Terça-feira, 30 de Junho de 2009
Do António Guerra recebemos mais um naco de prosa delicioso sobre a história da sua infância no Quitexe. Transcrevo, também parte da sua mensagem, que é, no fundo, um pedido de mais participação ao pessoal que, na meninice, comeu as mangas e pitangas daquela terra.
Como o material sobre o Quitexe começa a faltar, junto envio mais uma das minhas recordações.
Pena que mais ninguém se lembre de nada.
O que é feito da Nônô (Maria Onorinda Gaspar Ramos)?
E a malta da família Manda Fama?
E o António Rei?
Todos eles andaram na escola e devem lembrar-se de alguma coisa.
Eu da minha parte penso continuar enquanto tiver alguma coisa para partilhar.
Agora é que a minha professora vai dar por bem empregues as palmadas que me deu...
Problema resolvido
O mote sobre o “menino” foi dado no episódio da caçada ao porco. O que se vai seguindo, não foge muito do rapaz que eu era e da maneira livre e segura como fui criado. Proponho-me, hoje, falar da pessoa, penso eu que a única, que me conseguia “domesticar”, a professora D. Lucília Barreiros.
Com sete anos, entrei para a escola e, como no Quitexe não havia propriamente uma escola, um espaço físico com esse nome, as aulas eram dadas num salão do posto administrativo. O nosso professor, de quem tenho uma lembrança muito vaga era um senhor já bastante entrado na idade e que tinha duas características interessantíssimas. Tinha alguns dentes estragados e era muito guloso. Como àquela altura já todos tínhamos tirado o curso de malandragem, depois do intervalo não tínhamos aula, pois o lanche dele era quase sempre pão com goiabada que lhe provocava uma dor de dentes daquelas. Quando o lanche variava, algum de nós se incumbia de dar um doce ao senhor. Eu, tinha a tarefa facilitada, pois com relativa facilidade retirava da loja dos meus pais alguns rebuçados, que inocentemente deixava sobre a carteira.
Tivemos depois como professora (por pouco tempo) uma senhora que morava na rua de cima, que era esposa de um senhor chamado Pirão.
Entretanto, foi construída a escola do Quitexe e foi lá colocada a D. Lucília Barreiros, que é sem dúvida nenhuma a professora que mais recordações me deixou, quer pela amizade que unia as nossas famílias, quer como professora e as “galhetas” com que me presenteava.
A escola do Quitexe
A D. Lucília usava um anel, um famoso “cachucho” cravejado de pequenas pedras coloridas. Para além de vistoso e talvez valioso, tinha uma função ligada à profissão. Onde ele assentasse era certo e sabido que se “abriam as mentes”. É que as chapadas eram sempre dadas com as costas das mãos.
Eu, pela minha parte, todos os dias levava… mas eram merecidas.
Como quando saía da escola, todo o tempo era pouco para brincar, o tempo era curto e o Sol punha-se cedo. Fazia, então e apenas aqueles TPC em que não tinha volta a dar, como por exemplo cópias e contas. Assim que os aprontava, corria para a brincadeira e deixava para fazer de manhã cedo os problemas de um famoso livro de problemas, o 1111, que me valia sempre o “lembrete” de que eu andava mal nos problemas.
Levantava-me com o nascer do sol, fechava-me na casa de banho, abria a janela e no parapeito, para aproveitar a luz do sol nascente (só havia electricidade até às 23 horas) preparava-me para resolver os problemas segundo um método bastante rápido que eu tinha desenvolvido e que me deixava bastante tempo livre para brincar e pensar noutras aventuras.
Começava por ler “atentamente” o problema, quero dizer, a pergunta do problema. Por exemplo: “quantos quilos de arroz”… já não lia mais nada e respondia: 3 quilos de arroz. Problema resolvido, passemos ao seguinte.
“Quantas laranjas”… 12 laranjas. Venha o terceiro.
É claro que ninguém sabia do estranho método por mim desenvolvido e como os problemas estavam todos errados, lá era brindado com um bom par de galhetas, com umas chamadas de atenção para treinar mais os problemas, mas no fundo era um rapaz muito aplicado porque os trabalhos iam todos feitos.
Mais tarde abriu um colégio no Quitexe, propriedade do padre Antunes (se a memória não me atraiçoa) e que também tinha um colégio no Uige. Na 4ª classe, eu fui para o colégio, mas a D. Lucília comparada com o dito padre era a santidade em pessoa. O padre quando começava a “tocar o bailinho mandado” corria a sala toda à pancada. Era tanta a porrada, que até chegava a ter saudades das galhetas da D. Lucília.
Os intervalos eram bem mais agradáveis. O pessoal da escola tinha, à mão de semear, as mangueiras e pitangueiras da administração para se banquetearem. Os do colégio não tinham nada, pois este funcionava numa casa alugada próximo da casa do sr. José Guerreiro. Mas a solução do problema foi fácil (mais fácil do que os do 1111). Os do colégio iam roubar as mangas da escola. A partir daí e com fartura de “munições” de parte a parte, começava a batalha campal de caroços de mangas entre escola e colégio. As famosas batas brancas haviam de ficar bonitas! Isso era problema para as mães resolverem. Não me lembro de ser castigado por isso. Mas qual boullying, qual drogas, nós éramos saudavelmente activos e ar puro era o que não nos faltava.
Agora, pensando melhor, só não fui médico (como o meu pai tanto sonhava) por causa desta pedagogia activa com que fui brindado logo no início da escolaridade.
Domingo, 21 de Junho de 2009
Nesta II parte, proponho-me reviver a infância que vivi no Quitexe, até aos meus 10 anos. Se não toda a infância, alguns dos episódios que mostram como era diferente a vivência de um menino do mato, criado à solta entre a natureza e as gentes.
Estava longe de ser um menino modelo, mas fui muito feliz, muito livre…
Apelo a que todos os que visitam este blog e que passaram pelo Quitexe que escrevam as suas vivências ou o seu sentir de adultos. Será uma mais valia, não para a história da humanidade, mas para os que nos são próximos e para que se entenda melhor do que falamos quando falamos de África.
CAÇADA AO PORCO
Desde sempre me recordo de me levantar bastante cedo para as brincadeiras num Quitexe em crescimento. Com sete anos o meu pai deu-me uma espingarda de pressão de ar com que eu andava sempre aos tiros à passarada. Era mais o chumbo que eu espalhava do que os pássaros caçados.
Com 8 ou 9 anos, o António Figueiredo Antunes (filho da D. Alice e do Sr. Antunes do talho), era o meu companheiro de brincadeiras e aventuras, quer pela proximidade de idades, quer porque durante algum tempo eles viveram nos anexos de casa dos meus pais, onde também funcionou o talho.
E foi quando eles ainda viviam nos nossos anexos que empreendemos outra das nossas aventuras.
Como víamos que os adultos volta e meia saíam para a caça, resolvemos armar-nos em grandes caçadores e combinámos uma caçada.
O Antunes iria “roubar” uma espingarda do pai (uma flauber de catuchos de 12 ou 14 milímetros, não me lembro bem) e eu iria “roubar “ a pistola 6,35 mm do meu pai.
À noite, antes dos meus pais se irem deitar, fui ao quarto deles, tirei a pistola e escondi-a numa caixa de sapatos. Levei-a para o meu quarto sem que ninguém desse conta do sucedido.
Era ainda de madrugada (como de costume, eu levantava-me de madrugada, ou para “aprontar” ou para fazer os famosos TPC) e lá nos encontrámos os dois ao portão da minha casa. Lá vamos nós confiantes que a caçada seria boa, como sempre era nas terras fartas de Angola.
Saímos pelas traseiras de minha casa em direcção a um bananal que havia ao fundo dos anexos, entre a casa dos meus pais e o morro da igreja. Foi aí que encontrámos uns pastores do gado do Sr. Antunes (que se aqueciam junto de uma fogueira) e ficámos com eles à conversa. É claro que não se sentiam nada à vontade de ver dois miúdos armados ali àquela hora (ainda era escuro).
Nisto surge por ali um leitão e o amigo Antunes nem pensou duas vezes e vai de chumbo em cima do bicho que fugiu a grunhir por ali fora. Eu nem sequer tive tempo de disparar, que frustração!
Sem que nós déssemos conta, o pastor mandou avisar os nossos pais. Passados uns instantes aparece de novo o tal leitão e o Antunes fez novo tiro para o bicho que uma vez mais se recusou a morrer ali e fugiu a bom fugir.
Como começava a clarear resolvemos regressar a casa, pois o pessoal levantava-se com o nascer do sol e nós não queríamos ser agarrados. Pensávamos continuar as nossas caçadas noutros dias, se aquele nos corresse bem.
Quando nos aproximávamos de minha casa, ….. Oh desgraça! Tínhamos uma comissão de recepção à nossa espera. Os meus pais, os pais do Antunes e a dona do leitão que era uma vizinha nossa, não me recordo o nome, mas vivia na casa do sr. Ricardo Gaspar, próximo da casa do tio Celestino.
É que entretanto o dito leitão que se tinha recusado a morrer no mato, foi morrer ao curral que lhe pertencia.
É claro que fomos imediatamente desarmados e brindados com uma surra tremenda.
Eu da minha parte fiquei bastante aborrecido, pois além de desarmado e humilhado, não dei nenhum tiro, mas serviu-me de emenda. Pelo menos nunca mais tirei a pistola do meu pai… até chegarmos a Luanda. Mas essa foi outra história ……
Sábado, 13 de Junho de 2009
Para comemorar o Eclipse Total do Sol foi emitido este belíssimo envelope com o respecivo selo em 21\06\2001
Uíge - Oitenta mil crianças das escolas do ensino primário de oito dos 16 municípios da província do Uíge beneficiam desde hoje, quarta-feira, de merenda escolar, relançado pelo governador da província, Mawete João Baptista.
Segundo o director provincial do Uíge da Educação, Maculu Valentim Afonso, o programa abrange na primeira fase crianças do ensino primário dos municípios do Uíge, Negage, Songo, Quitexe, Bungo, Púri, Sanza Pombo e Damba.
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Terça-feira, 9 de Junho de 2009
Uíge - O ministro do Urbanismo e Habitação, José Ferreira, está desde hoje, quinta-feira, na província do Uíge, com o objectivo de capacitar e transmitir a todos administradores municipais e membros do governo local conhecimentos com vista a permitir o acompanhamento das reservas fundiárias.
José Ferreira faz-se acompanhar de uma equipa técnica do pelouro, que está orientar o seminário sob o lema "programa de integração de reservas fundiárias e de promoção de habitação de interesse social" , com a duração de dois dias.
A vice-governadora do Uíge para a esfera social, Piedade Samuel Hebo, que abriu o seminário em representação do governador provincial, Mawete João Baptista, informou que na província existem reservas fundiárias nos municípios do Negage, Quitexe e Uíge.
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Uíge – A direcção provincial do Comércio, Hotelaria e Turismo no Uíge leva a cabo, desde Janeiro último, um trabalho metodológico junto dos agentes económicos do sector, na província, com vista à mudança de comportamento sobre as actividade comercial na região.
O director provincial do Comércio, Hotelaria e Turismo do Uíge, Abraão Laurindo da Silva, disse hoje (terça-feira), em declarações à Angop, que o sector traçou um programa com o objectivo de trabalhar com os agentes económicos locais, no sentido de incrementar a sua actividade, em prol do desenvolvimento da província.
“Nós saímos de uma guerra e o comércio esteve paralisado. Agora com a paz, novos desafios se despontam e pensamos que chegou o momento de começarmos a definir as formas de exercer o trabalho de comércio”, frisou.
Revelou ainda que especialistas do sector vão passar em todos municípios da província, tendo já trabalhado nas circunscrições de Negage, Quitexe, Púri e Sanza Pombo.
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