Domingo, 10 de Agosto de 2008
Bar Morais
Lembro-me do Sr. Morais (para os amigos apenas Morais). O estabelecimento dele em 1961-1963 ficava na esquina das ruas que conduziam: uma à estrada que levava a Aldeia Viçosa, Vista Alegre e Luanda; a outra conduzia à pista de aviação do Quitexe.
Quando eu lá estive, os vidros das montras, partidos na sequência dos acontecimentos de 15 de Março de 1961, ainda não tinham sido repostos.
O Morais era gordo e gostava de fazer alarde da sua qualidade de comilão. Se calhar era só conversa para todos nos rirmos. Contava muitas histórias sobre as suas comezainas.
Uma que ele gostava muito contar era a dos 500 escudos. Vou tentar contá-la em poucas palavras. Quando ele veio da metrópole, desembarcou em Luanda e instalou-se numa pensão daquela cidade. Como comilão que dizia ser, muito honestamente avisou logo o dono da pensão que ele, Morais, gostava de comer bem.
A resposta do dono da pensão foi que não havia problema. Podia comer à vontade e não pagaria mais por isso. Feito o contrato, passaram-se dois, três, quatro dias, uma semana. O dono da pensão começou a constatar que o Morais comia de facto muito. E que assim não podia ser. Avisou o Morais de que, a comer assim, no fim do mês tinha que pagar mais que os outros comensais.
O dono da pensão e o seu comensal acordaram em novo preço e o Morais, claro, continuou a satisfazer o seu enorme apetite. Repetia vezes sem conta. De tal maneira que o dono da pensão, ao ver a vida a andar par trás, abordou de novo o Morais e disse-lhe: meu amigo, o senhor é uma pessoa simpática, mas come muito. Desculpe, mas tem de arranjar uma outra pensão. Olhe, não me paga nada e ainda lhe dou 500 escudos para se ir embora.
O Morais, Deus o tenha em paz (constou-me que já morreu), radiante, depois de ter comido quase um mês à borla e à tripa forra, pegou nos 500 escudos e mudou de pensão. É evidente que o fim da história era festejado com muitos comentários de grande vivacidade e estrondosas risadas.
O Morais, um verdadeiro ícone do Quitexe, era de uma enorme simpatia. Ao contar esta história, pretendo deste modo simples honrar-lhe a memória.
Comentários
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De Jorge Santos a 8 de Agosto de 2008 às 18:17
Gostaria aqui de cumprimentar, e felicitar o Sr. Professor Arlindo de Sousa, pelos belissimos testemunhos que aqui nos faz chegar, sobre factos, pessoas e acontecimentos que a todos nós que temos um laço umbilical ligado ao Quitexe , nos delicia.
Esta estória " do amigo Morais que aqui nos conta, fez-me recordar juntamente com os meus Pais, momentos ilariantes que passàmos com este grande ser Humano, que foi o Sr. Morais. O meu Pai conhecia a estória " dos 500 Escudos... O amigo Morais para além de um grande amigo da familia , era visita frequente da Fazenda Guerra & Cia. Um dia, numa dessas visitas, o amigo Morais ainda não tinha jantado. A minha Mãe, modéstia à parte, sempre teve um bom dedo na cozinha, e naquele dia em casa havia uma sopa de feijão e outros ingredientes, à qual o amigo Morais não soube resistir. Foi o 1º prato de sopa cheio até transbordar, foi o 2º, foi o 3º até ao 8º prato. Foram 8 pratos de sopa que o amigo Morais virou de uma assentada. Como devem calcular, a panela ficou vazia... Foi uma risada geral para todos.
Não podia deixar de partilhar com voçês, tambem esta maravilhosa estória " do AMIGO MORAIS.
Um abraço ao Sr. Professor, e a todos os amigos do Quitexe .
De Arlindo de Sousa a 8 de Agosto de 2008 às 23:07
Amigo Jorge Santos,
Fico-lhe muito grato pelo seu comentário. É a confirmação de que as qualidades humanas do Sr. Morais eram realmente extraordinárias. Cativavam todos os que eram bafejados pela sorte de o conhecer. Entre muitas outras pessoas, estou convencido de que a maioria dos portugueses, que por razões históricas passaram pelo Quitexe, deve ainda recordar com o maior carinho e respeito a figura comunicativa e alegre do amigo Morais. Sempre irradiando humanidade e boa disposição.
Pela sua mensagem, deduzo, não sei se correctamente, que o amigo Jorge Santos pertence à Família Guerra. Quem não se lembra dos Guerras e do seu dinamismo e importância no desenvolvimento do Quitexe e das suas gentes. Já lá vão quase cinquenta anos, mas na minha mente ainda permanece bem viva a ideia de que eram pessoas de trabalho e de muita acção. Qualidades que naturalmente suscitavam a maior consideração de todos. Inclusive das autoridades administrativas da época.
Termino, fazendo votos para que este espaço, tão bem orientado pelo Sr. João Garcia, possa ser cada vez mais um sítio de encontro autenticamente fraterno. Sempre valorizando a imaterialidade que inequivocamente nos liga ao universo físico e humano do Quitexe. Assim, e no âmbito desta preocupação essencialmente humana, sugiro que ignoremos os títulos académicos ou outros e nos tratemos apenas pelo nome de baptismo.
Para o amigo Jorge Santos e para todos os outros amigos, um grande abraço de,
Arlindo de Sousa
De Jorge Santos a 9 de Agosto de 2008 às 00:48
Amigo Arlindo de Sousa.
Quero tambem agradecer a suas palavras, em resposta ao meu comentário.
Naquela terra, realmente antes dos titulos académicos, valorizavam-se as pessoas pelas suas qualidades humanas. O relacionamento entre as pessoas, era de uma correcção e lealdade sem limites, o que levava a que as classes sociais se diluissem num todo, e se vivesse em saudável convivência.
Amigo Arlindo, de facto não pertencemos à familia Guerra. O meu Pai era Encarregado geral da Fazenda Guerra & Cia.. O sr. Ramos era sim representante da familia Guerra, e Gerente geral da Firma.
O meu Pai tambem lá passou o trágico 15 de Março de 61. Estes HOMENS foram de uma coragem extraordinária, perante tanta tragédia a sua volta. Pelo que li nos seus comentários, o amigo Arlindo tambem atravessou esta fase de 61. Sabe bem o que por lá se passou...
Um abraço para si, e toda a malta do Quitexe...
Continuando a falar de Aldeia Viçosa, disse na minha última mensagem que o Posto Administrativo daquela área administrativa teve como primeiros funcionários, eu próprio (durante uns cinco ou seis meses), então Aspirante Interino do Quadro Administrativo com 18 anos de idade, o Chefe de Posto António Augusto Ribeiro França e o cipaio 1.º Cabo Paulino.
O Chefe de Posto António Augusto Ribeiro França era um ex-seminarista, que, depois de ter servido como sargento do exército em Macau, entrou no quadro Administrativo de Angola. Escrevia muito bem. Fazia relatórios notáveis. E mais notáveis ainda quando já estava com uns uísques a mais.
Logo a seguir a 15 de Março de 1961, o Chefe de Posto França acompanhou a coluna militar que participou na chamada arrancada do Terreiro. Três dias e três noites sem dormir. Houve vários militares mortos. Eram árvores a ser derrubadas à frente e árvores a ser derrubadas atrás para encurralar a coluna. O cansaço era de tal ordem que, quando havia um ataque nocturno, os graduados tinha de andar a acordar os soldados que ficavam no meio do capim a dormir. Completamente esgotados.
O Paulino acompanhou sempre o Chefe França. Apesar de armado com uma velha Enfield 7.7 mm já sem estrias, o Paulino metia uma bala onde queria. Razão porque nunca tínhamos falta de carne de caça no posto. Era um belíssimo companheiro. Também andou muito comigo. Sobretudo quando íamos de Aldeia Viçosa à Pumbassai (via Entre Rios) buscar víveres. Recentemente, ouvi dizer que o Paulino posteriormente aderiu ao MPLA.
Eu conheci o Cabo Paulino e o Chefe António Augusto Ribeiro França em Salazar (actual Ndalatando). Em Setembro de 1961, tomei posse como Aspirante Interino do Quadro Administrativo na capital do Quanza Norte. O chefe França e o Paulino apareceram lá para receberem instruções do governador do distrito, Major Silva Sebastião, com vista à instalação do Posto Administrativo de Aldeia Viçosa.
Durante os dias que ali tivemos de convívio, talvez porque eu também era (e sou) um antigo seminarista estabeleceu-se uma certa empatia entre nós. De tal modo que, apesar de eu estar formalmente colocado na Administração do Concelho do Dange, no Quitexe, o Chefe França pediu ao Governador para me deixar ir com ele para Aldeia Viçosa. O governador autorizou e passados dois ou três dias fomos os três para Aldeia Viçosa. A protecção militar era, na altura, garantida por um pelotão (em regime de rotação) da Companhia de Caçadores 89, comandada pelo capitão Sampaio Nunes e sediada no Quitexe.
Arlindo de Sousa
Quarta-feira, 6 de Agosto de 2008
Estas notas, escritas de memória, são de um momento da minha vida no Quitexe (cerca de dois anos) muito marcante. Suscitadas pelas imagens e textos do blogue. Estive lá entre os 18 anos e os 21 anos. Uma fase fantástica da vida. Como tenho saudades daquele tempo! Fui funcionário administrativo (inicialmente, Aspirante e depois escriturário) da Administração do Concelho do Dange, no Quitexe, de 1961 a 1963. Altura em que, de acordo com as leis do recenseamento, fui cumprir o Serviço Militar no CICA – Grupo de Artilharia de Luanda.
Depois do Serviço militar de quarenta e dois meses (quase quatro anos), ainda voltei um para o quadro administrativo. Mas só lá estive um mês. Eu já não era o mesmo. O Exército mudou-me radicalmente. Já não aceitava aquela pequenez de espírito e a injustiça que caracterizavam a maior parte do dia-a-dia do Quadro Administrativo. Nem aquela subordinação quase feudal aos chamados superiores.
Pedi a exoneração. Como não ma queriam dar, abandonei puramente e simplesmente os Serviços.
Depois de um primeiro requerimento, perante a iminência de ser de novo enviado para o mato, como era costume designar-se o interior de Angola, e pelas razões acima apontadas, fiz um novo requerimento e pedi a exoneração a partir de um dia por mim próprio estipulado. Na ausência de qualquer deferimento, abandonei o lugar.
Mais tarde, já eu estava numa firma em Luanda (Armazéns Martero, Lda., na rua Pereira Forjaz, mesmo em frente à firma Mota & Cª.) a trabalhar e a ganhar o triplo do que ganhava no Quadro Administrativo, recebi então uma carta para ir À Direcção Provincial dos Serviços de Administração Civil fazer a rescisão amigável. Fui lá, assinei, eles assinaram e ficou o problema legalmente resolvido.
Ainda bem que tomei aquela resolução. Em 1969, vim a Portugal, que já não via há 13 anos, com a intenção de retornar. Fiquei aqui, empreguei-me, voltei aos estudos, tirei um curso universitário e fiz o percurso como professor. É a vida, cujos imprevistos acabam também muitas vezes por nos premiar.
Mas voltemos ao Quitexe:
Não cheguei a conhecer nem a trabalhar com o Administrador Matos. Apenas trabalhei primeiramente com o Administrador Rodrigo José Baião e depois com o Administrador Meneses e Pereira. Meneses e Pereira veio de Moçamedes – cidade onde se dizia existirem as moças mais lindas de Angola. De facto, as três filhas que ele tinha (também tinha um filho), salvo erro nascidas em Moçamedes, eram muito lindas.
O Administrador Rodrigo José Baião, antes de 15 de Março de 1961, era Chefe de Posto na localidade de "31 de Janeiro". Com o desfecho dos trágicos acontecimentos de 15 de Março, parece ter-se distinguido na defesa da área da sua jurisdição.
Rodrigo José Baião foi por isso louvado e promovido a Administrador da Administração do Concelho do Dange no Quitexe, entretanto criada e que abrangia: o Quitexe, o posto de Cambamba e os postos administrativos de Aldeia Viçosa e Vista Alegre, entretanto criados. Antes de 15 de Março de 1961, Aldeia Viçosa e Vista Alegre eram meras povoações comerciais.
Cambamba, antes de 15 de Março de 1961, se me não engano, já era posto administrativo. Então chefiado pelo Chefe de Posto Arrobas Ferro, que, tendo-se, também, distinguido, foi promovido a Chefe da Repartição Distrital de Administração Civil do Quanza-Norte, Salazar (actual, Ndalatando).
Penso que Arrobas Ferro, quando Chefe de Posto de Cambamba, em 15 de Março de 1961 safou-se devido à fidelidade e coragem do cipaio Paulino, que, por isso, foi promovido a Cabo de Cipaios pelo, na altura, Governador Civil do Quanza Norte, Major Silva Sebastião. Hei-de voltar a falar do Paulino. Onde estará ele hoje?
O Posto Administrativo de Cambamba teve como primeiro Chefe de Posto, após 15 de Março de 1961, Largo Antunes, um Chefe de Posto, vindo do Sul de Angola. Salvo erro, Quibala.
O Posto Administrativo da Vista Alegre teve como primeiro Chefe de Posto Guedes Vaz.
E o Posto Administrativo de Aldeia Viçosa teve como primeiros funcionários, eu próprio (durante uns cinco ou seis meses), então Aspirante Interino do Quadro Administrativo, com 18 anos de idade, e o Chefe de Posto António Augusto Ribeiro França. Onde estará hoje o António Augusto Ribeiro França?
Na próxima mensagem explicarei como é que eu estive cinco ou seis meses em Aldeia Viçosa. Entre Setembro de 1961 e talvez Fevereiro de 1962.
Arlindo de Sousa
Domingo, 3 de Agosto de 2008
Estas são as últimas fotografias enviadas por Rui Rei, nesta nova etapa da sua vida em terras angolanas.
Que tudo continue bem, aí por Sanza Pombo!
Nos últimos dias têm sido escritos diversos comentários . Como os comentários quase se perdem no meio dos textos vou trancrevê-los para aqui de modo a terem mais notoriedade.
De Arlindo de Sousa a 31 de Julho de 2008 às 18:35
Este senhor Rui Rei será filho do senhor Jaime Gonçalves Rei (parece-me que é este o nome correcto) que eu ainda conheci no Quitexe?
De
Rui Rei a 3 de Agosto de 2008 às 11:47
Sim , sou o Rui Manuel Pereira Rei, filho do Jaime Gonçalves Rei , do Quitexe e actualmente passo muito por lá.
Já agora gostaria de saber quem é o Sr. Arlindo.
Cumprimenta
Rui Rei
Rui Rei disse a Sun, 03 Aug 2008 11:18:19 GMT:
Passei no Quitexe tem 60 dias, onde tirei essas fotografias. Tenho pena de não ter tirado mais, mas a pressa e como pensava ir por lá logo de seguida, não o fiz.
Agora digo, a estrada que vai de Luanda para o Quitexe, está totalmente recuperada e asfaltada.Fiz a viajem sózinho, eu apenas com o meu toyota, sem problema algum.Gazolina até abasteci no Quitexe, nas antigas Bombas Da MOBIL.
Restaurantes e bares é que não há nada, há que levar farnel...A casa de adobe que se ve na fotografia é a casa que mora a Familia do Francisco Cazenza, antigo funcionário do meu pai e que fica naquele bairro(Agora não se fala mais Sanzala), atrás da Adminstração.A rua de cima do Quitexe, por ser parte da estrada ,está asfaltada, a Avenida De baixo é que está muito estragada, mas o asfalto ainda continua o mesmo de nossos tempos.
Fui recebido com muita alegria e entusiasmo pelo pessoal. Fui lá uma tarde e falei para dois ou tres quem eu era. Dias depois no regresso, parei e quando fui dar uma volta, até fiz o meu cadastro como eleitor, pois já tenho bilhete de identidade de angolano, passaporte, titulo de eleitor feito este no QUitexe, como ia a dizer, de repente tinha mais de vinte pessoas que me conheceram e foi aquela festa.
A pergunta mais feita era- QUANDO VOLTAVA PARA LÁ DEFENITIVAMENTE? Bastanstes pessoas estão a par de tudo o que acontece ai a nós. Sabem quem morreu e quem está vivo. Olha , foi muito agradável e se eu puder ajudar , digo, sinto que quem quiser voltar , terá as portas ABERTAS, podem estar certos.
Meu contacto em Angola- 00 244 91 400 29 38.
Venham cá passear e mais......................
Rui Rei disse a Sun, 03 Aug 2008 11:45:17 GMT:
A, já me esquecia.. Também tenho a carta de condução Angolana. Foi fácil, como tinha tirado a minha em Carmona , agora é só UIGE, o meu processo estava lá e quero acreditar que os demais também e foi rápido.,, Por tanto quem a tirou aqui , consegue uma segunda via fácil.
Nos últimos dias têm sido escritos diversos comentários aos textos e fotografias que venho colocando no blogue. Como os comentários quase se perdem no meio dos textos vou trancrevê-los para aqui de modo a terem mais notoriedade.
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De Arlindo de Sousa a 31 de Julho de 2008 às 21:57
Tenho estado a observar esta página com muita atenção. Muitos nomes estão ainda bem presentes na minha memória. De acontecimentos, edifícios, pessoas e lugares. Parabéns ao seu autor. Sinto uma grande emoção.
Tal como já disse num outro comentário mais acima, fui funcionário administrativo (Inicialmente, Aspirante e depois escriturário) da Administração do Concelho do Dange no Quitexe de 1961 a 1963. Entre os 18 e os 20 anos. Altura em que, de acordo com as leis do recenseamento, fui cumprir o Serviço Militar no CICA – Grupo de Artilharia de Luanda.
Um dado curioso: Por ordem de serviço publicada no Boletim Oficial, dado que o lugar se encontrava vago, cheguei a desempenhar por duas vezes, e por breves períodos, as funções de Adjunto de Administrador de Circunscrição, que por inerência, entre outras funções, era também o Secretário da Comissão Municipal do Quitexe.
Devido a esta circunstância, as folhas enviadas ao Centro de Recrutamento em Luanda, listando-me como único mancebo, foram assinadas e autenticadas por mim próprio. Conclusão: Recenseei-me a mim próprio. Jamais deve ter havido outro caso semelhante!
De Arlindo de Sousa a 31 de Julho de 2008 às 22:56
Por volta de 1962-63 ainda conheci o Victorino da Rocha Nunes, que foi gerente da Fazenda Muzecano. Que tinha sido ou era de um alemão. De um tal Auri Khin (já não sei se o nome se escrevia exactamente assim) Fazenda onde cheguei a estar instalado durante uns oito dias a fazer um inventário por ordem do tribunal. Nessa altura, ele era ainda muito novo e penso que seria ainda solteiro. Penso que ele foi o 1.º gerente da Fazenda Muzecano depois dos trágicos acontecimentos de 15 de Março de 1961.
De Arlindo de Sousa a 31 de Julho de 2008 às 23:44
O edifício da Administração está uma lástima. Apesar da simplicidade, era um imóvel de aspecto agradável.
Trabalhei ali quase dois anos. De 1961 a 1963. Conheço bem o interior. A seguir aos trágicos acontecimentos de 1961, sob a direcção do Administrador, Rodrigo José Baião, primeiro; e depois, sob a direcção do Administrador, Meneses e Pereira, na organização e implementação da Administração.
Anteriormente, como se sabe, o edifício albergava um mero Posto Administrativo. Sob a alçada do concelho de Ambaca, Camabatela.
Lembro-me de que no balcão de madeira, de atendimento, viam-se bem nítidas as marcas de algumas das catanas que em 15 de Março de 1961 chacinaram muitos dos habitantes do Quitexe. Inclusive, mulheres e crianças.
Certo dia, quando estávamos a organizar o arquivo, de duma das velhas pastas saltou um dedo já ressequido. Tal não foi a violência daqueles trágicos dias!
Muito obrigado, Arlindo, pela sua participação. Nao terá conhecido o meu Pai, João Nogueira Garcia, porque ele esteve no Quitexe de 1947 até Julho de 61 e, depois, apenas, em 73 e 74, mas conheceu, concerteza, o meu tio Alfredo Baeta Garcia, que aí permaneceu depois de 61.
Espero continuar a contar com o seu contributo e com as memórias do tempo em que lá viveu!
Os textos poderão ser enviados para
Nos últimos dias têm sido escritos diversos comentários aos textos e fotografias que venho colocando no blogue. Como os comentários quase se perdem no meio dos textos vou transcrevê-los para aqui de modo a terem mais notoriedade.
De José Varela a 31 de Julho de 2008 às 22:07
Boa Noite.
Foi com muito satisfação que sem querer acedi a este espaço que muito me diz, uma vez que sou filho de um homem do Quitexe. Nasci na Fazenda Muzecano e muito novo fui morar para a Vila do Quitexe. Chamo-me José Eduardo Varela Nunes e sou filho de Victorino da Rocha Nunes, que foi gerente da Fazenda do Muzecano, depois tomou conta do Bar "A Geladinha do Quitexe", sendo que nos últimos tempos era funcionário da Administração desempenhando a função de responsável pelo abastecimento de água e pela electricidade da vila. Na fotografia do jogo Solteiros contra Casados o meu pai é o oitavo a contar da esquerda para a direita dos que estão em pé. Nesta fotografia o meu pai tem um exemplar com os nomes de todos os casados e que são os seguintes e nesta ordem: Em pé: (Esq. para a Dta): Cardoso de Matos (e não Galina), N.N., Alves, Leonardo, Machado, Araújo, Salvador, Victorino (meu pai), e Guedes. De joelhos (Esq. para a Dta): Carvalho, Santos, Baptista, Herculano e Alberto. Só lamento que a casa que era do meu pai não tenha nenhuma imagem neste blog. De acordo com o mapa que vocês colocaram a casa corresponderia o n.º 58 que em rodapé dizem só existirem as paredes. Na eventualidade de terem alguma imagem agradecia que a disponibilizassem quer antes de 75 como após.
Obrigado
José Varela
Finalmente temos a legenda das fotografias do jogo de futebol quase completa! Muito obrigado José Varela, caro conterrâneo!
Qualquer dia temos que fazer a lista do pessoal nascido no Quitexe (povoação/ posto administrativo/ concelho) e, quem sabe, juntarmo-nos por aí. Agradeço muito a sua colaboração e espero que ela continue com as suas memórias e as do seu Pai.
Quanto à vossa casa, há uma fotografia, já publicada, onde julgo que ela aparece (2ª casa à direita) e não apenas as paredes, como erradamente diz a planta. É preciso não esquecer que esta planta foi feita, de memória, pelo meu tio Alfredo Baeta Garcia, 30 anos depois de ter deixado o Quitexe e por isso pode ter erros que são, naturalmente, involuntários.
Irei transmitir ao meu Tio Alfredo o teor destes comentários pois sei que ele ficará muito feliz por ter notícias dos amigos e companheiros de uma vida em terras do Quitexe.
No livro que o meu Pai, João Nogueira Garcia (já falecido), escreveu sobre o Quitexe ( Quitexe 61- Uma Tragédia Anunciada) relata uma passagem pela fazenda Mussecano onde soube dos acontecimentos do 4 de Fevereiro em Luanda (terá sido o seu Pai a dar-lhe a notícia?) - ver aqui
Um grande abraço para si e o seu Pai, e espero que continue com a sua colaboração. Os textos poderão ser enviados para
De Jorge Santos a 5 de Agosto de 2008 às 20:23
Li o comentário do amigo José Varela, ao qual lhe envio sinceros cumprimentos. Amigo Varela, em relação à Foto dos casados, da qual o meu Pai faz parte o "Santos", verifiquei junto com o meu Pai em Foto ampliada, que realmente o ultimo da fila de pé (da Esq. para a Dta.) é o Guedes. Em relação ao Galina diga-me se eventualmente não poderá ser "Galina Cardoso de Matos" ou "Cardoso de Matos Galina". É que o meu Pai, tem bem presente, ser o Galina o Administrador na altura do Jogo. Já agora se puder, confirme tambem se o jogador que está entre o seu Pai e o Guedes, se chama Anibal. É que não mencionou este.
Amigo Varela, seria importante ajudar-mos, dentro das nossas possibilidades o amigo João Garcia a completar a legenda da Foto.
Um grande abraço para si, e para o seu Pai...