É com muito agrado que vamos recebendo notícias da reconstrução ou reabilitação de equipamentos um pouco por toda a Angola. Realçamos hoje a igreja do Quitexe que nos aparece de cara e corpo lavado, eu diria quase irreconhecível.
Anos 70
2005
2008 (foto pescada do blogue - Luis Fernando Jornalista)
A Missão dos Capuchinhos e a Igreja do Quitexe
( Do livro Quitexe 61 - Uma Tragédia Anunciada - João Nogueira Garcia)
A Missão dos Capuchinhos Italianos, em Camabatela, terá sido fundada no ano de 1947/48 como sede da Diocese de Ambaca da qual o Quitexe fazia parte. Essa data corresponde à minha chegada a Angola e, um ano depois, ao Quitexe. Num largo planalto junto à povoação de Camabatela, sede do concelho de Ambaca, foram por eles construídos enormes pavilhões e áreas residenciais, onde viviam dedicando o dia à oração, ao ensino do português, das artes e dos ofícios.
Tanto as missões católicas, como as protestantes eram apenas toleradas pela Administração, servindo de contraponto à dureza da Administração Colonial Portuguesa em relação, principalmente, aos jovens africanos. O confronto era permanente entre os estudos na missão e o arregimentar à força para a escolha do café nas roças, na altura da colheita.
Só por volta do ano de 1951/52, eles vêm tentar a sua implantação no Quitexe onde predominam as igrejas protestantes inglesas e americanas. Aos poucos vão criando pequenos núcleos, onde vão instalando os seus catequistas africanos.
Nessa altura, a minha casa é uma espécie de abrigo, onde os viandantes aportam para mata-bicharem (pequeno almoço de garfo) ou almoçarem, situação que vou tolerando tendo em conta que não há pensão no Quitexe. Comem e bebem de borla mas, quando por vezes vou a Luanda, esses comensais passam por mim e não me conhecem. Quando casei, em 1951, resolvi, por uma questão de intimidade, acabar com este apoio, exceptuando, claro, os fazendeiros e outras pessoas amigas que tinha muito prazer em receber. Entre eles havia dois padres italianos dos Capuchinhos que todas as semanas vinham um dia ao Quitexe, em serviço missionário. Cá mata-bichavam e almoçavam.
Os anos correm e, entretanto a população branca aumenta e em cada branco era suposto estar um católico. Tendo em conta que o Quitexe se desenvolvia cada vez mais resolvem, para intensificar a acção missionária, construir uma igreja. Lá andam de comerciante em comerciante e de fazenda em fazenda, angariando fundos para ajudar a construção. Eu, como tinha a cerâmica sou abordado para arranjar o tijolo “Eu não sei se vos posso fornecer o tijolo todo de borla, pois o que pretendeis fazer é uma igreja muito grande, mas depois se verá...” .
Nesse tempo já nada me ligava à igreja católica, mas apreciava a acção evangélica dos missionários, fossem eles católicos ou protestantes. Do catolicismo eu apenas conservava os valores dos princípios morais do cristianismo. A igreja lá se construiu num alto sobranceiro à povoação logo a seguir à minha casa comercial.
Entretanto, os dois capuchinhos começaram a ser solicitados pela nossa vizinha Dª. Helena para também irem comer a sua casa. Como era uma senhora muito católica, eles sentiam-se mais à vontade e, agora raramente apareciam para comer, mas passavam sempre para nos cumprimentar.
A igreja foi inaugurada com pompa e circunstância. Mais tarde, os padres apareceram para pagar parte do tijolo, pois reconheciam que, efectivamente foi uma quantidade muito grande. Eu já tinha decidido oferecer o tijolo todo. Ficaram muito gratos.
Apenas lamentava que os capuchinhos fossem todos italianos. Por onde andavam os missionários portugueses? Talvez em Itália, no Vaticano?