Uíge, 26/11 - Cinquenta e oito partos foram registados no último fim-de-semana, na maternidade do hospital provincial do Uíge, deu a conhecer hoje à Angop fonte hospitalar.
Segundo a chefe de secção da maternidade do Hospital Central do Uíge, Madalena Anselmo, dos partos registados, constam 31 bebés do sexo feminino, 27 outros masculinos e um nado morto.
A título de comparação note-se que nas duas maternidades de Coimbra ( Bissaya Barreto e Daniel de Matos) registaram-se em média ,durante 2005, 18 partos por dia.
O Augusto e o Quintas
Recordar o Augusto e o Quintas é para mim um acto doloroso.
O Augusto, ainda jovem, trabalhava na Fazenda Pumbaloge e, certo dia, por razões que já esqueci, é despedido. O meu amigo Baptista, que é o gerente da fazenda, vem pedir-me para lhe dar emprego. É um trabalhador excepcional, tanto guia tractores como carrinhas ou camionetas. Para mais ele é a pessoa indicada para vir ajudar a montar a “Andrea” (máquina de descascar café que havíamos comprado, em segunda mão, ao Pumbaloge) com a qual ele já trabalhava. Era também bom mecânico e um jovem respeitador, apenas aos sábados gostava de beber uns copos.
Este homem acompanhou-me sempre com uma dedicação e lealdade que recordo com muita saudade. O Augusto era, no 15 de Março, o único trabalhador negro na fazenda que não era Bailundo, era duma sanzala próxima do Uíge.
Nesse dia fatídico ele está comigo na fazenda. Em muitas roças, foram estes homens de confiança, os primeiros a levantar a catana contra os seus patrões. Mas, naquela manhã, ele ficou ali, pelo terreiro esperando que eu voltasse do Quitexe. Quando regresso e lhe digo o que está a acontecer ele, que é preto, fica branco, muito assustado, pois calcula que haverá represálias.
Com os contratados da Fazenda Alegria e Vieira de Matos que eu encontrei em fuga e refugiei na fazenda vinha, também, o Quintas, meu antigo pedreiro que trabalhou na construção dos acampamentos, da minha casa e também dos armazéns. Eu gostava muito dele e, quando me aparece, tomo consciência de que vou ter mais um problema a juntar ao Augusto. Eu não vou permitir que os brancos os matem, pois é a sina que está reservada para todos os negros que não sejam bailundos. Como sabia que eles nada tinham a ver com o que se estava a passar, chamei-os e fiz-lhes ver a situação. Pelos tempos mais próximos eu dava-lhes guarida na fazenda, comida e dormida, mas os brancos não podiam saber que eles lá estavam.
- Por isso tomem muita nota do que vos vou dizer: não saiam nunca do acampamento. O único branco a quem podem aparecer e com quem podem falar é comigo. Venha quem vier vocês não aparecem.
Certo dia, em que eu tinha ido ao Uíge, houve alguém, que sabendo do seu paradeiro e, aproveitando a minha ausência, resolveu ir buscá-los. Essa pessoa, que era bem conhecida dos contratados, chega ao terreiro e diz para o guarda:
- Vai chamar o Augusto e o Quintas para virem já! O patrão Garcia tem um serviço no Quitexe e precisa lá deles.
O Augusto e o Quintas, depois de saberem quem era o branco, dirigem-se para a carrinha. O Quintas sobe mas o Augusto diz que tem que voltar ao acampamento buscar um cobertor. Vai a correr para demorar pouco. No momento em que o tinham mandado subir lembrou-se das minhas palavras e já não voltou. O pobre do Quintas é entregue à Pide que o faz desaparecer.
O Augusto viveu sempre na fazenda e, em 1973 quando regresso ao Quitexe, passados 12 anos, lá o vou encontrar já casado e com três filhos: a Joana, o César e a Sinhazinha.
Depois da independência a roça Quimbanze foi abandonada e o Augusto foi para gerente de uma das maiores roças do Quitexe, Matos Vaz & Cia. Mais tarde, ouvi dizer que morreu de doença.
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João Nogueira Garcia - Quitexe 61 - Uma Tragédia Anunciada
"No Quitexe — duas dúzias de casas arrimadas à estrada, erguida à categoria de rua principal e única — foram logo cercados pelos homens da vila, armados de caçadeiras, carabinas ou velhos revólveres. Usando roupas que desde há muito não viam ferro nem sabão, barbudos e cabeludos, olhos febris da vigília constante, falas eriçadas de pragas, almas saturadas de horror — aqueles homens impacientes, indomáveis, violentos e frenéticos crivaram a pequena coluna de exclamações, alvitres, comentários e perguntas.
— Ainda bem que chegou a tropa!
— Talvez eu agora tenha uma lasquinha de tempo para tomar um banho!
— Mostrem a esses bandidos quantas pêras são por um pataco!
— Quando chega o resto da coluna?
— Não há resto ... — pôde finalmente responder o alferes. — Isto é apenas uma pequena escolta militar.
Uma sombra de desânimo percorreu aqueles rostos resolutos. Então, era só aquilo, o auxílio que lhe enviavam? Duas dúzias de soldados, sob o comando dum alferes quase imberbe ..."
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Para uma melhor sistematização dos temas, para uma mais fácil consulta e, naturalmente para dar o relevo merecido aos apontamentos do meu tio Alfredo Baeta Garcia criei um blog autónomo para onde transferi as suas intervenções neste blog.
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