bengo, nunca mais esquece”. É bem verdade, pois ainda não encontrei ninguém que passasse por Angola e não recorde aquela terra com saudade. Eu tive o privilégio de nascer em Angola e crescer livre (qual bicho do mato) pelas terras do Quitexe e viver a odisseia da época das chuvas e das viagens a Luanda sem estradas asfaltadas.
Do Quitexe, lembro-me com saudade dos tempos de menino, em que ia de madrugada para a fazenda do meu pai, na estrada do Zalala, com o meu tio Henrique que andava a abrir a estrada no interior da fazenda com um tractor de lagartas da fazenda Guerra & Companhia. Ainda tenho vagas recordações da casa do tio Celestino onde eu nasci e do Quitexe com uma dezena de casas e ruas de terra.
Lembro-me da construção da igreja e da tarde em que o padre capuchinho (Genipero) ficou soterrado no areal de onde extraíam a areia para a construção. Os trabalhadores, na aflição de o socorrerem rasgaram-lhe a batina toda, que a minha mãe depois cozeu. Enquanto isso, a minha mãe emprestou umas roupas do meu pai ao padre Genipero. Recordo ainda a aflição do padre, com receio que o chefe de posto (António da Silva Barreiros, meu padrinho de crisma) o visse naquele estado. O chefe Barreiros era uma pessoa muito bem disposta e sempre na brincadeira com o padre. Imagine-se vê-lo naquela figura. De calças e camisa, segurando as calças com as mãos, pois não quis colocar o cinto (quem habitualmente só usava aquela batina até aos pés de um tecido castanho muito grosso e de capuz). Era mesmo hilariante. Sorte do padre que o chefe Barreiros não apareceu nesse dia pela casa dos meus pais.