Fui roubar esta foto ao site do Angola OffRoad, com imagens do Raid Cacimbo 2007 que atesta bem como é frondosa a floresta numa picada de Camabatela para o Quitexe.
http://angolaoffroad.livreforum.com/raids-e-passeios-dos-membros-f3/raid-cacimbo-2007-t52-15.htm
Neste episódio aparecem imagens do Quitexe aos 05m:33s, nomeadamente da igreja, onde se vêem as placas com os nomes dos brancos mortos durante a guerra.
http://br.youtube.com/watch?v=vUjbIfgBhX4&feature=related
O brazão do Quitexe tinha (tem ?) representadas as duas espécies da flora e da fauna mais características da região: O cafezeiro e a pacassa.
PACASSA ou PACAÇA s.f.
ETIM. kimb. vl. Pakasa / ~Pakasa, s. ms.
O.OC. Pacaça.
//ZOO. Syncerus caffer. Mamífero artiodáctilo ruminante da fam. dos bovídeos, tb. chamado búfalo-africano. Há duas subespécies, a pacaça-preta (S. c. caffer) e a vermelha ou anã (S. c. nanus). Tem o aspecto de um boi doméstico com chifres recurvados para trás, curtos e grossos, cujas extremidades se apresentam paralelas. A pelagem pode ser preta, castanha ou avermelhada. As suas dimensões variam entre 1,20m e 1,50m (1-1,2m para o nanus) e o p. entre 320 e
http://mulongap.blogspot.com/
A Vila do Quitexe tinha o seguinte brazão:
- Escudo de prata com cafezeiro de verde, frutado de vermelho, posto em pala; em chefe duas pacassas de negro, de cornutos azuis, aprontadas.
- Coroa mural de quatro torres de prata.
- Listel branco com a legenda "Vila de Quitexe" a negro.
Brazão anterior à elevação a vila ( apenas três torres e designação de "povoação").
Pois é! Descobri uns mapas russos de Angola à escala 1:200 000 aqui e lá encontrei o Quitexe. Não deixa de ser engraçado os nomes das povoações escritos em alfabeto cirílico
A recente morte do escritor Luís Pacheco avivou-me a memória para uma das suas publicações que possuo, “Textos Malditos”, que reúne uma série de textos publicados antes do 25 de Abril, a maior parte deles apreendidos, com processos até no Tribunal Plenário.
Editado em 1977 pelas edições Afrodite possui um capítulo – Depoimento de uma Angolana – lançado em “stencyl” por Luís Pacheco, em 1961, poucos meses depois do início da guerra. O texto é da autoria de Maria Alice Veiga Pereira e reúne as observações que foi anotando ao longo dos trinta anos que, na altura já levava de vida em Angola.
Filha de um quadro administrativo - o pai exerceu durante anos o cargo de Chefe de Posto em Ambaca e em várias outras regiões da colónia
“Nasci em Angola, filha de pais europeus. Há trinta anos que ali vivo, no meio das mentiras convencionais que nos são impostas por um regime social odioso. Mas parece-me que chegou a hora de dizer algumas verdades.
Filha de um funcionário do quadro administrativo de Angola, casada com um funcionário de um organismo corporativo da colónia, tendo eu própria ali exercido as funções de professora primária oficial, presenciei e tive conhecimento de muitos factos que julgo ser bem útil trazer ao domínio público.
Meu pai exerceu durante anos o cargo oficial de Chefe de Posto de Ambaca e em várias outras regiões da colónia. Ser Chefe de Posto em Angola é ser um pequeno rei absoluto.(…)
O castigo corporal é ainda o grande método adoptado. Eu vi um negro, centenas de negros, serem assim castigados pelos processos mais bárbaros que é possível imaginar. O Chefe de posto dá ao sipaio ordem para começar. Este pega numa grossa palmatória e vai batendo. Um sipaio, armado de um chicote, dá uma forte chicotada ao negro de cada vez que este encolhe a mão. Ás cinquenta palmatoadas é costume não se poder continuar: o sangue esguicha e a pele das mãos está toda agarrada à madeira. Mas ainda há tantos sítios onde se pode bater! As palmas dos pés aguentam ainda mais. E depois, o negro é deitado no chão de rabo nu para o ar, é-lhe colocada uma sarapilheira molhada, para a pele resistir melhor, e a pancadaria recomeça. Depois disto, não há realmente mais onde bater. Um pobre farrapo humano, ensanguentado, meio morto, está aos pés de um governo que se gaba de praticar os melhores métodos colonizadores e de assimilação rácica de toda a História!
Aprendi com os meus pais que o negro é um homem igual a todos os outros, com os mesmos direitos e os mesmos deveres. Durante trinta anos vi-os serem tratados como seres inferiores e desprezíveis, como pobres animais irracionais. (…)
Recordo-me de outro episódio que mostra bem o racismo entranhado dos brancos de Angola. Numa viagem que fiz à Metrópole, vinham comigo uns moços que nunca tinham saído de Angola. Desembarcaram na Madeira e quando voltaram para o barco estavam profundamente chocados por terem encontrado brancos descalços, a pedir esmola. E então, realmente consternados, comentavam: “Palavra, nunca pensei que houvesse pessoas com fome, descalças, a esmolarem uns tostões para comer”. E como eu lhes dissesse se os negros da terra donde vinham andavam calçados, se nunca tinham visto em Angola negros a morrerem de fome, eles responderam-me com toda a naturalidade, sem qualquer intenção velada: “Vimos, pois claro, mas eram pretos. Agora pessoas, brancos, compreende, é outra coisa.”
Tinham o sétimo ano dos liceus e vinham frequentar a Universidade. Eram bons moços, apenas tinham ouvido dizer desde pequenos que pessoas são brancos. Nunca tinham deparado com o problema da miséria entre brancos. Mas a miséria dos negros não lhes podia ser desconhecida: só na Baixa do Cassange morrem todos os anos centenas de negros à fome. Aí o problema é o algodão”.(…)
Descreve, depois a irracionalidade da plantação do algodão, do trabalho escravo disfarçado de contrato, etc, etc.
Lendo estes textos escritos nos anos 50, anteriores, portanto, à revolta na Baixa do Cassange e aos levantamentos seguintes é imperioso perguntar como é possível que as autoridades coloniais não se apercebessem do caldo de contestação social que estavam a cozinhar e que viria a explodir em revoltas sangrentas.
Casas de João Garcia, Abílio Guerra e Celestino Guerra.
Houve substituição do telhado de telha por chapas de zinco.
Bombas de combustível. Ao fundo edifício em reparação.
A escola primária ainda continua por recuperar. Actualmente funciona noutras instalações.
Esta escola primária entrou em funcionamento em 1959. Permitia, assim, acabar com a separação inevitável dos filhos dos colonos quando chegavam à idade de aprender as primeiras letras. Até aí as crianças eram mandadas para casas de familiares nas cidades ou em Portugal ou para colégios em regime de internato.
A propósito da abertura da escola contou-me o meu Pai um episódio que revela bem quão longe da realidade estava, nesta altura, a tão propalada integração racial e inexistência de preconceitos rácicos:
Esta escola servia os habitantes do Quitexe, estando, portanto excluídos os miúdos negros das sanzalas, cuja educação estava entregue às missões por força de um decreto-lei de 1941. Mas havia um problema: os filhos dos cipaios, como funcionários da administração, tinham direito a frequentar a escola. Como não havia maneira de os excluir, contrataram uma professora particular para dar as aulas aos meninos brancos. Os meus irmãos, os filhos do chefe do Posto, do guarda fiscal e mais uns, mantiveram-se na Escola Oficial. Os outros foram aprender sem misturas raciais!
De realçar, aqui a atitude das autoridades locais que, por dever de ofício ou por convicção, mantiveram os filhos na escola.
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Contam, os relatos do 15 de Março de 61, que um dos alvos da UPA naquele dia sangrento foi precisamente a escola. Felizmente as férias da Páscoa haviam começado poucos dias antes, o que não impediu a morte , na vila, de algumas crianças esquartejadas à catanada.
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O futuro está aí e o tempo foi moldando o passado. Depois de todos estes anos os factos já são história e já não condicionam o presente, mas marcaram muito a gente que os viveu.
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