Quinta-feira, 26 de Fevereiro de 2009

Histórias de militares - 1965

 

Do amigo José Lapa recebi estas duas histórias publicadas no jornal Facho do BART 786 no ano de 1965, que têm o Quitexe como pano de fundo. Na primeira glorifica-se a acção do exército português na pacificação da zona, esquecendo-se que só se ganha uma guerra subversiva impedindo que ela comece. A segunda é uma paródia, bem contada que nos faz lembrar as histórias dos grandes caçadores e outros mentirosos.

 

 

10 MESES DEPOIS
 
     A 11 de Junho de 1965, depois de longa e penosa viagem, o Batalhão chegou ao QUITEXE onde, hoje, completa 10 meses de estadia.
     Não estamos tão longe desse dia, que não possamos estabelecer um confronto, meditar um pouco e sentir a alegria de um trabalho duro, mas largamente compesador!Quando chegamos, o QUITEXE era uma terra triste que ensaiava finalmente, com base no esforço das Unidades que nos antecederam, o regresso à vida que conheceu antes dos dias fatídicos de 1961. A nossa presença trazia uma mensagem de fé, de confiança e boa vontade, que a "Vila do café" sentiu, aceitou e compreendeu. Tão evidentes era o nosso desejo de trabalhar, de levar o bom termo a missão que aqui nos trouxe, que houve entre a população civil uma não menos evidente vontade de colaborar. Assim, enquanto as Forças Armadas levaram, de dia e noite, a todos os recantos da sua ZA, uma presença firme mas isenta de ódio, na que foi "Vila Mártir" a população apagava, aqui e ali, os últimos vestígios de destruição, abria as portas que o terrorismo fechara e alindava a sua Vila! Essa conjugação de esforços, essa perfeita união entre militares e civis, tinha, forçosamente, de dar os seus frutos. A população nativa, refugiada nas matas sob a ameaça dos seus "libertadores",começa a acreditar nas Forças Armadas e, mais do que isso, sente que lhe oferecem incondicionalmente, a liberdade, o direito à vida que procurou, em vão, durante 5 anos de falsas promessas. Receoso, a princípio, apresenta-se um pequeno número que vai engrossando na medida em que, á mata, chegam notícias do acolhimento que lhe é dispensado.
     Voltam as Sanzalas a ladear a estrada para CARMONA, o capim é substituido pelas culturas indígenas e, ao domingo, já o QUITEXE nos oferece um ar de festa, nas cores garridas dos trajes e no barulhento e tradicional batuque que o nativo não dispensa.
      A Vila tem hoje, incontestávelmente, um aspecto mais limpo, mais cor, mais alegria, outra vida! Não levamos a nossa modestia ao ponto de não aceitarmos a parte importante que essa transformação se deve ao Batalhão de Artilharia 786. Antes, pelo contrário, a aceitamos, nos orgulhamos dela e sentimos que estes 10 meses de sacrifícios sem conta, hão-de constituir um dos periodos mais belos da nossa vida.
 
                                 J. Pedro
 
                                               (in Jornal Facho do BART 786 de Abril de 1966)
 
 
 
 
              A PACAÇA ERA BOI
 
 
        No passado dia 16, cerca das 22H30, sai para os lados de Aldeia Viçosa, em serviço de controle, um grupo de devotos de S. Humberto. ( Queriamos dizer secção de atiradores). A poucos metros do QUITEXE , a equipe de um Unimog que se atrasara, a fim de permitir uma melhor observação de certa zona, foi atacada por um vulto estranho. Estabeleceu-se a natural confusão, houve alarme geral! O "GMC", cozinheiro de profissão, garante tratar-se de um burro transportando dois sacos de couves para o mercado do dia seguinte! O cabo "Morteiraço" grita que é um elefante - aposta que lhe viu a tromba -!
        A 100 metros daquela aparição fantasmagórica, o Unimog pára. O seu condutor, um desempoeirado moço com 150 cm bem medidos, "descobre" que é afinal uma "feroz" pacaça que se aproxima, cautelosa, para os liquidar! E, sentido chegar o seu fim, encomendou a alma a Deus e pede a arma ao "GMC". O bicho avança, indiferente á confusão que reina a poucos passos. Avança mais uns metros, enquanto as suas "vítimas" sentem chegada a hora que marca o fim desta efémera passagem pela Terra! O Fernando empunha a G3, mas treme de tal modo que mal consegue segurá-la. A pacaça não interrompe a marcha. Porém, soa um tiro e o "Bolinhas" apercebe-se de que "aquilo" está carregado! A pacaça interrompe a marcha. Cai ! Estão salvos! Atiram mais uns "balásios", não vá o Diabo tecê-las, estes bichos são traiçoeiros! Agora sim, está morta! O medo desaparece, substituído agora por uma alegria enorme. Todos abraçam  o "Bolinhas", o seu salvador, e este sente que afinal não é só o nosso Major que mata pacaças! Enquanto  se fazem projectos para umas "Cucas" que hão-de regar as saborosas bifanas, aproximando-se da pacaça, abatida com tanta valentia. Mas o que isto? Ah! Ah! Que decepção! "Não é uma pacaça", diz o "Morteiraço". Pois não! Confirma o "GMC". É um boi do Pimenta desabafa o "Bolinhas". "Estou tramado"! E lá fica a tremer, amaldiçoando aquela hora do Diabo em que matou uma pacaça, que afinal era boi!
 
                              Zé João
 
 
                                           (in jornal Facho do BART 786 de Dezembro de 1966)
 
 

publicado por Quimbanze às 21:55

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