Domingo, 03 de Fevereiro de 2013
A Lagoa do Feitiço pode vir a ser reconhecida Património Cultural da província do Uíge, caso seja provado o fenómeno ocorrido em Dambi à Angola, na comuna da Aldeia Viçosa, município do Dange Quitexe, província do Uíge, há muitos séculos, antes da chegada dos portugueses ao antigo Reino do Congo.
Neste momento, a Direcção Provincial da Cultura está a promover acções no sentido de recolher mais dados que comprovem, de facto, que este bairro ficou submerso em consequência de uma chuva miÚda que caiu sobre a localidade, transformando-o numa lagoa.
“Estamos a investigar o local no sentido de podermos encontrar dados mais convincentes sobre a transformação do bairro em lagoa. Já procurámos obter mais informações acerca da família que se salvou na altura dos acontecimentos. Queremos, portanto, seguir a genealogia dessa família, para descobrirmos o período real da ocorrência, porque não existem fontes escritas, temos apenas fontes orais”, disse Moisés Mateus Feliciana, director provincial interino da Cultura, que visitou o local no âmbito das comemorações do 8 de Janeiro, Dia Nacional da Cultura.
Um dos objectivos da investigação que está a ser feita sobre o surgimento da lagoa é a valorização dos mitos que existem sobre ela. Para isso, a Direcção Provincial da Cultura está a tentar encontrar mecanismos mais viáveis para que isso seja possível. “Aqui, ouvimos histórias que podemos fundamentar como sendo um verdadeiro mito. Mas é necessário fazer um estudo científico para sabermos o que fazer em relação à sua valorização no contexto cultural”, referiu.
Início do projecto
O projecto que pode transformar a lagoa em património cultural começa com a recolha de informações, para depois se fazer uma resenha sobre o local junto das autoridades provinciais, tendo em vista o concurso promovido pelas direcções provinciais da Cultura e do Turismo, para a sua publicitação e valorização turística.
O historiador Pedro Senas Gomes Dissungua, chefe do departamento de património cultural, defendeu que os historiadores, antropólogos e sociólogos devem agir em conjunto, para que os trabalhos de investigação sobre os factos que deram origem à Lagoa do Feitiço e outros locais e monumentos históricos da província, decorram da melhor maneira possível e os resultados preconizados sejam alcançados.
O bairro Ngungo Indua
No local onde hoje está a Lagoa do Feitiço existia um bairro, o Ngungo Indua, que submergiu em consequência de uma chuva miÚda que caiu sobre a localidade. Segundo os mais velhos, o fenómeno ocorreu há muitos séculos, antes mesmo da chegada dos portugueses ao Reino do Congo.
O sito é envolvido por um silêncio quase absoluto e a sua paisagem é muito atractiva. O acesso é livre, mas é preciso observar determinados rituais. As autoridades tradicionais despejam vinho, champanhe, maruvo e refrigerantes na água e pronunciam algumas palavras. “São dirigidas aos espíritos que habitam na lagoa”.
A chuva, segundo contam, tinha sido prevista por um homem que tinha chegado à aldeia com muitas chagas no corpo e foi desprezado pelos aldeões. Foi acolhido por duas crianças e apenas a estas ele pediu que abandonassem a aldeia, pois ela ia desaparecer sob uma nuvem negra.
Os rituais e a sua importância
Contam os mais velhos da zona que um fazendeiro português, ignorando as recomendações dos nativos, violou as regras vigentes no local e uma desgraça abateu-se sobre a sua família. Passou a haver muitas mortes e o fazendeiro, que se chamava José Dinis, começou a tratar o lugar por Lagoa do Feitiço.
Desde então, passou a ser obrigatório realizar os rituais que até hoje são observados para se ter acesso ao local. A comida e a bebida que lá é posta serve para pedir perdão às sereias, por todo o mal que os antepassados da aldeia fizeram, de forma a evitar novas desgraças.
Hoje, já se pode beber a água da lagoa e tomar banho nela. Mas só os nativos de Dambi à Ngola estão autorizados a tocar nela sem autorização. Se um estranho tocar na água sem autorização dos mais velhos da aldeia, pode desaparecer misteriosamente.
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