Publicamos, hoje, o testemunho de Manuel Miguez Garcia sobre as investigações que fez, nos anos 60, para tentar encontrar o local da batalha de Ambuíla:
Nos já longínquos anos de 1963/64 por várias vezes me lancei em busca de vestígios da batalha justamente nas terras do Luege, mas o serviço chamava-me para outras andanças e o capim era mais alto do que eu. Não encontrei nada.
Falava-se, nessa altura, em Nova Caipemba, do administrador encarregado de implantar o monumento aos mortos dos dois lados. O homem não se incumbiu decentemente da tarefa: ou não conhecia o local ou as condições etílicas não lho permitiram.
Ao longo destes anos só o então coronel Rebocho Vaz me deu umas dicas sobre a localização, que aliás transcreve num livro que por aí tenho: a uns quilómetros a norte do local onde veio a implantar-se a grande fazenda de Zalala. Zalala era um sítio que este governador do Uíge, depois governador em Luanda, conhecia como as suas mãos. Creio que cheguei a vasculhar no local exacto, a acreditar nas referências do coronel Rebocho Vaz, ou que andei lá muito por perto.
Mapa russo do vale do rio Luege entre as serras do Ambuíla e Pingano (cujo maciço se prolonga para norte na serra Cananga). No canto superior esquerdo está assinalada a fazenda Zalala e no canto inferior direito a vila do Quitexe. A linha lilás pretende demarcar os limites do antigo posto administrativo do Quitexe.
Sem êxito, perguntei pormenores para Luanda e consultei o Pelessier que me respondeu tratar-se de um período histórico que ele não dominava bem. Aproveitou para me recomendar os livros, alguns dos quais eu já tinha. Do que li dele, só encontrei uma referência à batalha e vagamente ao local. Cheguei a encontrar-me com ele no Bembe, mas nessa altura ambos estávamos a tentear a história daquele Mundo - ele conhecia a região bem pior do que eu.
Numa outra ocasião conversei com o Prof. Ilídio do Amaral, conhecedor da região, geógrafo e professor universitário em Lisboa, nascido em Angola. Um irmão do Prof. Ilídio tinha, aliás, uma fazenda na zona, se bem me lembro, no Quijoão, perto do Encoje. Na altura foi elaborado, pelo professor, um estudo da zona calcária, incluindo a Mbanza Quina e o Dundo. A sua "Contribuição para o conhecimento do "karst" ou carso de Nova Caipemba, no Noroeste de Angola" foi publicada em 1973 na revista Garcia de Orta.
O autor e os colegas de outras áreas Jorge Dias, Orlando Ribeiro e Mariano Feio tinham subido à serra da Cananga, na ocasião ainda habitada por um mosaico de povos que meses depois a deixaram, dispersando-se pelas terras para lá da fronteira, a norte, fugidos aos ódios e ressentimentos e aos receios da repressão.
Em Setembro de 1960, o grupo de cientistas foi recebido em plena serra com honrarias e gentilezas. Contra todas as expectativas - até cerveja havia, fria, no ponto certo, que era uma delícia - confidenciou-me o Prof. Ilídio do Amaral que orientava a tese de doutoramento da minha Mulher, também geógrafa.
O terreno estava a jeito para os estudos do geógrafo. Na companhia do irmão, excelente conhecedor daquela zona, não lhe deve ter sido difícil chegar à vista dos lapiares, das caneluras, dos vales cegos e dos vales secos, avistar boqueirões e algares, dolinas e poljes, arcos e pontes de pedra, adivinhar onde havia chaminés e abismos subterrâneos, galerias e cavernas. A vegetação lançava raízes onde podia e dificultava a progressão, que em muitos lados era sempre precedida do desbaste a golpes de catana. Aqui a minha descrição anda mais para os lados da M'Banza Kina, que o Prof. Ilídio chegou a visitar nesse ano de 1960.
O Prof. Orlando Ribeiro, nos Destinos do Ultramar, formado por um conjunto de artigos, publicados em Setembro e Outubro de 1974 no Diário de Notícias, refere-se a uma povoação perto de Nova Caipemba, "distante e alcandorada, apenas acessível por veredas de pé posto, onde a maneira de viver africana se teria conservado no isolamento". Ao fim de três estiradas horas de marcha, os visitantes alcançaram o lugar, mas a expectativa foi desmentida, a começar por os homens falarem geralmente português, que não aprenderam na escola que não existia mas na prática da vida. A Prof. Margot Dias, que fazia parte do grupo, não se terá deliciado com a subida à Cananga.
Manuel Miguez Garcia
Mapa do Quitexe da autoria de João Nogueira Garcia. A Noroeste os locais onde se terão encontrado referências à batalha de Ambuíla - Fazendas Zalala e Alegria e sanzala Mongage
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