Depois de 62 anos o Quitexe tem um novo plano urbanístico para expansão da povoação (cidade?) ja elaborado à sete anos (2012).
Realizado pela empresa Soapro, estudos e projectos "o Plano Urbanístico de 30ha em Dange Quitexe surge como prolongamento do PU de 25ha anteriormente realizado para um terreno contíguo situado no limite sul da cidade de Quitexe.
A nova malha urbana assume esse anterior plano como ponto de partida, bem como os seus critérios de orientação e dimensão espacial e localização de equipamentos, praças e zonas verdes. As pré-existências foram igualmente determinantes na proposta apresentada, quer se trate de estruturas edificadas (como o antigo colunato localizado no lado norte) quer de infra-estruturas viárias pesadas, como a estrada nacional que cruza o terreno no sentido este-oeste."
Para visulizar este plano veja em http://www.soapro.co.ao/pt/client/skins/portfolio.php/?id=52
O Rui Rei deixou-nos.
O Rui amava Angola e especialmente o Quitexe, sua terra natal.
Filho de Jaime e Glória Rei, nasceu em 1955 e em 1961 foi, como a maioria, para Portugal.
Passados dois anos voltou e frequentou o Colégio do Negage e posteriormente a Escola de Regentes Agricolas Tchivinguiro,
no Sul de Angola.
Saiu, fisicamente, de Angola em 1975, mas seu coração e seu pensamento sempre permaneceram lá.
Há alguns anos retornou para fixar residência no Uige e rever o que amava : Quitexe, a casa, a fazenda.
Começar tudo de novo.
A saúde não permitiu. Faleceu a 05 de Março na cidade do Porto.
Deixa dois filhos (Elisa Karla e Joaquim Almeida) e uma eterna saudade .
Quando regressou a Angola o Rui enviou diversas fotografias do seu Quitexe que foram publicadas aqui:
http://quitexe-historia.blogs.sapo.pt/26514.html
http://quitexe-historia.blogs.sapo.pt/30262.html
Recordo, também as fotos de toda a família Rei:
http://quitexe-historia.blogs.sapo.pt/82135.html
E os comentários sobre o seu reencontro com o Quitexe em 2008 e o modo como foi recebido:
Rui Rei disse a Sun, 03 Aug 2008 11:18:19 GMT:
Ah, já me esquecia.. Também tenho a carta de condução Angolana. Foi fácil, como tinha tirado a minha em Carmona , agora é só UIGE, o meu processo estava lá e quero acreditar que os demais também e foi rápido. Por tanto quem a tirou aqui, consegue uma segunda via fácil.
E, ainda, o anúncio da casa comercial do seu pai publicado no "Anuário do Ultramar Português", de 1955, ano do seu nascimento.
A toda a família, em especial à Elisa, ao Joaquim e ao António as mais sentidas condolências deste blogue
Recebemos de Serafim Paulo Vaz de Sousa e Silva, comandante do 2º pelotão da 1ª Companhia do Batalhão de Caçadores 3 instalada em 1960 em Carmona - Uíje, a crónica em que nos relata a sua vivência do dia 15 de março de 61, em pleno patrulhamento entre Santa Cruz e Sanza Pombo. Seguir-se-ão outras crónicas onde, numa, descreve o segundo ataque da UPA ao Quitexe em 11 de abril de 61, salientando o perigo a que se expôs o meu pai, João Nogueira Garcia, num episódio também descrito por ele no livro Quitexe 61 - Uma Tragédia Anunciada e, noutra, onde desmonta o "heroísmo" do Chefe do Posto Administrativo do MUCABA e como foi criado o mito dos "heróis de Mucaba".
A instalação do BC3 em Carmona foi oficializada em 22JUN1960, tendo sido nesta data condignamente apresentado à população uígense através do desfile da sua 1.ª COMPANHIA pela Avenida principal da Cidade.
Foram os seguintes os Oficiais que inicialmente, em Junho de 1960, integraram o BATALHÃO DE CAÇADORES 3 :
COMANDO – CARMONA
COMANDANTE MAJ SALVADOR DE JESUS ABREU
OFICIAL DE OPERAÇÕES CAP PEREIRA DA SILVA
CHEFE DA SECRETARIA TEN LIBERTO BRANCO
CHEFE DA CONTABILIDADE ALF JORGE NARCISO
TESOUREIRO ALF FERREIRA
CHEFE DO SERVIÇO DE MATERIAL TEN ISAAC LIMA DE AZEVEDO
MÉDICO TEN JOSÉ DIAS ALVES
1.ª COMPANHIA – CARMONA ( ORIGINÁRIA DO RINL )
COMANDANTE CAP BOTELHO
1.º PELOTÃO TEN SIMÕES DIAS
2.º PELOTÃO ALF SOUSA E SILVA
3.º PELOTÃO ALF MANUEL LINHARES
4.º PELOTÃO ASP HENRIQUE ABREU
As outras Companhias que pertenciam ao BC3 eram as seguintes:
2.ª COMPANHIA DE CAÇADORES ESPECIAIS – TOTO ( ORIGINÁRIA DA METRÓPOLE )
COMANDANTE CAP ACÁCIO SEIA RAMOS
3.ª COMPANHIA CAÇADORES – MAQUELA DO ZOMBO ( ORIGINÁRIA DO RIL )
COMANDANTE CAP BARROS BASTOS
Também mais ou menos nesta mesma altura foi determinada a criação de um Aeródromo Militar no Norte de Angola, que acabou por ser instalado no NEGAGE com a denominação de AB3, sob o Comando do TEN COR AUGUSTO SOARES DE MOURA e de onde vieram a operar os aviões AUSTER, DORNIER e HARVARD T-6.
A inauguração do AB3, à qual compareci como representante do BC3, verificou-se a 07FEV1961 com a presença do TEN COR MAGRO ROMÃO, CHEFE DO ESTADO MAIOR DA REGIÃO AÉREA DE ANGOLA.
No quadro da Missão que em 1960 foi atribuída à 1.ª COMP / BC3 tornaram-se especialmente importantes as acções desenvolvidas no convívio e na aproximação às populações civis, procurando elevar o espírito de segurança então existente, muito abalado pelos acontecimentos que se desenrolavam no CONGO EX-BELGA
Sendo que essas acções constituíam o objectivo principal das constantes missões de patrulhamento levadas a cabo logo a partir de JUN60 até 15MAR61, a verdade é que também procurávamos recolher informações junto dos fazendeiros e das populações nativas, bem como das próprias Autoridades Administrativas das regiões visitadas, informações essas depois incluídas no respectivo RELATÓRIO DE PATRULHAMENTO, a ser enviado para o QUARTEL GENERAL, com cópia para o GOVERNO GERAL DE ANGOLA.
Lembro-me ainda que àqueles Relatórios eram sempre apensos uns “ traços “ que tinham a pretensão de ser considerados como MAPAS DE ITINERÁRIOS e onde nós procurávamos assinalar os pontos críticos quanto a segurança de trânsito, bem como a localização das Sanzalas mais populosas existentes e mais próximas das margens das “ picadas “ que fomos percorrendo ao longo dos seguintes itinerários:
1.º ITINERÁRIO
CARMONA – SONGO – NOVA CAIPEMBA – LUCUNGA – MARGENS DO RIO LUCUNGA – PARALELO 38
2.º ITINERÁRIO
CARMONA – QUITEXE – ALDEIA VIÇOSA – FAZENDA LIBERATO – ENCOGE – ZALALA – VALE DO LOGE
3.º ITINERÁRIO
CARMONA – NEGAGE – BUNGO – 31 DE JANEIRO – LÊMBOA – MUCABA – DAMBA- QUIBOCOLO - CAMATAMBO
4.º ITINERÁRIO
CARMONA – NEGAGE – PURI – CAIONGO – CANGOLA – SANZA POMBO – CUILO POMBO - MACOCOLA – QUIMBELE – ICOCA – CUANGO - SANTA CRUZ – MACOLO – MASSAU - UAMBA
Os patrulhamentos efectuados nos já caquéticos “ WILLIS “ ou nos ainda menos maus “ UNIMOG “ de acordo com aqueles itinerários, estendiam-se normalmente por um período entre os cinco e os nove dias, sendo que o 4.º Itinerário era o mais demorado e o de maior quilometragem, tendo sido este o último efectuado pelos Militares da 1.ª COMP do BC3, na misssão de patrulhamento iniciada em 10MAR61, efectuada sob o meu comando.
Lembro-me bem desse último patrulhamento e das condições em que todo ele foi efectuado, quer por nesse período, no dia 15, ter eclodido o terrorismo, quer ainda porque no dia 16 completava os meus 22 anos…
Recordo claramente que no dia 15MAR61, depois de termos pernoitado em SANTA CRUZ, na casa do respectivo ADMINISTRADOR, TORCATO SALVADO, que também nos ofereceu o jantar, bem logo de manhãzinha termos partido em direcção a MASSAU e MACOCOLO, iniciando assim o regresso a CARMONA.
Nesta etapa de regresso tinhamos previsto a primeira escala para a povoação de SANZA POMBO, onde desde sempre tivemos alojamento garantido em casa do nosso bom Amigo CORDEIRO, Gerente da Casa Comercial da RIMAGA, Empresa pertencente a RICARDO MATOS GASPAR, um dos PIONEIROS DO UÍGE, que desde
a primeira hora fez questão de nos disponibilizar instalações para pernoita do pessoal das patrulhas em qualquer das Fazendas ou Casas comerciais que possuia espalhadas por toda a região, onde igualmente nos garantia alimentação.
Chegámos muito cansados a SANZA POMBO, já altas horas da madrugada do dia 16MAR, depois de uma viagem muito atribulada através de picadas intransitáveis, com pontes improvisadas, o que nos obrigou a que muitas vezes tivéssemos de desatolar os jeeps à força de ombros.
Lá acordei, claro, e o Administrador começou então a contar-me que tinha tomado conhecimento através das comunicações com a sede do Governo do Distrito, em Carmona, que as populações nativas se tinham amotinado e se haviam verificado ataques a algumas Fazendas da região, com existência de muitos mortos e feridos, verdadeiras chacinas.
Embora naquela ocasião não tivesse a mínima noção da gravidade da situação, claro que também eu fiquei preocupado, até porque não tinha quaisquer meios de comunicação directa quer com o Comando da Companhia, quer com o Comando do Batalhão, mas, depois de diversas tentativas com o P-19 da Administração do Concelho e com a boa colaboração do Administrador, lá consegui contactar com o Comandante do Batalhão, MAJOR SALVADOR DE JESUS ABREU.
Depois de me informar muito laconicamente sobre o que havia acontecido, talvez em função do muito pouco que, naquele momento, ele próprio conheceria sobre tudo que estava acontecendo, foi-me ordenado que prosseguisse a minha missão de patrulhamento e que, se tivesse de actuar, que actuasse com toda a força!
QUE ACTUASSE COM TODA A FORÇA!
Só mesmo a brincar!...
Com efeito, considerando que o grupo sob o meu comando era constituído apenas por seis militares:
- Comandante, eu próprio, com Pistola Metralhadora FBP e Pistola
PARABELLUM, respectivamente com 90 e 16 munições
- Um 1.º Cabo Miliciano, com uma Pistola Metalhadora FBP com 90 munições
- Um 1.º Cabo Mecânico, com uma Espingarda MAUSER e 20 munições
- Um Soldado Condutor Auto, com uma Espingarda MAUSER e 20 munições
- Dois Soldados, cada um com uma Espingarda MAUSER e 20 munições,
com que FORÇA poderíamos então nós actuar se porventura viéssemos a ter algum confronto com quaisquer elementos rebeldes existentes entre a numerosa população das muitas Sanzalas que proliferavam ao longo do itinerário que ainda faltava percorrer até Carmona?!...
Como é natural, o ADMINISTRADOR AMZALAC procurou por todos os meios ao seu alcance que eu e os Militares que me acompanhavam não abandonássemos SANZA POMBO de modo a que, com a colaboração da população civil, a defesa da povoação fosse garantida, mas não conseguiu ver satisfeitos os pedidos dirigidos quer ao Governador do Distrito, MAJ. REBOCHO VAZ, quer ao próprio Comandante do BC 3, MAJ. SALVADOR DE JESUS ABREU.
Assim, depois de uma reunião havida com o ADMINISTRADOR AMZALAC e os seus colaboradores mais próximos na qual se procurou estabelecer um Plano de Defesa da povoação, partimos a meio da tarde em direcção a Carmona.
Ao longo desta última etapa do patrulhamento, teríamos de passar pelo PURI, uma pequena povoação sede de Posto Administrativo, cujos habitantes naturalmente viviam já uma grande inquietação face à gravidade dos acontecimentos ocorridos.
Procurei animar o Chefe de Posto, informando-o sobre o que tinha observado nas Sanzalas entre as povoações do PURI e de SANZA POMBO, por onde passei sem qualquer manifestação hostil e que se encontravam mesmo absolutamente calmas, embora aparentemente com menos gente em relação ao que tinha observado nas minhas anteriores passagens por elas.
Antes de seguir em direcção ao NEGAGE, resolvi verificar a situação existente em CAIONDO e CANGOLA, as povoações mais próximas do PURI, em companhia do Chefe de Posto, que ficou com uma atitude um pouco mais serena e confiante, pois nada de anormal se encontrou.
A ausência de quaisquer acções terroristas pelas populações nativas desta região, entre o NEGAGE – PURI – SANZA POMBO, manteve-se e só bastante mais tarde tiveram lugar os primeiros incidentes, estando já os respectivos habitantes muito melhor preparados para os enfrentar com êxito.
Chegado ao NEGAGE, como sempre fazia quando por lá passava, fui até à Messe da FORÇA AÉREA, onde tomei conhecimento mais detalhado, e também mais fidedigno, sobre o que realmente tinha acontecido, com especial incidência na região do UÍGE confinante com a região dos DEMBOS.
Aí fui encontrar o TEN COR ALBERTY CORREIA que, segundo julgo, chefiava uma qualquer Missão enviada de LISBOA e que ficou admirado com a “ dimensão “ do meu grupo e o tipo de armamento de que dispunha, quase impondo que fossemos escoltados no regresso a CARMONA por uma força constituída por Militares do NEGAGE, como se, naquela altura, ali os houvesse em grande número!...
Partimos mais tarde para os últimos 40 quilómetros de patrulhamento e chegámos a CARMONA cerca das 01H30 de 16MAR61, como seria de esperar sem ocorrência de quaisquer incidentes.
O município, ressaltou, conta com 586 professores a leccionarem em 66 escolas, número insuficiente para atender aos 12 mil e 500 alunos matriculados no presente ano lectivo.
Fez saber que o município necessita também de 60 novas salas de aulas para albergar as crianças que estudam em locais impróprios, assim como para enquadrar os menores que ainda se encontram fora do sistema do ensino.
Segundo Maria Pinto, a administração do Quitexe está empenhada em solucionar os problemas do sector da Educação, principalmente inserir todas as crianças no sistema de ensino.
O Quitexe, em relação à sua dependência administrativa, faz lembrar certos estados da Europa Central e dos Balcãs, que em curtos períodos da sua história passaram a estar na dependência ora de um, ora de outro estado, conforme os caprichos dos homens, as mais das vezes e raramente de harmonia com os seus interesses e relações naturais.
Umas vezes estava integrado no concelho de Ambaca e no distrito do Congo, outras no do Cuanza Norte, finalmente no Concelho do Dange, em que acabou, como sede desse concelho, então criado, embora transitando ainda para o distrito do Uíge.
Em qualquer dessas situações nunca entraram em consideração factores de ordem geográfica e étnica que deveriam ser os mais determinantes, nem tão pouco os de natureza económica, que a partir de certa altura também já eram relevantes.
Neste caso, pelo menos, a divisão administrativa era feita em cima do joelho, por qualquer csar instalado em Luanda, sobre um mapa em que os interesses de alguns faziam desenhar as mais extravagantes figuras.
Isto não teria mais interesse, para além daqueles que resulta de mais uma situação anómala a juntar a tantas outras, se não trouxessem ao grémio das gentes do Quitexe uma figura destacada na galeria dos seus elementos, o então director da Administração Civil do Uíge, o velho Dr. Borja Santos, cabo-verdiano há muito radicado em Angola e que ele mesmo inculcava deverem chamá-lo de “nosso bondoso director” e que as mais das pessoas não tinham relutância em fazer para não desgostarem o velho e também, porque efectivamente não parecia mau homem.
A razão da sua vinda foi igual à de tantos outros: demarcar terrenos para roça de café, e porque não, se até o padre Rosa já tinha uma demarcação no vale do Loje.
Deitou as vistas para uns terrenos à beira da estrada, em frente ao Matos Vaz enxameados de lavras dos povos do Quimassabi e do Quitoque. Tirou uma licença de mil hectares que legalizou no Cadastro como ocupante dessa área. Só que, mesmo ocupando todo o terreno pertencente a essas duas senzalas, nem a quinhentos hectares chegaria.
Isso, aliás, não o preocupou, por aí além.
Não fez concretamente a demarcação no terreno, já porque a licença requerida lá não cabia e também porque iria alarmar desnecessariamente os donos das lavras, que calmamente expulsaria depois, um a um, sem alarmes nem problemas que a tentativa de ocupação total ocasionaria.
A meio da encosta fez uma cubata onde ia passar os fins-de-semana, as mais das vezes a semana inteira, já que a administração Civil passava bem sem a sua presença.
Conforme ia correndo com os negros das suas lavras, aumentava por esse meio a área cultivada e a produção, que mesmo assim nunca passou de pouco mais que nada, à escala de fazenda de branco, pois nesta época, antes das plantações extensivas, dois ou três pés de café constituíam a maior parte das lavras, mesmo assim plantadas pelos morcegos com os restos das suas refeições de café-cereja.
O chefe do posto do Quitexe, em atenção à sua posição hierárquica, mandava para lá trabalhar todas as semanas meia dúzia de homens daqueles que os sobas de todas as senzalas tinham que mandar obrigatória e gratuitamente trabalhar para a granja administrativa do Posto, e que mesmo a própria alimentação tinham que levar da senzala para aquela semana de corveia.
Entre patrão e empregados nunca houve questão com contas. Estavam sempre certas e em dia, até que certa vez um mais animoso, parecendo-lhe que não era a mesma coisa a semana de trabalho que tinha que cumprir na Granja, que era do Estado, e aquela que igualmente cumpria na tonga do nosso bondoso director, encheu-se de coragem e foi pedir contas num sábado, antes de abalar para o seu povo.
- Contas? Então tu não sabes que eu é Estado?
- Não estás a ver estas biçapas?
- Estado é estado, não é patrão de pagar!
E assim continuou ainda por algum tempo, até que a reforma o apeou do galarim e deixou de ser Estado, assim como a fazenda deixou de existir.
Alfredo Baeta Garcia
Luanda - A Associação da União dos Naturais e Amigos de Dande Quitexe (UNADQ) realiza nesta sexta-feira uma excursão turística ao município de Quitexe, província do Uíge, no âmbito das comemorações do 103º aniversário da fundação da região, a assinalar-se a 23 de Agosto.Em declarações nesta terça-feira, à Angop, o presidente da UNADQ, Bartolomeu António Neto, disse que durante a permanência dos excursionistas no município serão desenvolvidas actividades recreativas, desportivas e sociais, sendo que o ponto mais alto das será marcado com um culto ecuménico no domingo.
Segundo o responsável, estão também previstas visitas a locais históricos da região, como a lagoa do feitiço, ponte sobre o rio Dande, as pedras, entre outros.
Bartolomeu António Neto avançou que a instituição tem em carteira, entre outros projectos, a criação de associações e cooperativas agrícolas, pecuárias e outras, visto que a região oferece condições para a produção de variedade de alimentos.
Realçou que para a concretização de tal desiderato, a associação vai manter contactos com outras organizações para a aquisição de máquinas de lavoura, sobretudo tractores, alfaias, charruas, motobombas, entre outros.
O responsável aconselhou os amigos e naturais da região a pautarem pela unidade, respeito e participação activa nas acções que visam o desenvolvimento do município e da província em geral.
Apelou ainda aos munícipes no sentido de fazerem uma reflexão sobre os 103 anos da existência da cidade e a engajarem-se na implementação de programas de carácter sócio-económico e cultural, rumo ao processo de desenvolvimento multifacético da região.
A Associação da União dos Naturais e Amigos de Dande Quitexe (UNADQ) existe desde 10 de Dezembro de 2010, com objectivo de contribuir no desenvolvimento da região.
Nota: Não entendemos a associação chamar-se "Dande" em vez de "Dange" uma vez que este é o nome do município e é o nome que o rio Dande ou Dange tem no Quitexe.
Também não entendemos a data da comemoração uma vez que o posto militar do Quitexe apenas foi instalado em 1917 e, em termos oficiais só em de 8 de Março de 1918 a Portaria nº 54, (Boletim Oficial de Angola n.º 10) definiu os limites do Quitexe, sede da circunscrição do Encoje
João Garcia
Uíge - 17 de julho de 2015 - O governador da província do Uíge, Paulo Pombolo, concedeu hoje posse, nesta cidade, à administradora do município de Quitexe, Maria Odete Ferreira Pinto, então adjunta do referido município.
Durante a cerimónia que decorreu no salão nobre do governo local, Paulo Pombolo empossou igualmente os administradores municipais adjuntos de Quitexe, Negage, Ambuila e Songo, respectivamente, Luís António Banda, Júlio Tuiango, Geraldo Domingos Dembo e Armando Jorge.
Em declarações à imprensa após o acto, a administradora do Quitexe, Maria Odete Pinto pediu participação activa dos munícipes em acções para o desenvolvimento rápido da circunscrição.
Segundo ela, só com a conjugação de esforços pode se desenvolver rapidamente a região.
Sobre as prioridades, afirmou que maior atenção será prestada em acções básicas e sociais, mormente, o saneamento básico da vila, abastecimento de energia eléctrica e de água potável, assim como algumas infra-estruturas e espaços de lazer.
O local onde seria construída, por João Garcia, a terceira casa do Quitexe e a primeira, no que seria a ampla avenida.
Perspetiva da futura avenida vendo-se a casa de João Garcia, à direita, e a casa de Celestino Guerra em construção
Nesta fotografia, tirada da casa de João Garcia, vê-se o terreno onde seria construída a larga avenida interligando as poucas casas então existentes (ao fundo a casa de Jaime Rei).
Fotografia tirada da casa de João Garcia vendo-se a casa de Silva Fogueteiro na rua tranversal que ligaria a Administração à igreja.
Se inicialmente as casas foram sendo construídas mais ou menos ao acaso, embora já houvesse uma intenção de manter alinhamentos ao longo dos caminhos, depois teria surgido uma planificação, com visão de futuro, que permitiu a construção de uma larga avenida, um reticulado de vias secundárias e um amplo jardim em frente dos edifícios da administração.
O amigo Armando Jorge Santos enviou-nos estas fotos recentíssimas do Quitexe, tiradas pelo seu irmão.
É com muita alegria que verificamos que continua a recuperação das casas e algumas das infraestruturas.
O Centro de Saúde já tem novo aspeto e um estimado jardim
A guerra de Angola e a interpretação que dela faziam dois velhos após o seu início
O Correia era um velho teso, decidido e teimoso, amigo do seu amigo, austero até à rispidez e muito exigente. Exigente tanto com os seus empregados, que eram muito poucos, como com aqueles com quem lidava, o que, honra lhe seja feita, nunca pôs nesse relacionamento qualquer descriminação que ultrapassasse os limites da normalidade. Era assim por sua natureza, um transmontano talhado no duro granito da sua terra que os muitos anos de vida nos trópicos não modificaram. Naquela altura, os brancos, que alguma coisa distinguia dos demais, eram, por via de regra, alcunhados pelos negros. Ao Correia, chamaram-lhe TUIA CAVANDUA que significa Não senta; Tem fogo, o que dá uma ideia da maneira como captavam as características mais significativas dos alvejados.
Era casado, sem filhos, com uma francesa que lhe chamava “meu Correiá”. De vez em quando aparecia no Quitexe, quando arranjava boleia, o que era difícil, pois vivia num beco sem saída chamado Cólua. Por aqui ninguém sabia como, quando, nem porquê lá foi parar, vindo provavelmente de Luanda e ali possuía uma “chitaca” e um “boteco” com residência feito de pau-a-pique. Depois do 15 de Março andou perdido e fugido na mata durante dez dias, tentando atingir o Quitexe que por estrada distava cerca de setenta quilómetros, até que lá conseguiu chegar, arrastando-se, prestes a entregar a alma ao criador, sem ter conseguido salvar a mulher. Desta velha francesa nunca se soube verdadeiramente o fim. Foi, possivelmente, igual ao de tantas outras nesses dias, mas como era já velha, devem ter acabado com ela à catanada. No entanto, nunca apareceram vestígios fosse do que fosse. Aliás o Correia foi o único branco que se salvou na área compreendida entre Cólua, Zalala; Vale do Vamba e Vale do Luege até às proximidades do Quitexe.
Mal dizendo a sua sorte, o antigo Tuia Cavandua que nunca mais recuperou da caminhada e do choque que os últimos acontecimentos lhe causaram, começou a sofrer do coração, se é que antes já não sofria. Passava, agora, o seu tempo a clamar, nas horas em que havia disposição para o ouvir, que a partir dos chamados “acontecimentos”, nada mais havia a fazer que arrumar as “ikuatas” enquanto era tempo e desandar para onde se viera, a metrópole.
Depois da matança dos brancos e da correspondente retaliação, e da maneira como tudo foi feito, podia dizer-se que os pretos tinham-nos perdido definitivamente o respeito e o medo. O Silva Porto tinha sido desrespeitado e ofendido, mas não chegaram a tanto. Ele é que não resistiu à afronta. Outros morreram nas guerras antigas e nas mais recentes, mas duma maneira geral a combater e não, como agora, o que trazia alguma lógica ao raciocínio do Correia: mostrar que nada nos protegia, nem as armas que não havia e, muito menos, o respeito que acabara de uma vez por todas e que sempre nos valeu muito mais do que os meios.
O português branco, mesmo o condenado, teve sempre a protegê-lo um prestígio que lhe advinha da vantagem dos meios e dos conhecimentos que aliou à violência sempre que se viu na necessidade de a usar, mas que posteriormente já valia por si próprio.
O Correia tinha, eventualmente, razão, estas coisas uma vez acontecidas raramente se recuperam: destruído o mito, não estavam nas suas mãos os meios quer materiais, quer psico-sociais nem para manter, nem para substituir. Aguentar, esperando um milagre que os tempos em nada ajudavam, era mais uma ilusão. Os factos mostraram, nos anos subsequentes, que foi possível no terreno uma alteração importantíssima da situação inicial, quando parecia que tudo estava perdido. Mas seria necessário um tempo muito longo passado sobre esta nova situação para poder demonstrar se as posições do Correia podiam ser refutadas. Esse tempo foi curto para tirar conclusões e, à falta delas, raciocina-se sobre o que parece mais evidente: Sendo a tese, ou melhor, a conclusão do Correia, um factor que parecia óbvio e apenas um velho com os sentimentos que uma longa permanência naquelas terras lhe proporcionara e, com intenção ou sem ela, teve o mérito de acrescentar uma hipótese que nunca mais viria a alterar-se até ao presente.
Talvez o suicídio de Silva Porto fosse premonitório daquilo que muitos anos depois se chamou “retornados”, e, então, a interpretação do Correia passe a ser menos simplista do que parecia naqueles meses do ano de 1961. Depois perdeu-se a auto-confiança quando o exército português deixou de poder manter, com todas as dificuldades que tinha, o controlo da situação e que teve o seu fim quando esse mesmo exército se auto-demitiu e pôs em evidência aquilo que o Correia catorze anos antes anunciava e se tornou nele uma ideia fixa: “perderam-nos o respeito, perderam-nos o respeito, não há nada a fazer”.
O que nos manteve nos últimos cinquenta anos em paz e sem correr qualquer riscos de violência extrema, dispersos e mesmo isolados, desarmados e confiantes no que parecia ter sido a criação de uma convivência definitiva, foi, efectivamente, esse respeito, independentemente das causas que lhe deram origem.
O Correia, para quem o nome de Cuia Cavandua já não tinha qualquer razão de ser, com o aspecto mais de fantasma que de gente, morria dois anos depois no Quitexe, com cerca de oitenta anos, com um ataque cardíaco, não tendo sido possível socorre-lo com uma simples ampola de óleo canforado, porque se morria de bala, à catanada ou de desastre, mas nunca com oitenta anos e com um coração a condizer.
No outro lado a situação era mais grave, pois se entre os europeus existiam divergências, nunca tiveram consequências que dessem origem a conflitos ou ocorrências de alguma gravidade. Isto não acontecia entre os que estavam por enquanto refugiados nas matas que era a quase totalidade da população indígena. Aí ainda se discutia acesamente o que deveria ser feito a seguir, uma vez que o golpe não teve o resultado que esperavam: os brancos que se salvaram fixaram-se em determinados locais, formando núcleos de resistência e, nalguns casos passando ao ataque. A divisão do lado dos negros tinha uma linha que demarcava com grande nitidez as suas posições e se chamava classe etária. Os mais velhos viam o desenrolar dos acontecimentos à luz da sua própria experiência e daquilo que a sua tradição do antigamente sobre as suas relações com os brancos lhes havia ensinado e formado a opinião que agora sustentavam. Aos mais novos, libertos dessa sabedoria e influenciados pelos acontecimentos dos territórios vizinhos, mais lhes fortalecia a convicção daquilo que o velho correia era o intérprete, no outro lado: os brancos, afinal, já não metiam medo a ninguém.
O velho Canzenza, a quem era difícil determinar a idade, seria possivelmente o preto mais velho da área do Posto do Quitexe. Segundo ele dizia, ficara careca, o que não é vulgar nos pretos, por ter carregado à cabeça até ao Ambriz, sacos de café. Tinha vindo, ainda novo do Cananga e depois “fundou” uma senzala chamada Zenza-Camuti, constituída exclusivamente pela sua família. Não seguia nenhuma religião cristã, seria talvez animista, não falava português, como aliás a maioria dos velhos e era polígamo.
O velho Canzenza, que não devia ter concordado com a iniciativa da revolta, defendia de imediato que se deveriam entregar, o que, diga-se em abono da verdade, seria difícil de concretizar dada a exaltação e o descontrolo que se vivia em ambos os lados. Fundamentava a sua opinião no facto de, em tempo algum, os pretos terem levado a melhor nas suas lutas contra os brancos, quando estes eram em pequeno número e vivendo isoladamente, quanto, mais agora que eram muitos, instalados em mais e maiores fazendas, ou concentrados em povoações comerciais. Por isso se bateu, lembrando os exemplos da rainha Ginga e do N’gola Kiluange que foram “enxotados” pelos brancos de tal maneira que nunca mais os incomodaram. Estas disputas deram origem a autênticas chacinas em plena mata, não por questões ideológicas, mas para se sair do impasse que a indecisão dos resultados da acção inicial tinha criado. Depois cada grupo foi decidindo, por si, tendo-se apresentado a maioria dos Mahungos, que passaram a designar-se por “Guizaco”, outra parte, arrancou em direção ao Congo, a quase totalidade dos Ambaquistas, que eventualmente tinham mais responsabilidades nos “acontecimentos” e, por fim, aqueles que continuaram refugiados na mata, até o exército dar a guerra por acabada. Representava um número reduzido, que de vez em quando dava sinais de vida, o que se pode avaliar pela ineficácia da guerra que nos fizeram durante catorze anos, e que não impediu ter sido o período em que globalmente Angola teve o maior desenvolvimento de toda a sua história.
O Canzenza, coerente com as suas ideias, foi o primeiro a apresentar-se logo nos primeiros dias depois do 15 de Março, antes mesmo das lutas violentas já referidas.
Foi morto de imediato, não sabemos como nem em que circunstâncias, o que não é difícil de imaginar, dadas as condições que, então, se viviam.(1) Com a morte deste homem cometeu-se, simultaneamente um crime e um erro, em função daquilo que já se sabia e melhor, se veio a saber depois, da sua atitude face a tudo o que se estava a passar e dado o seu prestígio junto das populações daquela zona. Seria um elemento de grande utilidade na política que se tentou posteriormente seguir de proceder, cautelosamente, a uma reforma da sociedade angolana, de que nada resultou pois nem sequer houve tempo para avaliar o que se tinha feito.
Os dois velhos, o branco Correia e o negro Canzenza, são dois elementos representativos de entre muitos outros, por onde se pode pegar para tentar uma interpretação, talvez demasiado casuística, do que se pensava naquele tempo. Mais concretamente, pode dizer-se que foram as duas faces da mesma moeda em que cada um escreveu, com a lógica do que era capaz, a sua verdade.
Nota- O Correia que aqui evocado é uma mistura de duas pessoas existentes no Quitexe nesse tempo.
(1)– Sobre a morte do velho Canzenza ler “Quitexe 61 – Uma Tragédia Anunciada”- Garcia, João Nogueira
Alfredo Baeta Garcia
04-09-2013
Segundo o responsável, de Janeiro até ao momento, a Procuradoria Municipal registou 56 processos crimes de natureza diversa.
Dos crimes registados, constam 10 casos de ofensas corporais, 10 furtos diversos, sete homicídios com culpa grave, cinco de posse ilegal de armas de fogo, três homicídios voluntários e dois casos de consumo de estupefacientes.
Eduardo Panzo apontou a proliferação de armas artesanais fora do controlo das autoridades policiais, o desemprego e o consumo de drogas como causas do aumento da criminalidade.
“A facilidade de crescimento de plantações, aqui no Quitexe, incentiva os jovens na produção e consumo desse produto”.
Uíge - Trezentas e 30 toneladas de café mabuba foram colhidas na presente época agrícola pelos cafeicultores do Quitexe, anunciou hoje o administrador de Quitexe, Salvador Lindo Bernardo.
Em declarações à Angop, disse que as quantidades poderão aumentar nos próximos dias, tendo em conta que o produto está ainda na fase de secagem.
O administrador disse, por outro lado, que os cafeicultores não estão satisfeitos com os preços de comercialização do produto, pois o quilo do café mabuba custa AKZ 60, enquanto o comercial custa 125 kwanzas.
Noutra vertente, pontualizou que os camponeses em Quitexe produziram outras 41 mil e 299 toneladas de produtos diversos, como ginguba, feijão, mandioca, batata-doce e rena, inhame, safú e frutas como , abacate e hortícolas.
No âmbito do de combate à pobreza, disse ter sido preparado 10 mil hectares de terra, já distribuído aos camponeses da localidade, para a presente campanha agrícola.
O responsável acrescentou que os camponeses aguardam com expectativa o crédito agrícola de campanha.
Os camponeses do Quitexe estão organizados em 34 associações, compostas por cinco mil 332 membros, quatro cooperativas com 401 cooperadores, 20 pequenos agricultores, mil e 102 produtores de café.
Angop
A título de curiosidade e, embora nunca tenha havido estatísticas fiáveis, a produção de café das roças dos europeus no Quitexe (antigo Posto), antes da independência, rondaria as quinze mil toneladas/ano.
A produção da população indígena, nos últimos anos, antes da guerra (61), e apenas na área do então posto administrativo do Quitexe, terá atingido cerca de quinhentas toneladas/ano.
João Garcia
Quinhentos e 68 casos de malária foram diagnosticados e tratados sem óbitos, de Janeiro a Julho do ano em curso, pelos serviços de saúde da comuna da Aldeia Viçosa, município de Quitexe, a 63 quilómetros a sul da cidade do Uíge, informou hoje, o chefe do centro local, Balumbo Ubika.
Segundo a fonte, a colaboração dos doentes ao procurarem os centros de saúde logo aos primeiros sintomas, bem como as palestras realizadas junto das comunidades sobre os cuidados a ter com a saúde, contribuíram significativamente para o êxito no tratamento dos pacientes.
O responsável do centro de saúde da Aldeia Viçosa avançou que acumulação de lixo em locais impróprios, charcos de água parada a volta das moradias, bem como a falta de mosquiteiros tratados são apontados como os principais factores dos casos registados no centro.
Balumbo Ubika fez saber que além da malária, doenças como as diarreias agudas, infecções da pele, conjuntivite, dores de barriga têm igualmente tido alguma frequência nos atendimentos nos serviços de saúde da circunscrição.
Sublinhou que o centro atende entre 50 a 60 pacientes dia, provenientes de regedorias e aldeias a nível da circunscrição, onde não existe ainda postos de saúde, tendo avançado que as campanhas de limpeza e embelezamento realizadas junto das comunidades continuam a ser evidenciadas, com vista a diminuírem-se, cada vez mais, os casos de malária.
O técnico de saúde aconselho as famílias no sentido de limparem os pátios de casas, dormirem de baixo de mosquiteiros tratados, bem como dirigirem-se sempre aos cuidados de saúde logo nos primeiros sintomas.
Com uma população estimada em seis mil habitantes, a Aldeia Viçosa é uma das duas comunas que o município de Quitexe possui e dista a 63 quilómetros a sul da cidade do Uíge, na sua maioria sobrevivem da agricultura de subsistência.
Uíge - A comuna da Aldeia Viçosa, município de Quitexe, a 63 quilómetros a sul da cidade do Uíge, necessita de 24 novas salas de aulas e 13 professores, com vista a garantir a execução adequada do processo de ensino e aprendizagem, disse hoje, segunda-feira, o administrador local, Tiago Manuel.
A empresa de exploração de madeira (Valana) produz diariamente 15 metros cúbicos de madeira, no municipio de Quitexe, que tem servido para várias obras de construção civil no país.
Em declarações hoje (sexta-feira) à Angop, o director da empresa, João Pombinho, frisou que a unidade produz madeira para vários consumidores a nivel do país, sobretudo os que estão radicados em Luanda.
João Pombinho realçou que antes, a empresa exportava os seus produtos mas, actualmente, com a existência de muitos clientes e a expansão do mercado nacional, a Valana deixou de exportar a madeira, limitando-se vendê-la no país.
"Produzimos todo o tipo de madeira, temos equipamento para o efeito, asseverou João Pombinho, adiantando que a empresa, criada há três anos, está a funcionar há sete meses com uma nova direcção.
A empresa emprega 42 trabalhadores, na sua maioria jovens, todos do municipio de Quitexe, que encontraram o primeiro emprego nesta unidade de exploração de madeira., que dista seis quilómetros, a norte da sede municipal.
O município do Quitexe, 40 quilómetros a sul da sede da cidade do Uíge, conta desde hoje, terça-feira, com uma escola do II clico construída de raiz e devidamente apetrechada com equipamentos técnicos e meios informáticos.
A infra-estrutura tem 12 salas de aula, secretarias, gabinetes dos directores, sala de reunião e dos professores, área administrativa, balneários e outros compartimentos que vão facilitar o funcionamento da instituição.
Na ocasião, foi igualmente inaugurado, pelo governador provincial Paulo Pombolo, um posto de emissão do Bilhete de Identidade devidamente equipado com meios técnicos, uma área para dados biométricos e atendimento, gabinete para análise de documentos, gabinete do chefe do posto, área técnica onde se encontra a estação de impressão, servidor, estação de entrega do bilhete e outros meios.
As infra-estruturas foram erguidas no âmbito dos Programas de Investimentos Público e de Combate à Fome e à Pobreza em curso no país.
Na sua intervenção, o governante aconselhou os habitantes a cuidarem das infra-estruturas que o governo colocou à sua disposição para que possam servir os objectivos traçados.
Paulo Pombolo disse que o governo está bastante apostado na resolução dos vários problemas da população começando pela construção de novas infra-estruturas, melhoramento de pontes e vias de circulação, formação e outros domínios.
Garantiu que dentro do programa do executivo que visa proporcionar o desenvolvimento do município e do bem-estar da população, o governo vai, no próximo ano, construir, no município do Quitexe, sobretudo nas comunas de Vista Alegre, Aldeia Visousa e Cambambe, novas escolas do I e II ciclos, unidades sanitárias, bem como a melhoria da via que liga a sede do município à comuna de Cambambe.
“O governo está a resolver os problemas da população de uma forma gradual, por isso pedimos calma, unidade, coesão, participação activa, bem como a honestidade, para que em conjunto possamos levar o desenvolvimento da região mais avante”, concluiu.
25-06-2013
A delegação provincial da justiça do Uíge está atrapalhar na expansão dos serviços de identificação, nos demais municípios da província, reportou a RNA.A obtenção de bilhete de identidade é a maior preocupação da população.
O delegado provincial da justiça, Miguel Kutoca, disse que depois do município do Uíge e Songo, os cidadãos do Quitexe poderão obter o bilhete de identidade na sua própria área de circunscrição.
Miguel Kutoca adiantou que os equipamentos informáticos já estão montados no município de Quitexe, para o início da operação.
“ Os equipamentos de identificação foram montados para a obtenção de bilhetes no Quitexe”, frisou.
Quinta-feira, 07 de Fevereiro de 2013
As comunidades de Ouimulenzi, Caunda e Quicombo, município do Quiteche, na província do Uíge, já têm sistemas de captação e abastecimento de água destinados a mais de duas mil pessoas no total.
Os referidos sistemas, inaugurados pelo vice-governador do Uíge para a área económica e produtiva, foram instalados no âmbito do programa água para Todos.
O vice-governador também inaugurou os edifícios das sedes das Administrações Comunais de Vista Alegre e Aldeia Viçosa.´
Carlos Samba referiu que “a região deu um grande contributo à luta de libertação nacional” e que “nada melhor para honrar os mais velhos do que equipar as comunidades com escolas, postos de saÚde e outros serviços que dão dignidade aos seus habitantes” Na comunidade de Caunda estão a ser construídos 200 fogos habitacionais e na comunidade da Caunda uma escola de seis salas.
O administrador do Dange Quitexe anunciou que “a próxima aposta” é a reabilitação do troço entre Vista Alegre a Cambamba e a construção de mais escolas do ensino primário e unidades de saÚde.
Domingo, 03 de Fevereiro de 2013
A Lagoa do Feitiço pode vir a ser reconhecida Património Cultural da província do Uíge, caso seja provado o fenómeno ocorrido em Dambi à Angola, na comuna da Aldeia Viçosa, município do Dange Quitexe, província do Uíge, há muitos séculos, antes da chegada dos portugueses ao antigo Reino do Congo.
Neste momento, a Direcção Provincial da Cultura está a promover acções no sentido de recolher mais dados que comprovem, de facto, que este bairro ficou submerso em consequência de uma chuva miÚda que caiu sobre a localidade, transformando-o numa lagoa.
“Estamos a investigar o local no sentido de podermos encontrar dados mais convincentes sobre a transformação do bairro em lagoa. Já procurámos obter mais informações acerca da família que se salvou na altura dos acontecimentos. Queremos, portanto, seguir a genealogia dessa família, para descobrirmos o período real da ocorrência, porque não existem fontes escritas, temos apenas fontes orais”, disse Moisés Mateus Feliciana, director provincial interino da Cultura, que visitou o local no âmbito das comemorações do 8 de Janeiro, Dia Nacional da Cultura.
Um dos objectivos da investigação que está a ser feita sobre o surgimento da lagoa é a valorização dos mitos que existem sobre ela. Para isso, a Direcção Provincial da Cultura está a tentar encontrar mecanismos mais viáveis para que isso seja possível. “Aqui, ouvimos histórias que podemos fundamentar como sendo um verdadeiro mito. Mas é necessário fazer um estudo científico para sabermos o que fazer em relação à sua valorização no contexto cultural”, referiu.
Início do projecto
O projecto que pode transformar a lagoa em património cultural começa com a recolha de informações, para depois se fazer uma resenha sobre o local junto das autoridades provinciais, tendo em vista o concurso promovido pelas direcções provinciais da Cultura e do Turismo, para a sua publicitação e valorização turística.
O historiador Pedro Senas Gomes Dissungua, chefe do departamento de património cultural, defendeu que os historiadores, antropólogos e sociólogos devem agir em conjunto, para que os trabalhos de investigação sobre os factos que deram origem à Lagoa do Feitiço e outros locais e monumentos históricos da província, decorram da melhor maneira possível e os resultados preconizados sejam alcançados.
O bairro Ngungo Indua
No local onde hoje está a Lagoa do Feitiço existia um bairro, o Ngungo Indua, que submergiu em consequência de uma chuva miÚda que caiu sobre a localidade. Segundo os mais velhos, o fenómeno ocorreu há muitos séculos, antes mesmo da chegada dos portugueses ao Reino do Congo.
O sito é envolvido por um silêncio quase absoluto e a sua paisagem é muito atractiva. O acesso é livre, mas é preciso observar determinados rituais. As autoridades tradicionais despejam vinho, champanhe, maruvo e refrigerantes na água e pronunciam algumas palavras. “São dirigidas aos espíritos que habitam na lagoa”.
A chuva, segundo contam, tinha sido prevista por um homem que tinha chegado à aldeia com muitas chagas no corpo e foi desprezado pelos aldeões. Foi acolhido por duas crianças e apenas a estas ele pediu que abandonassem a aldeia, pois ela ia desaparecer sob uma nuvem negra.
Os rituais e a sua importância
Contam os mais velhos da zona que um fazendeiro português, ignorando as recomendações dos nativos, violou as regras vigentes no local e uma desgraça abateu-se sobre a sua família. Passou a haver muitas mortes e o fazendeiro, que se chamava José Dinis, começou a tratar o lugar por Lagoa do Feitiço.
Desde então, passou a ser obrigatório realizar os rituais que até hoje são observados para se ter acesso ao local. A comida e a bebida que lá é posta serve para pedir perdão às sereias, por todo o mal que os antepassados da aldeia fizeram, de forma a evitar novas desgraças.
Hoje, já se pode beber a água da lagoa e tomar banho nela. Mas só os nativos de Dambi à Ngola estão autorizados a tocar nela sem autorização. Se um estranho tocar na água sem autorização dos mais velhos da aldeia, pode desaparecer misteriosamente.
As vilas municipais da Damba e Dange Quitexe, na província do Uíge, vão ganhar, nos próximos tempos, uma nova imagem, assim que forem implementados os planos de expansão e urbanização das referidas parcelas territoriais.
Os referidos planos foram apresentados sexta-feira por técnicos da direcção provincial do Urbanismo e Construção e da empresa Soapro às autoridades da Damba e Dange Quitexe.
O programa sobre o planeamento e ordenamento do território, organização e construção de habitações nas cidades, vilas municipais e comunais é levado a cabo pelo Executivo, com vista ao melhoramento daquelas regiões.
O director provincial do Urbanismo e Construção do Uíge, Seluyeki Manuel, disse que o programa vai dar origem a casas sociais e a programas de autoconstrução dirigida a nível dos referidos municípios.
O trabalho final sobre o plano urbanístico da vila do Quitexe, município do Dange , prevê a colocação de vários arruamentos que permitem melhorar as condições de habitabilidade das populações, direccionar o programa de autoconstrução dirigida e outros investimentos ligados à construção de residências.
Neste momento, disse que o município do Quitexe dispõe já de instrumentos que permitem que sejam implementados projectos habitacionais sem quaisquer constrangimentos. O plano de urbanização do município de Quitexe foi produzido em três volumes. O primeiro sobre o regulamento que compreende as peças fundamentais do projecto, apresentando os documentos que orientam a implementação do plano, o loteamento de terrenos para a construção das residências e o afastamento das mesmas em relação às ruas.
O segundo volume mostra o ordenamento de todas as peças desenhadas no espaço público do projecto urbanístico, com o quadro sinóptico de todos os lotes apresentados. O loteamento de terrenos aparece exposto com maior clareza no terceiro volume do plano urbanístico do município, apontou o responsável.
Plano orientador
O administrador municipal do Dange-Quitexe, Salvador Lindo Bernardo Cuhema, disse que a empreitada vai servir de plano orientador para a construção de habitações em benefício das populações locais, no geral, e da juventude, em particular. Disse que o Governo Provincial do Uíge está preocupado em cumprir com as orientações superiores nos domínios dos programas de reestruturação e requalificação das cidades e vilas, daí ter estado a trabalhar na elaboração de planos urbanísticos e directores, bem como nos perfis de todos os municípios.
Estas acções, ressaltou o responsável, levam a província a acompanhar uma cadência paralela com aquilo que está a ser feito noutras localidades e provinciais do país. O director provincial do Urbanismo e Construção Seluyeki Manuel afirmou que o plano urbanístico do município da Damba dispõe de elementos necessários, em termos de infra-estruturas, que permitem a administração local gerir melhor o crescimento daquela parcela do Uíge.
As acções vão permitir que se melhore a gestão da extensão da rede de águas, instalação de energia e a construção de sistemas de drenagem, para facilitar a implementação de futuros investimentos naquela localidade municipal.
Seluyeki Manuel avançou que, na Damba, os munícipes já podem solicitar, na administração municipal local, lotes de terrenos para a autoconstrução dirigida dentro da reserva fundiária do Estado, com cerca de 120 hectares.
Zonas indicadas
Com base nesse instrumento e de acordo com as percentagens feitas na zona indicada como pública, a administração poderá gerir os espaços que tem e atender as solicitações de acordo com o plano urbanístico feito, respeitando os arruamentos e os esquemas que visam manter a organização especial da zona, explicou.
Garantiu que as principais dificuldades que as populações locais enfrentam no que tange à urbanização do município, como os problemas do cemitério municipal, ravinas e a linha de alta tensão de energia eléctrica, foram revistos pelo consultor durante a elaboração do plano urbanístico.
As cinquenta moradias sociais da primeira fase da requalificação do município do Quitexe, 40 quilómetro a sul da cidade do Uíge, foram concluídas este ano, das 200 casas previstas nessa localidade.
Recordemos o 15 de março com dois poemas de Alfredo Baeta Garcia, meu tio, varzeense no nascimento e no ocaso, portoalexandrense de coração e quitexense por devoção, falecido em 13 de Setembro de 2012 com 90 anos.
À memória do ignorado capataz de tonga que sofreu e morreu a defender nem ele sabia o quê
Os olhos estão baços e abertos
E os restos do corpo descobertos,
Lacerados na beira da picada
Sem ninguém a gemer loas amigas.
Começa o banquete das formigas
No sangue que correu da catanada
Fica ali algum tempo esquecido
Quando o encontram, parte já comido.
Ninguém sabe ao certo onde nasceu
E se ainda lá tem mãe ou não
Que lhe reze à noite uma oração
Sem o saber, que ele já morreu.
O que o levou ali foi o destino
Que já trazia em si desde menino,
Nem pátria, nem dever, nem devoção,
Tão pouco o que houvera de ser seu.
Mesmo a vida que um dia Deus lhe deu
Foi p’ra cumprir a humana solidão.
Apanhou toda a chuva e mais o sol
Sem nunca ter o nome em qualquer rol,
Não foi soldado nem marcava o ponto,
Não tem cruz nem sequer campa rasa,
Beija-o o sol c’o seu calor de brasa
E os mais que não estavam lá por conto.
Podia até ter sido uma ambição
O que o levasse àquela condição
E se foi diluindo na descrença
Até ficar apenas a saudade
A durar o que fosse a sua idade
Com morte acidental ou de doença.
Morrer desta maneira, à catanada
Não são coisas da vida, não é nada,
É ser peão num jogo com batota
Em que uns fazem de heróis da festa
De que afinal de contas nada resta
Nem a história deles toma nota.
Não há cruzes na beira dos caminhos
Nem memórias nos vivos dos mesquinhos
Anónimos sem fama e sem lamento
Que deram o que tinham, mas por nada
Como maldita sorte, desgraçada,
Mais o antecipado esquecimento.
Estar entre a vida austera e as misérias
Sem sábados, domingos e sem férias,
É ter vida pior que contratado,
O primeiro na forma em fila longa
O último à noite a vir da tonga
Em chuva e suor agasalhado.
Nas noites tropicais daquelas matas,
No meio do capim onde há cubatas,
Nos caminhos direitos e nos tortos,
A natureza inteira, insubmissa
Reza eternamente a sua missa
Por todos quantos lá ficaram mortos.
Alfredo Baeta Garcia
À memória dos que pereceram na picada e nas mãos da pide
Conjuntura
Sem soba ninguém decide,
Desapareceu, foi na Pide.
Sem branco não anda nada,
O seu fim foi na picada.
Segura bem a Gê Três,
Olha o capim mais a estrada
P’ra não ser a tua vez
E o teu fim ser na picada.
Não se vê, não está presente
O que era o nosso Cid?
Por se fazer saliente,
Desapareceu, foi na Pide.
No muxito apura a vista,
Que em qualquer curva apertada
Pode estar um terrorista
E o teu fim ser na picada.
Mãe preta de todos nós
E razão da nossa lide,
Não se ouve a sua voz.
Desapareceu, foi na Pide.
Já a salvo no terreiro,
Ouves ainda a rajada.
Lá se foi um companheiro,
O seu fim foi na picada
O Bom Deus do nosso povo
Que era filho de David,
Pregado na cruz de novo,
Desapareceu, foi na Pide.
Igual a sorte marcada
Aos dois ligados pl’envide,
Foi ter fim na picada
Ou desaparecer na Pide.
Alfredo Baeta Garcia
O administrador municipal do Quitexe, Salvador Lindo Bernardo Cuhema, solicitou hoje, segunda-feira, naquela circunscrição, a sul da capital da provincia do Uíge, a participação activa de todos habitantes e a sociedade civil, para o desenvolvimento rápido e sustentável da circunscrição.
Em declarações à Angop, o administrador recentemente reconduzido no cargo pelo governador provincial, Paulo Pombolo, disse ser importante e indispensável a participação de todos os municipes no cumprimento das diversas acções agendadas pelo executivo provincial e central e que visam o desenvolvimento harmonioso e sustentável da circunscrição.
"Durante o mandato precisamos dar maior atenção ao desenvolvimento dos sectores social, económico e produtivo, passando necessariamente pelo aumento de infra-estruturas e formação de recursos humanos", frisou.
Defendeu igualmento a necessidade de se incentivar o empreendedorismo no seio dos cidadãos, bem como proporcionar um apoio adequado aos camponeses organizados em associações e cooperativas para contribuir no aumento da produtividade dos alimentos.
O gestor avançou que durante o mandato, a administração municipal de Quitexe vai também prestar maior atenção no melhoramento das vias secundárias e terciárias, com vista a facilitar o escoamento dos produtos agrícolas alimentares, uma vez que os habitantes produzem grandes quantidades de alimentos e têm tido dificuldades no seu escoamento, bem como apoiar em meios e bens diversos as pessoas mais carenciadas.
Durante o mandato, que terminou, realçou, muita coisa foi feita, o município ganhou várias infra-estruturas sociais e económicas, estabelecimentos comerciais e outros, o que permitiu mudar a imagem arquitectónica da vila em relação ao passado, mas ainda precisa-se fazer muito mais, visto que o Executivo gizou diversas acções que serão cumpridas durante o quinquénio e que proporcionarão cada vez mais melhores condições de vida e de habitabilidade aos cidadãos.
Desejamos votos de sucesso ao novo administrador municipal do Quitexe Salvador Lindo Bernardo Cuhema e aos novos administradores comunais de Vista Alegre, Aldeia Viçosa e Cambamba.
Um total de 45 estudantes finalistas do quarto ano pedagógico do Instituto Superior das Ciências da Educação (ISCED) participou no rio Lumange, município do Quitexe, sul da cidade do Uíge, numa excursão académica que visou o encerramento do ano lectivo 2012.
A excursão foi orientada pelo professor e pedagogo do ISCED no Uíge, Lando Miabassimba Francisco, quem dissertou sobre dois temas, nomeadamente “algumas reflexões ou dicas no tempo e no espaço” e “a corrupção é um veneno perigoso”.
Durante a excursão, os participantes abordaram igualmente matérias que têm a ver com a “pontualidade”, “lógica”, “necessidade do tempo”, “maneiras de funcionamento no espaço e no tempo” , “a consolidação dos laços de amizade entre os estudantes, colegas e professores”, entre outras.
O professor Lando Francisco disse à Angop, no termo da deslocação a Quitexe, que a excursão teve também como objectivo a despedida do ano académico 2012 e a troca de experiências entre os professores e os estudantes para o aprofundamento de matérias académicas. “Para os finalistas do quarto ano de pedagogia, todos anos tem sido assim e esta é a quarta excursão desde a fundação do ISCED, em 1997”, realçou.
O chefe da turma dos estudantes diurnos de pedagogia no ISCED no Uíge, Armindo Venâncio, disse que a excursão é uma actividade muito importante porque visa proporcionar conhecimentos aos estudantes sobre outras matérias e aprofundar a amizade no seio do colectivo.
O soba interino da aldeia Cuale, Infausto João, agradeceu o gesto dos estudantes do quarto ano pela escolha do local e reconhecimento das suas atracções turísticas.
Afirmou que Lumange é um bom sítio para a realização de excursões, tendo adiantando que espera, com esta iniciativa, que se vá cada vez mais atraindo a confiança para que também sejam construídas infra-estruturas. A excursão decorreu sob o tema “Decididos por uma melhor qualidade de ensino em Angola”.
Uíge
Dados das 14:39
2 de Setembro de 2012
Município: Quitexe
Informação geral |
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Censo |
11.925 |
|
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Censo escrutinado |
11.925 |
100% |
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Mesas |
60 |
|
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Mesas escrutinadas |
60 |
100% |
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Votação |
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Total de votos |
9.799 |
|
Votos brancos |
516 |
5,27% |
Votos nulos |
164 |
1,67% |
Votos reclamados |
10 |
0,10% |
Votos válidos |
9.109 |
92,96% |
Partido/coligação |
Votos |
|||
MPLA |
MPLA |
7.871 |
86,40% |
|
UNITA |
UNITA |
686 |
7,53% |
|
FNLA |
Frente Nacional de Libertação de Angola |
326 |
3,57% |
|
PRS |
Partido de Renovação Social |
112 |
1,22% |
|
CASA-CE |
Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral |
97 |
1,06% |
|
PAPOD |
Partido Popular para o Desenvolvimento |
6 |
0,06% |
|
FUMA |
Frente Unida para a Mudança de Angola |
5 |
0,05% |
|
CPO |
Conselho Político da Oposição |
4 |
0,04% |
|
ND |
Nova Democracia União Eleitoral |
2 |
0,02% |
Eleições Angola 2012 | Comissão Nacional Eleitoral
Os actos de violência contra mulheres e crianças por parte de familiares são as principais causas de separação em muitas famílias e do aumento do índice de crianças abandonadas nas ruas do município do Quitexe, disse ontem, ao Jornal de Angola, a chefe do sector da Família e Promoção da Mulher naquela circunscrição.
Domingas Mário avançou que, de Janeiro a Julho do ano em curso, o seu sector registou 14 casos de violência doméstica contra mulheres e crianças, provenientes das diferentes localidades do município.
Os casos de maior relevância ou de difícil resolução, referiu, são encaminhados para as estruturas provinciais. “Estamos muito preocupados com o aumento dos casos de violência, porque muitas das vítimas chegam ao nosso centro com ferimentos graves. Por isso, criámos equipas de sensibilização que estão a desenvolver diversas actividades nas igrejas, escolas, comunas, regedorias, aldeias e noutras localidades de maior densidade populacional”, disse.
Com o trabalho de sensibilização actualmente em curso, o sector da Família e Promoção da Mulher pretende esclarecer os habitantes sobre o mal que os actos de violência podem causar às famílias, informando-os sobre a Lei Contra a Violência Doméstica em vigor no país.
Os conflitos nos lares, o consumo excessivo de drogas e de bebidas alcoólicas, a fraca possibilidade económica e financeira das famílias e a má interpretação do termo de igualdade de direitos por parte de algumas mulheres, também têm contribuído para o desentendimento e separação das famílias.
O diálogo, a unidade, o respeito, o amor ao próximo e a fidelidade são, para a responsável, alguns dos princípios que proporcionam o bem-estar nas famílias. Sem a observância destes princípios, a responsável considera que dificilmente a sociedade alcança um progresso harmonioso.
Domingas Mário pediu às mulheres locais para fazerem formações nas mais diversas áreas, porque o país necessita da contribuição de todos para o seu desenvolvimento e, lembrou, antigamente era pouco notória a inserção de mulheres nos cargos de direcção e chefia.
“A mulher era vista como uma simples doméstica mas, fruto da formação académica, profissional e técnica de muitas delas, o Executivo aprovou vários Decretos que estão a permitir que muitas mulheres sejam nomeadas para cargos públicos”, salientou, notando que no município de Quitexe mais de 20 por cento dos cargos de direcção são ocupados por mulheres, facto que está a motivar muitas outras a fazerem formação académica e profissional.
“Actualmente, o papel da mulher é valorizado. Por isso, nós, as mulheres, devemos continuar a apostar na formação para que o número de mulheres em cargos de direcção cresça cada vez mais, porque o desenvolvimento de uma região não depende apenas dos homens. As mulheres também têm uma palavra a dizer”, afirmou.
Nesse sentido, reprovou o comportamento de muitos homens que impedem as suas mulheres de frequentarem as escolas, porque hoje elas estão cada vez mais apostadas em demonstrar as suas verdadeiras capacidades intelectuais e profissionais, para que a sociedade esteja devidamente equilibrada.
“Os nossos antepassados viveram momentos difíceis. Muitas mulheres não sabiam ler e escrever, mas hoje a situação é completamente diferente, porque elas procuram demarcar-se do passado e apostam cada vez mais em conhecer a evolução tecnológica e científica”, concluiu. O município do Quitexe possui três comunas, Vista Alegre, Aldeia Viçosa, Cambambe e conta com 75 aldeias.
O chefe da repartição municipal da Saúde em Quitexe, Kunzica Miguel, regozijou-se hoje com o facto de a população local beneficiar dos serviços de saúde humanizados e mais perto dos habitantes, fruto da construção de novas unidades sanitárias e o aumento de técnicos de enfermagem e administrativos.
O Jornal de Quinta Feira, 2 de Junho trás poucas novidades. Refere-se aos encontros do Presidente com as delegações do governo do Congo e da Frelimo. Realçamos, no entanto, o discurso de Agostinho Neto perante a delegação da FRELIMO. Um discurso comedido, em que tenta enquadrar historicamente os motivos das divergências e remetendo muitas culpas para os extremistas de Portugal.
Transcrevemos na íntegra:
“ Nós tivemos estes acontecimentos resultantes de uma série de situações que vêm do tempo da guerra e que não foram resolvidas no momento oportuno.
Como o camarada Sérgio sabe, Angola teve durante a luta várias regiões, várias tendências que não comunicavam umas com as outras. Houve uma altura em que nós quisemos fazer a comunicação entre a Quarta Região e a Primeira Região e os nossos camaradas foram massacrados no limite ocidental da província de Lunda.
Alguns camaradas estiveram muito tempo na cadeia, outros camaradas desapareceram, mas o que é certo é que nós sofremos naquele momento perdas e portanto houve uma divisão dos indivíduos que dirigiam a luta em várias regiões, alguns dos quais são aqueles que hoje estão em fuga. Eu não disse “camaradas” porque finalmente, estamos a ver que nem todos eram realmente camaradas.
E agora, depois da independência, começaram a revelar-se as ilhas políticas que nós temos aqui em Angola. Ilhas políticas que tinham ideias diferentes e a confrontação que se fez agora é uma confrontação entre radicais e os camaradas que seguem a linha do Movimento. Os radicais são apoiados pelos extremistas de Portugal, ainda têm relações muito íntimas com Portugal. São indivíduos que funcionaram sempre dentro das ideias dum esquema europeu e extremista de organização.
A confrontação principal aqui é que nós defendemos a unidade nacional. Eles não, eles gostariam de ver uma Classe Operária a governar, mas a governar sozinha e combatendo, continuamente, as outras classes.
Eu não concebo isto, não houve da parte de nenhum país socialista uma atitude dessas. E se nós não estamos de acordo com certas práticas sociais e políticas duma pequena burguesia, dum campesinato, isso não significa que devemos abandonar. É preciso dirigir para ser todo o Povo junto.
Um dos pontos que foi atacado muito frequentemente foi a quetão racial. Esses indivíduos pensavam que era preciso retirar brancos e mestiços da direção e isso justifica alguns ataques individuais em relação a certos dos nossos camaradas dirigentes. E é extremamente infeliz que, neste momento, em que nós acabamos apenas de assistir a confrontações militares junto das nossas fronteiras, na fronteira oriental e nós fomos atacados na fronteira sul, pelos sul-africanos, em Santa Clara, que tenha haviso esta coincidência. Talvez tenha sido apenas uma coincidência mas o que é certo é que há estrangeiros que estão implicados neste processo.
Portanto, eu penso que o Povo de Angola não vai continuar a ter uma posição que possa complicar ainda mais o nosso processo de reconstrução e vai, como eu faço agora, agradecer aos camaradas de Moçambique que vieram aqui para se informar e para nos trazer o seu apoio.
Portanto a luta continua. Muito obrigado.”
No editorial referem-se às relações com a União Soviética, embora não se mencione este país:
(…)“ Daí a certeza absoluta de que a nossa independência de decisão não pode ser interpretada como hostilidade a este ou aquele país com quem temos profundos laços de amizade, como igualmente não pode ser interpretada por ninguém como posição de aproximação de linhas que desde sempre nos foram irredutivelmente opostas. (…)
Estamos ligados por laços indestrutíveis aos países socialistas e estamos abertos às relações de mútuo respeito e não ingerência com todos os países do mundo. Tal posição de sempre, não nos coíbe, no entanto, de afirmarmos as nossas posições relativamente a todos os problemas que nos digam respeito de perto ou de longe. Do mesmo modo que o fraccionismo, usando uma cobertura pseudo-revolucionária, terá impressionado alguns entre os nossos amigos (…)”
Vão sendo publicadas mensagens de todo o país de repúdio pela ação dos nitistas:
Na última página a fotografia do Comandante Nzaji
A 1º página do Jornal de Angola de 1 de junho é dedicada à visita de 34 sobas da província de Malange que vieram apresentar cumprimentos ao Chefe do Estado, ao Comité Central e ao governo. Vieram, também, denunciar os actos de sabotagem praticados pelo ex-comissário provincial e do fraccionista Santos .
Este facto é realçado porque, além de Malange ser uma zona onde os fraccionistas tinham grande influência, há, também uma mudança de atitude do MPLA em relação à autoridade tradicional dos sobas, prometendo-lhes responsabilidades administrarivas.
Agostinho Neto refere no discurso de agradecimento:
“Muitos camaradas que trabalharam durante muitos anos na guerra, antes da independência e depois da independência foram mortos. Os corpos foram encontrado queimados. E isso tudo porque alguns camaradas não assimilaram a maneira de discutir os problemas políticos dentro do Movimento. Quer dizer, preferiram ir para a violência do que discutir.
O Comissário Provincial de Malange está detido. E alguns camaradas da comissão diretiva do MPLA, em Malange, também foram detidos, porque agiram contra o MPLA."
Refere-se depois à sabotagem, que estaria a ser feita pelos fraccionistas, ao transporte da farinha e do algodão da zona da Malange, apesar de haver comboio todos os dias para Luanda.
E salienta a atitude do chefe da Polícia Militar que não pagava os vencimentos aos militares, mas guardava no cofre 185 000$00. “E depois falava contra o Estado Maior General.”
"E eu quero garantir aos camaradas que nós continuamos a confiar na responsabilidade administrativa de cada área aos sobas que lá estavam, desde que eles tenham sentimentos patrióticos, desde que eles não tivessem servido os interesses dos portugueses."(…)
O jornal dá, também, amplo destaque à chegada a Luanda de delegações da República Popular do Congo e da FRELIMO que vêm prestar solidariedade ao Presidente Agostinho Neto.
Mas se Agostinho Neto, nos seus improvisos ainda se refere a alguns fraccionistas como camaradas, os editoriais e artigos de opinião (não assinados) e todas as notícias clamam por vingança.
Respigamos apenas alguns dos epítetos com que são mimoseados os fraccionistas:
Sanguinários, facínoras, feras fascistas, bandidos, assassinos, lagartixas.
“Neste momento o primeiro gesto de defesa da nossa pátria, da defesa dos nossos filhos, da garantia do seu futuro, da certeza de continuarmos a viver, é encontrarmos os sanguinários Nito Alves, Zé Van-Dúnem e toda a camarilha que os seguiu. Caçá-los como lobos. Denunciar essas feras fascistas é prestar uma homenagem a cada criança (…)
Noutro artigo:
"A justiça revolucionária será feita. A sentença será ditada pelo MPLA que saberá interpretar corretamente as aspirações das massas populares. A justiça far-se-á implacavelmente. Há que punir severamente os contra-revolucionários. A ditadura democrática revolucionária existe para reprimir os inimigos do Povo, do MPLA e da Revolução Angolana. Não haverá tolerância nem contemplações. O gume acercado dessa ditadura cairá impetuosamente sobre as lagartixas."
Nas páginas centrais colocam-se lado a lado fotografias das vítimas do golpe e das atrocidades cometidas pelos “fantoches” (FNLA em 75).
Finalmente na última página começam a ser publicadas, a toda a página, as fotografias dos elementos destacados do MPLA mortos durante ao tentativa de golpe.
O Jornal de Angola não se publicava ao domingo pelo que o próximo número saiu segunda-feira ,dia 30 de maio. Não possuímos esse número, pelo que vamos analisar o jornal publicado terça-feira dia 31 de maio.
Já teria sido anunciada, na véspera, a morte dos dirigentes do MPLA, pelo que nas páginas deste jornal se dá amplo destaque ao assunto.
Na 1ª página uma nova comunicação ao país de Agostinho Neto, acompanhada de uma uma fotografia de corpos queimados encontrados no farol das Palmeirinhas “barbaramente massacrados pelos fraccionistas”.
“ Cada vez se vão esclarecendo mais as ligações políticas e militares de Nito Alves e José Van-Dúnen, para a realização dum golpe de estado na República Popular deAngola.(…)
Neste momento, há centenas de presos, somente na cidade de Luanda, e muitos outros nas províncias. E todos eles prestam declarações, todos eles informam. Uma das coisas que nós dissemos foi que o Comissário político das PAPLA, Bakalof, estava ligado ao fraccionismo. (…) E também Monstro Imortal está detido, porque como nós já temos a certeza, ele participou em muitas atividades contra o governo. Vários elementos do Comissariado Político das Faplas, também, foram detidos . (…)
Esses elementos fracionistas tinham constituído uma direção política. Tinham constituído um comando operacional, ao qual também pertenciam elementos do destacamento feminino e alguns comissários provinciais. Nós exoneramos o Comissário Provincial de Luanda. O Comissário de Malange está detido. E estamos a investigar acerca de outros. Tinham alguns elementos da OMA, da JMPLA, alguns elementos na UNTA e nas FAPLA.”
Mais à frente nega a participação cubana na repressão da revolta. Quanto aos camaradas soviéticos “ nem sequer aparecem. Estão fora desta contenda.”
“Sim, os camaradas cubanos estão connosco. Nós sabemos fielmente, diretamente. E não há nenhuma clivagem entre angolanos e cubanos. Não há. Estamos ligados por laços que não podem ser destruídos. Mas é falso dizer-se que foi por causa da presença dos camaradas cubanos, em Angola e exclusivamente por essa causa, que esses bandidos foram esmagados e serão neutralizados.(…)
É claro que há estrangeiros que estão implicados neste processo. Não os vou mencionar hoje. Vou mencionar mais tarde. À estrageiros que andaram a incitar, principalmente em Luanda, onde estão as embaixadas.
E agora, a questão é para o nosso Povo encontrar as cabeças desta tentativa de golpe. Eles estão mergulhados em caves, estão escondidos. Mas é possível encontra-los e fazer justiça.
E não me venham dizer que procedendo assim, nós estamos a defender uma direita no país. Não é isso. Não há direita que resista a uma esquerda unida. Mas a direita avança quando a esquerda está dividida. E o que quiseram fazernos aqui era dividir a esquerda, dividir os progressistas, dividir os nacionalistas, em dois grupos, para que a direita pudesse avançar mais depressa.”
Termina apelando “à caça” ao fraccionista:
“Camaradas e Compatriotas:
Não vamos simplesmente pensar que é necessário dar um combate sério e verdadeiro aos fraccionistas. Mas vamos atuar duma maneira prática em cada bairro, em cada cidade, em cada sanzala, em cada Kimbo. Vamos procurar os reacionários. Desde que eles apareçam, vamos fazer justiça.”
Ainda na 1ª página o editorial clama : “Vingar os heróis”
Segundo o articulista, provavelmente o diretor do jornal , Costa Andrade (Ndunduma) a estratégia do golpe passaria pela realização de uma manifestação ilegal que, sendo reprimida , daria o argumento para acusar o “Líder Querido”, o governo e o MPLA de repressão contra o povo. Por outro lado criavam problemas na distribuição dos alimentos para fomentar a revolta e exacerbavam o racismo e o regionalismo afim de captar os incapazes, os lupem, os drogados, para a aventura de assalto ao poder.
“O preço a pagar pela oposição ao golpe foi o mais alto, sofrido na Luta de Libertação, em quadros superiores. Foi necessário chegar à ambição neocolonialista e fascista mascarada de palavreado falsamente marxista para vermos os heróis vivos da pátria, esquartejados e queimados depois.”
E conclui:
“Sanguinários, fascistas da pior espécie mataram com requinte, queimaram os corpos das sua vítimas e atiraram as viaturas onde os meteram esquartejados para as barrocas onde o povo os pudesse ver e marcar para sempre na memória a mais terrível das recordações.
Em nome de todas as Mães, em nome de todos os combatentes, (…), em nome da Revolução Socialista, em nome da Vida, a Pátria de pé exige que Nito Alves, Zé Van-Dunem e os seus apaniguados facínoras sejam fuzilados!”
Nas páginas centrais fotografias dos corpos dos camaradas assassinados e das manifestações dos apoiantes dos revoltosos.
Todos os restantes artigos vão no mesmo tom, o fuzilamento dos fraccionistas.
Destaca-se pela violência das palavras o artigo “PRUMO”:
Os revoltosos são reduzidos à condição de “lagartixas racistas, pequenas lagartixas de palavreado livresco e sem sentido, pseudo-marxista e mentiroso.”
E termina:
“Contra a violência reacionária, só a violência revolucionária será eficaz. E o fuzilamento não seria um forma de punição demasiado severa para os crimes praticados pelas lagartixas fraccionistas.”
Num outro artigo, “Temas de luta,” recordam-se as palavras de Agostinho Neto:
“Seremos o mais breves possível para podermos resolver esses problemas, e vamos tomar decisões segundo a lei revolucionária”.
Segundo o articulista “esta orientação define o fim da tolerância e traça o procedimento a ter para com os que quiseram parar a Revolução. Se hoje fossemos tolerantes, amanhã já não haveria revolução. É preciso compreender que quando se é implacável na repressão à contra-revolução, isso significa que não há outra via.”
Na terceira página inicia-se o “inquérito” á população que se irá prolongar ao longo de vários números.
Curiosamente, nesta primeira abordagem o repórter refere:
“Durante o nosso inquérito tivemos a oportunidade de verificar que algumas pessoas, ou se encontram receosas, ou estão com “eles”. Abordados alguns transeuntes e explicadas as razões de ali nos levaram, a resposta permanecia: “Não sei de nada. Não ouvi nada”. Não acreditámos! Mas enfim, haverá tempo de vermos quem está com o MPLA e quem não está.”
João Garcia
Comemoram-se hoje 35 anos sobre os acontecimentos do 27 de maio de 1977 em Angola.
Passados 35 anos ainda as emoções estão vivas e é fácil ter opiniões maniqueístas sobre o assunto. De um lado os bons, que dedicaram a vida à revolução, do outro os torcionários que se aproveitaram do golpe e, numa espiral de terror, vingaram os seus mortos num banho de sangue que eliminou os melhores de uma geração. Familiares, amigos e camaradas de longa data viram-se dos dois lados das trincheiras.
Infelizmente a realidade foi mais complexa e há perguntas que nunca terão uma resposta:
A repressão teria sido tão violenta se não tivessem sido mortos os membros destacados do MPLA? (Ainda me pergunto, hoje, se em Portugal no 11 de Março ou no 25 de Novembro de 75, tivessem sido mortos 7 militares de Abril, de um ou do outro lado da barricada, conforme o vencedor, não teríamos tido, também uma purga de trágicas consequências.)
E se o golpe tivesse triunfado? Os vencedores seriam menos violentos e tolerantes para com os vencidos? (Os indivíduos mortos, nas poucas horas que durou a revolta, não auguravam nada de bom)
O terror gerado não foi apenas uma continuação das tensões, ódios e intolerância gerados aquando da independência e na luta por esta?
Um partido que sobreviveu pelas armas, pela exclusão dos outros (ou excluía ou era excluído), poderia resolver as suas contradições internas, sem ser também pelas armas?
Seria possível não copiar os métodos da polícia política do colonialismo, dos torcionários da Pide, igualando-os em requintes de malvadez?
Neste blogue temos denunciado a fúria revanchista que se seguiu às atrocidades cometidas em 61, pela UPA/FNLA, no norte de Angola. A sede de vingança suplanta a mínima racionalidade e reduz o homem à condição de besta. Os milhares de vítimas inocentes aí estão para denunciar, em todas as épocas, a cegueira do ódio rancoroso e vingativo.
Passados 35 anos, vistas à luz da evolução política, desde essa data, parecem ridículas as divergências, então, insanáveis entre os diversos setores do MPLA. Com muita ou pouca convicção, por livre e dedicada opção, ou por pressão dos tempos todos abraçam a causa do capitalismo triunfante com mais ou menos roupagem nacionalista ou democrática. Os tiques autoritários, esses, vão-se mantendo.
Uns anos depois, mais a sul, embora já noutro contexto histórico internacional, Nelson Mandela e o ANC provaram que era possível abdicar do ódio, da vingança, do terror, evitando nova guerra com base nos preconceitos tribais, ideológicos e raciais.
Infelizmente, em Angola os homens foram pequeninos na tolerância, na convivência democrática, no respeito pelo outro.
O "Jornal de Angola" foi um dos mais sólidos sustentáculos da linha oficial do MPLA e terá sido um dos meios utlizados na campanha para a mobilização e preparação do povo angolano para a purga revanchista que se seguiu ao 27 de Maio.
Tivemos acesso aos exemplares do diário "Jonal de Angola" publicado nos 15 dias que se seguiram à tentativa de golpe. São esses jornais que vamos analisar.
O Jornal de Angola de sábado 28 de maio de 1977 apresenta na 1ª página a fotografia do Presidente da República Agostinho Neto e as suas duas comunicações ao país feitas na véspera.
Na primeira, feita às 15 horas do dia 27 denota-se ainda um tom conciliador, deixando transparecer que os revoltosos teriam uma base alargada de apoio dada a necessidade de se garantir que se mantem a opção socialista e o apelo para a compreensão pelo povo das medidas duras a tomar contra os revoltosos. Estes ainda são tratados por camaradas e, ainda é aberta uma porta à sua reabilitação. É, também, feita uma alusão à incompreensão de países amigos, numa clara alusão à posição dúbia da União Soviética perante o golpe.
“Queria hoje afirmar, mais uma vez, a nossa disposição, a disposição do Comité central do MPLA, do Bureau Político, de continuar na via revolucionária, de fazer com que o povo angolano siga o caminho para o socialismo.(…)
Temos uma série de países capitalistas que estarão contra nós.(…) Temos países amigos, e embora amigos, são países que não compreendem bem a nossa opção. (…)
Nos últimos dois dias, nós debatemos aqui em Angola, alguns problemas que dizem respeito à nossa vida nacional. Problemas que dizem respeito ao Povo angolano, problemas que dizem respeito ao MPLA e à nossa organização política. Alguns camaradas desnortearam-se. Pensaram que a nossa opção seria dirigida contra eles, que a nossa opção seria contra os seus próprios interesses individuais e de grupos. E portanto, começaram a agitar-se.
E assim, hoje houve uma certa perturbação, da parte da manhã, aqui no nosso país, e, concretamente, na nossa cidade de Luanda que não corresponde, de maneira nenhuma aos sentimentos gerais de todo um povo. (…)
E esta manhã o que se pretendeu, o que foi? Pretendeu-se demonstrar que já não há revolução em Angola que já não há revolução porque os fraccionistas tinham sido expulsos do Movimento ou tinham sido afastados do Comité Central, como o José Van-Dúnem e Nito Alves. Será Assim? Eu acho que não. Nós não podemos limitar a atividade do Movimento a pessoas cuja atividade está contra a organização, contra a sua linha unitária.
Eles foram expulsos e, na minha opinião, foram muito bem expulsos do Comité Central. E, terão de fazer um grande trabalho de reabilitação para poderem regressara às fileiras do movimento. (…).
E eu penso que os factos que ocorreram hoje e que fizeram perder vidas farão com que nós tomemos medidas, talvez não muito agradáveis, em relação a determinados indivíduos, que pensam deter nas suas mãos toda a verdade sobre a política do nosso País.
Eu penso que o nosso povo vai compreender porque razão nós agiremos com uma certa dureza, porque razão nós agiremos de maneira drástica, em relação a indivíduos qua agiram hoje com má fé. Que agiram hoje de maneira a perturbar até a calma na nossa capital, dando portanto ocasião para que o imperialismo possa novamente atacar o nosso Movimento, o nosso povo e o nosso País.
Camaradas, era isso que eu queria dizer. E espero que as medidas que serão tomadas em relação àqueles que quiseram liquidar o nosso Movimento, àqueles que pegaram em armas para destruir o MPLA, sejam bem compreendidas.”
Na segunda comunicação, feita no mesmo dia, ao fim da tarde, o discurso endureceu. Além da situação já estar totalmente controlada, começa a ter-se a perceção do número de mortos. No entanto ainda não há a confirmação da morte dos elementos destacados do MPLA que tinham sido raptados.
O tratamento dos revoltosos passa de camaradas a ex-camaradas, mas ainda há um apelo aos que se deixaram enganar para que reflitam no que se passou. Ainda fala em julgamentos e justiça, embora conclua: “Não há mais tolerância. Nós vamos proceder de uma maneira firme e dura.”
“(..) estes acontecimentos são graves, porque provocaram a perda de vidas humanas. Quer dizer que os fraccionistas, que nós condenamos há pouco tempo, não hesitaram em matar os nossos camaradas, em matar os nossos compatriotas, para poderem ter o caminho livre. (…)
Confirma-se desta maneira, embora seja uma maneira bastante dolorosa, que existe o fraccionismo. Que quando nós dizíamos que havia organizações paralelas no País, dento do MPLA, nós tínhamos razão. E confirma-se também, a violência que caracteriza a sua actuação, o racismo, o tribalismo, o regionalismo, que caracterizam todas as organizações reacionárias.
(…) Alguns dos nossos camaradas, até esta hora, ainda não foram encontrados. Não sabemos se estão mortos se estão vivos. São camaradas que deram toda uma vida para a independência do nosso país, que deram toda uma vida para a liberdade do povo de Angola. (…) os seus corpos serão encontrados se estiverem mortos. Eles serão encontrados se estiverem vivos.(…)
Hoje, todos eles, aqueles que dirigem o fraccionismo fugiram da capital, estão escondidos. Amanhã serão encontrados e, depois haverá os julgamentos, haverá o veredicto do Movimento haverá, portanto, a justiça.
Neste momento – em que nós estamos a combater contra forças que nos atacam do exterior – é muito estranho que os esquerdistas, os ultrarrevolucionários venham combater-nos também. É muito estranho…
Que espécie de alianças há? Que espécie de combinações existem?
Espero que o nosso povo, o povo angolano, espero que, principalmente, a população de Luanda, não confunda esta situação com a luta de libertação nacional que fizemos, durante longo tempo, contra o colonialismo português.(…)
Espero, por outro lado, que aqueles que se encontram enganados, diante dos assassinatos que foram feitos hoje, diante dos crimes que foram praticados, reflitam acerca do futuro do nosso país.
Aproveitou-se de tudo, do abastecimento, da falta de transportes, enfim de muitas outras coisas e, finalmente era para defender duas ou três figuras que hoje não são senão defensores da reacção. Porque ninguém me pode vir dizer que esses camaradas, ou ex-camaradas, estão a defender a Revolução. Estão sim a defender a contra-revolução. Estão a defender a reacção.(…)
E quero também dizer que não haverá para aqueles que se introduziram numa luta contra o MPLA qualquer espécie de contemplação, qualquer espécie de perdão. Nós falamos da tolerância aqui há meses. Mas essa tolerância não foi interpretada no seu devido sentido e, agora, Não há mais essa oportunidade. Não há mais tolerância. Nós vamos proceder de uma maneira firme e dura.”
O Jornal de Angola dá, também conta de dois comunicados do bureau político do MPLA. No emitido às 13h30 m do dia 27 afirma-se:
Agitadores a soldo do imperialismo internacional e da reacção interna, têm procurado desde as primeiras horas da manhã, provocar uma situação de confusão e destruição, desorientando o povo com palavras de orem contra-revolucionárias.
Tendo conseguido por alguns momentos, infiltrar na Rádio Nacional alguns dos seus conhecidos agentes, utilizando Nito Alves como bandeira, procuraram arrastar o Povo de Luanda para manifestações insensatas contra o Governo, não hesitando, para isso, em utilizar o nome do MPLA.
O Comité Central do MPLA e todos os militantes honestos(…) proclamam que controlam a situação. (…)
Abaixo os agentes do imperialismo! Abaixo os fraccionistas aventureiros! Aluta continua! A vitória é certa!”
Na página 3 é publicado o comunicado do bureau político emitido no dia 26, dando a conhecer as decisões do 5º plenário do Comité Central que levaria ao despoletar da tentativa de golpe.
Este comunicado, lido pelo Camarada Lúcio Lara refere nomeadamente:
“Para fomentar o divisionismo no seio do nosso povo muito têm contribuído grupos fracccionistas que, à semelhança do que já aconteceu no passado, desenvolvem uma actividade a coberto do MPLA mas fora das suas estruturas(…).
Os componentes dessas fracções quase sempre revelam uma fraca consciência política e ideológica, um espírito de grandes sabedores e de grandes teóricos, papagueiam muitas palavras de difícil entendimento para o nosso povo, não contribuem para o estudo e para a solução dos problemas concretos (…)
Os novos fraccionistas conseguiram montar oma organização clandestina a partir de um “secretariado” criado no antigo DOM nacional pelo camarada Nito Alves, Esse secretariado, dirigido por Cita Vales, recrutou “Activistas” que, após uma preparação especial, iniciaram um trabalho de organização rigorosamente clandestino, cuja estrutura só mais tarde se veio a descobrir. Essa estrutura tocava todos os sectores de Luanda, desde o sector operário ao sector bairros, e ramificava-se por algumas províncias, organizações de massas e forças armadas.
Fingindo combater outros grupos fraccionistas, e escondendo-se sob a capa de um “marxismo-leninismo” verbalista,, os novos fracccioniastas escudavam-se numa fingida devoção a este ou aquele país amigo, não hesitando mesmo em visitar certas embaixadas onde se empenhavam em caluniar o MPLA, e certos militantes e dirigentes do MPLA.
Usando e abusando de uma fraseologia demagógica resultante da leitura mal assimilada dos clássicos do marxismio-leninismo, os novos fraccionistas iludiam as massas eos militantes classificando este e aquele militante de “direitista”, de “esquerdista”, de “maoista”, de “Anti-soviético”, de “socialista Nacional”, de “social-democrata”, camuflando assim a sua ideologia de essência reacionária, regionalista e racista.(…)
Como disse o Camarada Presidente “que todos os militantes do MPLA, que todos os activistas, que todos os membros dos Comités, de acordo com as decisões do Comité Central, façam um combate verdadeiro e sério contra todos os fraccionistas que encontrarem no seu caminho.
Luanda 26 de Maio de 1977"
No cinema Avis "Lenine 1918 - indica-nos o caminho: A revolução deve esmagar a contra-revolução"
A última página é prenchida com uma fotografia de Agostinho Neto
João Garcia
Já o meu pai me tinha contado esta história, mas obtive, agora a confirmação.
No ano de 1961, em plena campanha revanchista pelas atrocidades cometidas pela UPA no 15 de março, alguns colonos decidiram que a homenagem a prestar ao Dr. Assoreira, médico, fazendeiro e homem incansável na defesa dos seus patrícios, passaria por mudar o nome da povoação do Quitexe para Pinto Assoreira.
Dr. Assoreira no Posto do Quitexe em 61
O meu pai, que era muito amigo do médico, como comprovam as muitas referências que lhe fez no livro “Quitexe, uma Tragédia Anunciada”, foi um dos que mais se opôs a esta ideia.
Não fazia qualquer sentido alterar o nome gentílico da povoação erguida, há dezenas de anos, nas terras do dembo Quitexe. A homenagem aos grandes homens não se faz espezinhando a história e as referências etnográficas de um povo.
Ao contrário de outros locais por onde essa “onda” também passou, aqui prevaleceu o bom senso e a povoação manteve o nome de que se orgulham todos os quitexenses.
No Jornal do Congo de 11 de maio de 1961 descobri esta notícia:
QUITEXE
A população do Quitexe que, com tanta heroicidade se tem mantido com elevado moral e espírito de sacrifício há cerca de dois meses, apesar dos martírios por que passou e das dificuldades que lhe tocam com extraordinária dureza, não esquece os seus heróis. E assim vai pedir às entidades competentes para qua à localidade seja dado o nome de Pinto Assoreira – esse transmontano valente, abnegado e dedicado de alma e coração a Angola. Mas os habitantes do Quitexe querem ir mais longe na sua gratidão: querem dar à avenida que liga a povoação ao campo de aviação o nome de Simões Dias – o tenente do B.C.3 que para aquela gente se tornou no herói que verteu o seu sangue generoso na defesa da terra.
Estamos certos que nada se oporá ao desejo da gente do Quitexe: nem mesmo a natural modéstia dos homenageados porque qualquer passo que dessem para evitá-lo seria uma ofensa para os sentimentos de gratidão daquela boa gente martirizada mas que não esquece os seus deveres cívicos.
Continuamos a apresentar as fotografias registadas por Ivo Bije
As constantes chuvas que se abatem sobre a região provocaram ravinas que não permitem a passagem de viaturas para aquela comuna, situação que provocou uma escassez de produtos de primeira necessidade e a subida de preços no mercado local.
Os habitantes de Cambamba estão preocupados e pedem uma intervenção urgente das estruturas competentes para ultrapassar a situação.
“Exigimos emergência por parte do governo porque a via está péssima. As chuvas e as correntes demasiadas estão a levar o solo e nós não podemos transitar”, lamentou um morador da comuna de Cambamba.
A Administração Municipal do Quitexe, província do Uíge, projecta, para este ano, a construção de sete novas infra-estruturas sociais, no âmbito do Programa Integrado de Desenvolvimento Municipal e de Combate à Fome e à Pobreza.
O administrador municipal de Quitexe, Mendes Domingos, que anunciou o facto à Angop, a margem da visita da secretaria para assuntos politicos economicos sociais e eleitorais do Comité provincial do MPLA no Uige, disse tratar-se de quatro novas escolas primárias de quatro salas de aulas cada, dois postos médicos e um sistema de iluminação pública.
Lembrou ainda estar em curso a construção de uma casa mortuária, uma área de lazer para a juventude, com 10 quiosques, uma residência protocolar, o mercado municipal, depósito de medicamentos, assim como iniciaram os trabalhos de reabilitação de sedes das administrações comunais, o clube juvenil e foi também erguido um parque infantil.
Reconheceu que o fornecimento de energia eléctrica e água potável regista melhorias nos últimos tempos na vila de Quitexe.
"Hoje a energia eléctrica no Quitexe é quase permanente e a água jorra também sem interrupções", reforçou, explicando também estarem em curso obras nas sedes comunais da Aldeia Viçosa, Vista Alegre e Kambamba, em prol da melhoria das condições sociais dos municipes.
Por outro lado, referiu que as condições para o arranque das obras de construção das 200 casas sociais estão ser criadas, avançando que o espaço onde será implementado o projecto já foi limpo pelo empreiteiro.
Localizado a 40 quilómetros da cidade do Uíge, o município do Quitexe está dividido administrativamente em três comunas e conta com uma população estimada em 57 mil 634 habitantes.
“Batuque Mukongo” é o título do novo livro do escritor Fragata de Morais que foi apresentado, ontem na União dos Escritores Angolanos, por José Luís Mendonça.
Neste livro o seu autor traz a público memórias em forma de poesia.
Para o escritor José Luís Mendonça, autor do prefácio, “Batuque Mukongo” é a poesia épica, feita através da história de um país e também dentro de uma perspectiva pessoal do seu próprio autor.
O prefaciador do livro considera ainda que os poemas de “Batuque Mukongo” são uma fonte de inspiração para os jovens, de esperança para os descrentes e de homenagem a Angola, descrita por meio de uma análise profunda, feita por Fragata de Morais, através do tempo.
“Para ser luminosa, a poesia tem de vir à rua com um ritmo próprio, uma certa musicalidade intrínseca, como uma canção silenciosa que soa na alma do leitor, com uma cinestesia formal que faz do verso um edifício, uma paisagem, ou um animal colectivo se movendo entre nuvens de poeira sintagmática”, descreve José Luís Mendonça os poemas de “Batuque Mukongo”.
3
Acreditava que o Sol
não nasceria para além do horizonte
por onde deslizavam
as vozes choradas dos contratados
em seus cantares saudosos
da terra deixada para trás
na ilusão de uma melhor vida
mais sal mais sabão
oração que mal não faz
dinheiro para a escola
panos para a mulher
e a bicicleta de ferro
com farolim brilhante
para alumiar o que não se via
que rugisse soberana
nos carreiros e picadas
que tracejavam o planalto
formigueiro de caminhos
que a todos os sítios do anseio iam
sem levar a lugar algum
a não ser às roças do Norte
às roças muitas vezes da morte
4
Uíge na Uízi
terra onde nasci
catrapim pim pim
que te afastas de mim
Uíge na Uízi
onde nasci
às cinco da tarde
explodi do ventre da mãe
ao canto do pírulas
mãe materna
mãe terra
mãe sorte
mãe água do rio
rio de outras águas maternas
chovidas ou não
chuva rugido de leão
chuva marca leve das pegadas da gazela
nascido para o mundo
às cinco da tarde
no Uíge na Uízi
quase apagada memória
da longa e única rua
de casas de adobe
de pau a pique
em pique de pau
novo e logo envelhecido
no tragar do salalé
que não sabia de arquitecturas
na linearidade da rua
onde o pau a pique
por fora e por dentro
salpicado de barro vermelho
florido de várias camadas de cal
apaziguou os gritos do parto
às cinco da tarde
de um Novembro sofrido
no ventre de uma bela mulher
Alice com Maria mãe de Deus
dores gemidas na culpa bíblica
porém Maria sempre Alice
a embalar em seus braços exaustos
o novo mundo
ainda envolto
nos líquidos maternos
mas logo a chamar
pela boca da avó materna
os antepassados
da linhagem
para o batuque
tuque norte
tuque sul
tuque este
tuque oeste
em cada ermo do mundo
cada tuque batido
uma bênção solta
no balido do cabrito esgoelado
na pele do boi malhado
preto e branco
preto mukongo
branco beirão
batuque mukongo dos reis antigos
fado do branco vindo dos mares
5
Assim nasci
às cinco da tarde
no Uíge na Uízi
terra onde nasci
catrapim pim pim
que te afastas de mim
In Batuque Mukongo
União dos Escritores Angolanos 2011
Poema retirado do blogue http://www.literaturafragatademorais.blogspot.com/
Fotos do Quitexe tiradas há uma semana por Ivo Bige, a quem muito agradecemos
Os grupos confirmados para a actual edição são na sua maioria dos municípios do Uíge, Milunga, Sanza Pombo, Quitexe e Maquela do Zombo. Segundo informações avançadas pela Comissão Provincia do Carnaval, o número de grupos tenderá aumentar, uma vez que os municípios do Negage, Mucaba, Púri e Kimbele garantiram a sua representação com um grupo infantil e igual número de adultos.
Recordo agora esse post do nosso saudoso amigo António Guerra.
Olá Adriano
Em 2007 publiquei a planta do Quitexe feita de memória pelo meu tio Alfredo Garcia ( tem, agora 89 anos!). Se for a http://quitexe-historia.blogs.sapo.pt/2007/07/ carregue na planta para ampliar e encontrará a localização da casa dos seus pais - nº 78.
João Garcia
O responsável da empresa de exploração de madeira Toritabua, Alexandre Alves Teixeira, lamentou no município do Quitexe, província do Uíge, a exploração desenfreada de madeira por lenhadores ilegais na região.
Alexandre Alves Teixeira, que falava à Angop, pediu a colaboração das autoridades no sentido de controlarem esse tipo de exploração de madeira que, na sua óptica, prejudica as empresas legalizadas, porque os madeireiros ilegais não querem saber se a árvore está ou não em altura de ser cortada.
“Se a situação continuar assim será complicado, porque daqui a anos não vamos ter madeira”, frisou o empresário, adiantando que “ os madeireiros ilegais estão a dar cabo das matas”.
Alexandre Alves Teixeira explicou que a Toritabua explora por dia madeira grossa de 25 a 30 metros cúbicos e madeira fina de 10 metros cúbicos.
O empresário disse igualmente que grande parte da produção é absorvida pelo mercado local e que, brevemente, a sua empresa vai montar mais uma máquina para aumentar a produção e construir um armazém para secagem de madeira, num perímetro de 800 metros quadrados. A empresa espera, dessa maneira, alagar a sua base de compradores com base no aumento da oferta, o que abre perspectivas de vender em mercados mais distantes e de procura mais elástica, como é o caso de Luanda
Publicamos, hoje, o testemunho de Manuel Miguez Garcia sobre as investigações que fez, nos anos 60, para tentar encontrar o local da batalha de Ambuíla:
Nos já longínquos anos de 1963/64 por várias vezes me lancei em busca de vestígios da batalha justamente nas terras do Luege, mas o serviço chamava-me para outras andanças e o capim era mais alto do que eu. Não encontrei nada.
Falava-se, nessa altura, em Nova Caipemba, do administrador encarregado de implantar o monumento aos mortos dos dois lados. O homem não se incumbiu decentemente da tarefa: ou não conhecia o local ou as condições etílicas não lho permitiram.
Ao longo destes anos só o então coronel Rebocho Vaz me deu umas dicas sobre a localização, que aliás transcreve num livro que por aí tenho: a uns quilómetros a norte do local onde veio a implantar-se a grande fazenda de Zalala. Zalala era um sítio que este governador do Uíge, depois governador em Luanda, conhecia como as suas mãos. Creio que cheguei a vasculhar no local exacto, a acreditar nas referências do coronel Rebocho Vaz, ou que andei lá muito por perto.
Mapa russo do vale do rio Luege entre as serras do Ambuíla e Pingano (cujo maciço se prolonga para norte na serra Cananga). No canto superior esquerdo está assinalada a fazenda Zalala e no canto inferior direito a vila do Quitexe. A linha lilás pretende demarcar os limites do antigo posto administrativo do Quitexe.
Sem êxito, perguntei pormenores para Luanda e consultei o Pelessier que me respondeu tratar-se de um período histórico que ele não dominava bem. Aproveitou para me recomendar os livros, alguns dos quais eu já tinha. Do que li dele, só encontrei uma referência à batalha e vagamente ao local. Cheguei a encontrar-me com ele no Bembe, mas nessa altura ambos estávamos a tentear a história daquele Mundo - ele conhecia a região bem pior do que eu.
Numa outra ocasião conversei com o Prof. Ilídio do Amaral, conhecedor da região, geógrafo e professor universitário em Lisboa, nascido em Angola. Um irmão do Prof. Ilídio tinha, aliás, uma fazenda na zona, se bem me lembro, no Quijoão, perto do Encoje. Na altura foi elaborado, pelo professor, um estudo da zona calcária, incluindo a Mbanza Quina e o Dundo. A sua "Contribuição para o conhecimento do "karst" ou carso de Nova Caipemba, no Noroeste de Angola" foi publicada em 1973 na revista Garcia de Orta.
O autor e os colegas de outras áreas Jorge Dias, Orlando Ribeiro e Mariano Feio tinham subido à serra da Cananga, na ocasião ainda habitada por um mosaico de povos que meses depois a deixaram, dispersando-se pelas terras para lá da fronteira, a norte, fugidos aos ódios e ressentimentos e aos receios da repressão.
Em Setembro de 1960, o grupo de cientistas foi recebido em plena serra com honrarias e gentilezas. Contra todas as expectativas - até cerveja havia, fria, no ponto certo, que era uma delícia - confidenciou-me o Prof. Ilídio do Amaral que orientava a tese de doutoramento da minha Mulher, também geógrafa.
O terreno estava a jeito para os estudos do geógrafo. Na companhia do irmão, excelente conhecedor daquela zona, não lhe deve ter sido difícil chegar à vista dos lapiares, das caneluras, dos vales cegos e dos vales secos, avistar boqueirões e algares, dolinas e poljes, arcos e pontes de pedra, adivinhar onde havia chaminés e abismos subterrâneos, galerias e cavernas. A vegetação lançava raízes onde podia e dificultava a progressão, que em muitos lados era sempre precedida do desbaste a golpes de catana. Aqui a minha descrição anda mais para os lados da M'Banza Kina, que o Prof. Ilídio chegou a visitar nesse ano de 1960.
O Prof. Orlando Ribeiro, nos Destinos do Ultramar, formado por um conjunto de artigos, publicados em Setembro e Outubro de 1974 no Diário de Notícias, refere-se a uma povoação perto de Nova Caipemba, "distante e alcandorada, apenas acessível por veredas de pé posto, onde a maneira de viver africana se teria conservado no isolamento". Ao fim de três estiradas horas de marcha, os visitantes alcançaram o lugar, mas a expectativa foi desmentida, a começar por os homens falarem geralmente português, que não aprenderam na escola que não existia mas na prática da vida. A Prof. Margot Dias, que fazia parte do grupo, não se terá deliciado com a subida à Cananga.
Manuel Miguez Garcia
Mapa do Quitexe da autoria de João Nogueira Garcia. A Noroeste os locais onde se terão encontrado referências à batalha de Ambuíla - Fazendas Zalala e Alegria e sanzala Mongage
Todos estes despojos foram levados para Luanda, onde chegaram a 5 de Dezembro, incluindo a cabeça do Rei que para o efeito foi salgada e encerrada num cofre de veludo preto.
No dia seguinte realizou-se um solene funeral com “um honrado e ostentoso acompanhamento, com toda a irmandade da Santa Misericórdia de que era irmão o rei na cidade de São Salvador, clerezia e religiões, indo no acompanhamento o Governador, o Senado da Câmara, cidadãos e moradores, com todos os capitães e gentes de guerra (História General das Guerras Angolanas, O. de Cardonega). Chegando à praia, embarcaram a urna com a cabeça do rei, acompanhada por todos os religiosos, Governador e outros seculares, enquanto os populares e militares caminhavam por terra até à ermida de Nossa Senhora da Nazaré.
Dobravam funebremente os sinos da cidade.
Nesta Igreja ficou, finalmente, sepultada a cabeça de D. António Manimulaza, Rei do Congo.
Quanto às minas, depois de ocupadas, veio a confirmar-se que o minério era “verde, de cor do verdete e não mostrava em si coisa que luzisse”. Os antigos tinham razão quando negavam a existência de ouro no Congo e afirmavam apenas existir cobre.
As minas mais conhecidas eram as de Bembe. Na realidade só em 1856, depois do estabelecimento na região de um presídio, é que estas minas começaram a ser exploradas, mas sem grande êxito.
O principal documento iconográfico da batalha de Ambuíla consiste num belo painel de azulejos existente na capela-mor da Ermida da Nazaré, mandada construir pelo Governador André Vidal de Negreiros em 1664 em cumprimento de um voto à Virgem, feito possivelmente durante um temporal ocorrido na sua viagem para Luanda.
No painel da capela-mor está representado , ao centro o quadrado das forças portuguesas resistindo ao envolvimento do exército congolês. Na diagonal do quadrado duas peças de artilharia vomitam fogo. O rei, à frente do seu exército, de manto e coroa real conduz os seus ao assalto.
Esta ermida foi o primeiro edifício a ser classificado como Monumento Nacional em 1922.
Depois da batalha, São Salvador (Mbanza Congo) foi à ruína com as linhagens nobres fugindo das guerras sucessórias para outras províncias.
Cada chefe local cercou-se de um grupo de auxiliares, reproduzindo nas províncias a estrutura da corte real e escolhendo seu sucessor. As rivalidades entre as linhagens provocaram guerras permanentes que empobreceram a população em consequência de recrutamentos forçados, destruição de plantações e escravização dos derrotados, vendidos para os comerciantes de Luanda ou para a Loango dos mercadores.
Nsoyo, a mais forte província, cuja capital teve a população dobrada entre 1645 e 1700, quando contava com cerca de 30.000 habitantes, desenvolveu-se muito nesse período, beneficiando dos escravos trazidos de São Salvador, em ruínas.
No entanto, a crise política, qualificada por alguns como verdadeira "anarquia", tomou conta do reino congolês. Entre 1665 e 1694, houve nada menos do que 14 pretendentes à coroa do reino, alguns com sucesso, outros nem tanto, e muitos deles assassinados.
Continua
O exército português tinha ordem para ir ocupar as minas situadas no outeiro do Embo. Seguiria por Cazoangongo, em direcção às terras do Dembo D. Francisco Sebastião, e daí, atravessando o rio Dande, caminharia entre os Dembos de Mutemo-a-Quinguengo e Ambuíla, para depois prosseguir a sua marcha entre Coxi e Ambuela, onde se informaria da situação do Outeiro do Embo. Era comandado por Luis Lopes de Sequeira, cabo de guerra, natural de Luanda. Chegaram ao rio Zenza, com uma força de 200 homens armados de arcabuzes, levando consigo duas peças de artilharia. Ali se juntou a chamada “guerra preta”, constituída por quilambas, jagas e escravos dos portugueses e sobas fieis. Mas receoso que as suas forças fossem insuficientes pede reforços a Luanda recebendo mais 100 homens bem armados e municiados mas “os mais deles reformados e soldados velhos”.
O exército português seria assim de 360 mosqueteiros portugueses e de 6 a 7 mil negros. Estes últimos tinham sido escolhidos entre gente com prática de combate e especial aptidão para a guerra, como os Imbangalas.
Entretanto do outeiro do Congo partira o rei com o grosso das suas forças, que iam aumentando à partida que se deslocavam. Ao seu lado encontravam-se o Duque de Bamba, capitão general das forças congolesas, o poderoso Conde de Sonho, os Duques de Bata e de Súndi, os Marqueses de Bumbi e de Pemba e outros vassalos fidalgos, ao todo uns cem mil homens, conforme o cálculo dos cronistas da época (História General das Guerras Angolanas, António Oliveira de Cardonega), que provavelmente pecam, largamente, por excesso. O exército do Rei do Congo teria, ainda, cerca de 300 mosqueteiros, 29 dos quais, portugueses, liderados por Pedro Dias Cabral.
Caminhava o exército do rei do Congo ao encontro das tropas portuguesas, quando a cerca de 80 léguas da sua corte, teve conhecimento da proximidade destas.
A vanguarda, constituída por cerca de vinte mil homens, directamente comandadas pelo Duque de Bamba, remete-se ao ataque. Eram nove horas da manhã do dia 29 de Outubro de 1665. O quadrado português, em fileiras dobradas, apoiava uma das faces num bosque, no lugar de Ulanga, junto das pedras de Ambuíla, no alto Loje. À aproximação das massas inimigas, precedida de densa poeirada que escurecia o horizonte, começou a manifestar-se na “guerra preta” portuguesa, que constituía as avançadas uma grande inquietação. Aos primeiros contactos cerca de 4000 negros puseram-se em fuga.
Quando a onda da vanguarda inimiga chegou ao alcance, o fogo do quadrado rompeu. Em face da segurança do tiro, a onda humana que avançava hesita, detêm-se e recua em confusa gritaria. A frente do quadrado estava juncada de centenas de mortos e feridos.
O rei do Congo ao saber da derrota investe com o grosso das suas tropas. Os portugueses, na folga que se sucede à luta, restabelecem as sua fileiras e reabastecem-se de munições.
Agora a poderosa linha que avançava, envolta em nuvens de poeira, desenhava já de longe um movimento envolvente das tropas portuguesas, de larga envergadura. Guiando e impulsionando essa mole humana, vinha o próprio rei, cuja figura alta e forte, se destacava majestosamente acima dos guerreiros. O quadrado português consegue manter-se organizado e vai resistindo às sucessivas vagas “granizando balas e centilhando fogo”.
O próprio rei, embraçando uma adraga e armado de espada cortadeira e cercado da melhor nobreza do Congo atira-se à luta.
Em volta dele, na confusão da refrega, desenha-se um agitado remoinho de corpos em luta: mal ferido por uma bala perdida, o rei tombara por terra e tentava erguer-se. Para esse ponto, onde a juventude congolesa se batia heroicamente em defesa do rei, converge, por instinto, o fogo do quadrado. E de repente, um quilamba das tropas portuguesas, que conseguira aproximar-se do rei ensanguentado, vibra-lhe um golpe, degolando o monarca. A sua cabeça é espetada e erguida ao cimo duma lança alta. O desânimo e o pânico gerado arrasta na fuga o exército congolês.
Em sua perseguição, lançam-se os negros fieis aos portugueses e, pela noite fora – a batalha durara 6 horas – nos longes da planura a carnagem prolonga-se em cenas de sanguinária ferocidade.
Tinham tombado no campo da batalha e depois na perseguição para cima de cinco mil negros congoleses, dos quais 98 titulares e mais 400 fidalgos de outra nobreza; tinham caído nas mãos dos portugueses um filho bastardo do rei e mais dois do seu irmão Afonso, o seu camareiro e o seu confessor, Padre Manuel Rodrigues, e o seu capelão, Capuchinho Padre Manuel Reboredo, ficara morto no campo. Entre a considerável massa de despojos figurava uma grande carruagem com malas cheias de panos valiosos e dois contadores com jóias e outras peças em oiro. Mas a peça mais importante seria a coroa imperial de prata dourada oferecida ao rei Garcia II pelo papa Inocêncio X em 1648, que foi depois remetida para Lisboa.
Em Luanda ainda se mantem o largo com o nome do herói português da Batalha de Ambuíla
Luiz Lopes Sequeira, ilustre cabo de guerra, crioluo, natural de Luanda, filho de Domingos Lopes de Sequeira, que em 1643 fora a Portugal pedir socorro para os defensores de Massangano e que, regressando a Angola, com este socorro veio a morrer massacrado peloa jagas, em junho de 1645, quando à testa da guarda avançada dessa coluna, demandava o rio Cuanza. Depois de vencer o rei do Congo em Ambuíla, Luiz Lopes Sequeira dominou o rei de Dongo nas Pedras de Pungo-Andongo (29/11/1671) e, ainda o rei de Matamba, caíndo morto nesta última acção (4/09/1681)
Continua
Fazem hoje 346 anos desde que ocorreu a célebre batalha de Ambuíla que marcou o início do fim do Reino do Congo como estado independente.
O local da batalha do Ambuíla não está perfeitamente definido no terreno, admitindo-se que tenha tido lugar no Vale do Rio Luege, na zona onde existiu desde tempos muito remotos o povo e sanzalas do Dembo Ambuíla que se julga corresponder à actual serra Ambuíla, já na zona do Quitexe. Na periferia desta serra estava instalada a fazenda Alegria cujos trabalhadores encontraram, por várias vezes, armamento antigo.
Contava-se, no tempo colonial, a anedota do chefe do posto de Nova Caipemba. Quem então mandava, lembrou-se de fazer um monumento a comemorar a batalha e o chefe de posto foi encarregado de o colocar no local. Como a lucidez já não seria muita mandou os ajudantes largar a coisa onde melhor lhe pareceu. Assim ficou uma placa junto ao campo de aviação de Nova Caipemba dizendo que naquele local se travou a batalha. E ainda há pouco tempo a administradora do município de Ambuíla, Elisa Mafuta, reclamava a construção de um memorial no local da batalha, naquela localidade, "onde foram mortos milhares de angolanos em vários períodos, com destaque para a Batalha de Ambuíla, em 29 de Outubro de 1665"...
Nos textos que se seguem vamos proceder à descrição da batalha com base e com transcrições do livro "A Batalha de Ambuíla", Gastão Sousa Dias - Lisboa, Museu de Angola, 1942 e com apontamentos dos livros " História do Congo Português", Hélio Esteves Felgas - Carmona, 1958, "História de Angola", Norberto Gonzaga - CITA, 1963, "História de Angola", Douglas Wheeler e René Pélissier.
As dificuldades provenientes da guerra entre Portugal e Espanha, exigindo o aproveitamento de todos os recursos metalúrgicos, levaram D. Afonso VI a escrever, em 22 de Dezembro de 1663, uma carta ao governador-geral de Angola Vidal de Negreiros, ordenando-lhe que tomasse posse das minhas de cobre que, pelo tratado de paz de 1649, o rei do Congo era obrigado a ceder a Portugal.
Vidal de Negreiros
No início de 1661, tinha falecido o velho rei Garcia II. Sucedeu-lhe seu filho D. António I, Nvita-a-Nkanga, marquês de Kiva. O Rei do Congo D. António respondeu negando a existência das minas e dizendo “posto que as houvera, não as devo a nenhum”. Seguem-se diligências de parte a parte com intervenção dos representantes do Cabido e Clero do Congo, mas ambos os lados se aprontam para a guerra.
Recepção do rei do Congo aos capuchinhos
Vidal de Negreiros prepara o seu exército para o combate e D. António responde apelando à mobilização geral dos seus súbditos com uma inflamada proclamação: “… que toda a pessoa de qualquer qualidade que seja (…) capaz de poder menear armas ofensivas (…) se vão alistar para saírem a defender as nossas terras, fazendas, filhos e mulheres, e nossas próprias vidas e liberdades, de que a nação portuguesa se quer empossar e senhorear”.
Continua
Finalmente temos a fotografia do renovado edifício da administração municipal. Embora já reconstruído desde 4 de abril de 2010 ainda não tinhamos tido acesso à sua fotografia. Fomos "roubar" esta ao blogue Cavaleiros do Quitexe, a quem agradecemos. Depois das instalaçõoes terem sido destruídas pela guerra em 1991 mantiveram-se ao abandono durante 20 anos até que a paz veio trazer novamente a esperança e o desenvolvimento.
Foto de Arlindo de Sousa - 1962
http://www.cinemateca.pt/Cinemateca-Digital/Ficha.aspx?obraid=2284&type=Video
Finalmente o Google Earth apresenta-nos um fotografia do Quitexe em média resolução. Não sendo ainda brilhante, já dá para perceber os arruamentos, a mancha das construções e as povoações vizinhas. Aprovei-te e vá dar uma voltinha aérea pelas terras do Quitexe.
David Mendes preso no Uíge por suposta ordem do MPLA
- 14-Aug-2011 - 20:41
As autoridades policias angolanas prenderam na tarde deste domingo, no município do Quitexe, província do Uíge, o político e advogado David Mendes por distribuir panfletos do Partido Popular (PP), a formação política de que é líder.
O político foi detido na companhia de 25 correligionários. Informações preliminares apontam que a ordem da detenção terá partido da sede local do MPLA.
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O Advogado David Mendes informou a instante que já está solto das mãos dos elementos ligados a Polícia Nacional.
O Jurista e Advogado David Mendes, foi detido início desta tarde na comuna de Kitexe Província do Uige, por elementos afectos a polícia Nacional.
Segundo o próprio David Mendes, à detenção ocorreu na tarde de hoje, por ele e mais 25 companheiros de causa estarem a fazer distribuição de panfletos do partido Popular que de é dirigente.
David Mendes é também conhecido como o Advogado dos pobres, é igualmente dirigente da Associação Mãos livres, que se bate pela defesa dos Direitos Humanos e um escritório de Advogados
Na última intervenção coloquei o nome dos administradores do Quitexe até à actualidade, mas a lista já estava desactualizada:
No dia 27 de Julho tomaram posse novos administradores tendo Maria Fernando Cavungo transitado para a Damba e Mendes Domingos ficado à frente da máquina administrativa do Quitexe. Não sabemos o que motivou estas mudanças de cadeiras mas endereçamos votos de sucesso ao novo administrador do município de Quitexe.
27-07-2011 Angop
Apresentamos, hoje, a lista dos chefes de posto do Quitexe e administradores do Concelho de Dange/Quitexe desde os anos 40 do século passado.
Esta lista foi elaborada graças às informações de Alfredo Baeta Garcia e Arlindo Sousa (período colonial) e Francisco Gonçalves (período pós independência) a quem muito agradecemos.
Chefes de Posto:
António Lopes Soares (década de 40)
Mário da Silva Carranca
Alferes Carvalho
Manuel da Silva Barreiros
Carlos Mendes
Genro do Dr. Almeida Santos (não temos o nome - quem nos ajuda?)
Nascimento Rodrigues
Administradores do Concelho do Dange - Distrito de Uíge (Após 1961)
.
Em 1961 foi criado o novo Concelho do Dange com sede na Vila do Quitexe, sendo os seguintes os seus administradores:
Rodrigo José Baião (Anterior Chefe do Posto de 31 de Janeiro)
Meneses e Pereira
João Nunes de Matos, casado com Palmira Barreiros
Raul Teixeira, interino, casado com Leopoldina
Octávio Pimental Teixeira, filho do farmacêutico Pimentel Teixeira de Moçamedes
Após a independência, desde 1975, os administradores foram:
1º Marcelo Caetano
2º Fortunato Rodrigues Caboko
3º Miguel Kilula
4º Nguiegi Manuel Madingano
5º Filipe Luvuango
6º Joaquim Nunes
7º Jorge Kapololo
8º Jonas João
9º Domingos Panda Ngunga e
10º a actual Maria Fernando Kavungo, a primeira mulher a assumir o cargo
Sábado, nove horas da manhã, Tubias Fernando lava a sua velha viatura. O jovem automobilista não está preocupado com a distância que separa a cidade do Uíge e Ambuíla. Por isso, não tem pressa de viajar para aquela localidade municipal, onde pretende visitar a família e amigos.
A estrada oferece actualmente boas condições de circulação, diferente dos outros anos em que se gastavam mais de quatro horas, por causa dos muitos buracos que existiam. Hoje, o tempo de viagem depende somente da velocidade que cada automobilista emprega, como reconheceu.
Tubias Fernando tem viajado muitas vezes para Ambuíla, passando pelo município do Quitexe. Por esta via, a uma velocidade máxima de 80 quilómetros/hora, faz normalmente o trajecto em cerca de hora e meia.
"A estrada está muito boa, mas é necessário que se tenha muito cuidado, porque ela está convidativa a grandes velocidades, por isso todo o cuidado é pouco", aconselhou.
O troço da cidade do Uíge ao desvio do Quitexe tem 36 quilómetros asfaltados. Até Ambuíla são mais 76 quilómetros com algumas dificuldades, uma vez que as obras de reabilitação desta via, iniciadas em 2008, paralisaram, há quase dois anos, devido à crise económica e financeira mundial, que afectou também o país.
A administradora municipal de Ambuíla, Elisa Mafuta, disse que a estrada Quitexe-Ambuíla já garante boas condições de circulação e encurtou a distância que separava a localidade e a sede capital da província do Uíge.
A responsável municipal manifestou preocupação pelo estado de algumas pontes ao longo da via. Segundo Elisa Mafuta, esta questão não fazia parte do contrato efectuado com a empreiteira que realizou as obras.
Mas, neste momento, há negociações para a reabilitação das pontes que ainda carecem de intervenção.
Estrada antes e depois das obras com revestimento superficial sem betuminoso
O director provincial das Obras Públicas, Hélio Vicente, afirmou que a estrada Quitexe-Ambuíla foi executada dentro dos padrões e das normas vigentes no país.
A construtora fez a limpeza do terreno, o alargamento das faixas de rodagem, o reperfilamento da via em toda a sua extensão e a aplicação de solos melhorados de carácter latrítico.
Dadas as boas condições da via, o director da empreiteira Kissari, no Uíge, Abel Sebastião, aconselhou os automobilistas a terem cautela porque, na estação seca, a poeira e reduz a visibilidade.
José Bule
Uíge - Um projecto de telemedicina da Universidade Lusíada e da fundação Jhai foi apresentado sexta-feira na cidade do Uíge pelo representante da instituição universitária, Eliado Gudza.
O projecto, que virá ajudar com as tecnologias avançadas as áreas da saúde e educação na região, tem como consultores zimbabweanos e indianos e como aspectos principais educação, modo de vida. É direccionado a trabalhar com as comunidades locais em busca de informações.
Segundo Eliado Gudza, numa primeira fase se vai trabalhar com projecto telemedicina no hospital provincial e no município do Quitexe, posteriormente em outras comunidades.
Falando no acto de apresentação do projecto, a vice-governadora para área política e social do Uíge, Maria Fernandes da Silva e Silva, disse que aplicação das novas tecnologias de informação no mundo global tem facilitado o custo na medicina e ensino, bem como em outros ramos de saber.
"Na província do Uíge temos hoje uma nova realidade. Estamos na presença dos especialistas que nos vão apresentar um projecto de informação e desenvolvimento sobre a telemedicina, através da cooperação com a Universidade Kimpa Vita", frisou, reforçando que contribuirá para o crescimento de engenharias, ciências da saúde e educação e na manutenção das vidas humanas.
De acordo com a responsável, está prática não só servirá de intercâmbio para o diagnostico, prevenção e tratamento das doenças, mas também servirá para fins de pesquisas que poderão ser escalados em clínicas, hospitais ou ciências da saúde.
A vice - governadora apelou igualmente a aplicação desta nova tecnologia de telemedicia visando o desenvolvimento da província do Uíge.
Além da vice-governadora Maria Fernandes da Silva e Silva, participaram do evento os directores provinciais da Educação e Saúde, Maculo Valentim Afonso e Henrique Benge Moço, respectivamente, e técnicos das referidas áreas.
Verificamos, com regozijo, que o texto que elaboramos sobre o 15 de Março de 1961 no Quitexe, com base nos depoimentos de João Nogueira Garcia e António Manuel Guerra foram amplamente divulgados pelos sites Pensar e Falar Angola e Macua - Moçambique para Todos e publicados aqui e aqui
Casa do cantoneiro em 1961 (desconheço o autor destas fotos)
Casa do cantoneiro em 1967/Transmissões/CCS 27/07/1967 (Fotos José Oliveira - César)
Jusé Bule - Jornal de Angola
Depois da mandioca já descascada ter ficado num recipiente com água e fechado, dona Teresa Augusto acredita que o tubérculo está pronto para ser transformado em bombó. Com as mãos, esmaga o produto e espalha-o por cima de um tapete feito de sacos de serapilheira.
Depois de secas, trabalha as migalhas para serem transformadas em fuba de bombó. Este trabalho manual, que se repete um pouco por toda a região, tem sido difícil para os produtores locais, que defendem a instalação de moagens eléctricas na aldeia do Dambi-à-Ngola, município do Quitexe.
Teresa Augusto disse, ao Jornal de Angola, que a situação não é assim tão grave porque na despensa da sua casa tinha o velho pilão, que sempre utilizou na transformação do bombó em fuba.
Mas, sublinhou, as moagens eram meios que relançavam a produção industrial da fuba de bombó, parte importante da dieta alimentar da região e da maioria do país.
“A população do Dambi está a produzir muita mandioca, banana, batata-doce e junguba”, revelou, acrescentando que é tempo de se criarem pequenas unidades industriais para a sua comercialização em condições melhores. Dambi tem uma associação de 178 camponeses, que aguardam financiamento para criar pequenas unidades industriais.
“Já entregamos os processos ao BPC e aguardamos ansiosos que a situação seja resolvida”, disse, ao Jornal de Angola, o soba do Dambi.
Pensamento Joaquim lembrou que a população local vive momentos de paz absoluta, mas que ainda enfrenta algumas dificuldades porque na aldeia não há energia eléctrica, nem água potável.
A única escola do ensino primário que funciona nesta localidade da comuna da Aldeia Viçosa não tem capacidade para acolher todas as crianças em idade escolar. Mais de 200 estudam em salas de aulas no Dambi, mas há outras centenas que o fazem ao ar livre, debaixo de árvores.
Aldeia Viçosa - 1969
Pensamento Joaquim disse, ao Jornal de Angola, que há um grupo de crianças e jovens que concluiu o ensino primário e é obrigado a percorrer, a pé, 15 quilómetros, todos os dias, para poder estudar na escola secundária na sede municipal do Quitexe.
“Por falta de transportes públicos ou de táxis, as crianças que terminam o ensino primário são obrigadas a andar a pé até à vila do Quitexe para darem continuidade aos estudos”, lamentou.
Uíge - A construção da central hidroeléctrica do Luquixe Dois, localizada a 15 quilómetros a leste da cidade do Uíge, paralisada desde 2009, reinicia em Julho deste ano, avançou hoje (quarta-feira) o engenheiro da empresa responsável pela empreitada António Bibe.
Por José Bule
A Lagoa do Feitiço tem uma história que faz arrepiar os mais ousados. Ngungo Indua era o nome de uma aldeia que ficou submersa devido a uma “chuva miúda”, muito branda. Hoje só é visível um grande lençol de água parada. Ninguém vê vestígios de casas mas elas estão lá e guardam fantasmas que aparecem nas manhãs de cacimbo e nas noites em que chora a hiena.
Os mais velhos dizem que a aldeia ficou submersa pela “chuva miúda” e muito branda, há muitos séculos, antes mesmo da chegada dos portugueses ao Reino do Congo. O silêncio na Lagoa do Feitiço é absoluto. A paisagem parece uma obra de arte pintada por um génio desconhecido. Quem quiser conhecer esta maravilha da natureza tem de ir ao Dambi a Ngola, na Aldeia Viçosa, município do Dange-Quitexe.
Isaac João Capita, o sekulo da aldeia Dambi a Ngola, despejou vinho, maruvo e gasosa na lagoa para alegrar o casal de sereias que lá habita. E fez uma prece: “eu vim informar que trouxemos aqui os nossos visitantes. Eles querem conhecer e descobrir a tua história, por isso trouxemos o maruvo, o vinho e a gasosa, para vos alegrar e para que permitam a estes viajantes realizar o seu trabalho sem problema”.
O sekulo conta à reportagem do Jornal de Angola a história da Lagoa do Feitiço: “tudo aconteceu quando uma manhã, na aldeia do Ngungo Indua, onde viviam centenas de pessoas, apareceu um homem defeituoso.
Do seu corpo escorria água e pus. Ele cheirava muito mal e estava com sede. Mas como todos sentiam nojo dele, fecharam-lhe a porta na cara, ninguém lhe deu água”.
Os adultos fecharam a porta ao viajante doente. Mas duas crianças, um rapaz e uma menina, que estavam sozinhos em casa, prontificaram-se a atendê-lo como devem ser atendidos todos os viajantes: com amizade. Os meninos serviram-lhe água num copo limpo.
Depois de beber a água ele disse que estava satisfeito mas deixou a seguinte recomendação: “quando o papá e a mamã chegarem, avisem-nos para recolherem todas as vossas coisas e irem para a montanha do Kituto”. Assim aconteceu. E quando veio a “chuva miúda e muito branda, a aldeia desapareceu. A montanha do Kituto fica a cinco quilómetros desta lagoa. Isto aconteceu mesmo, não é mentira”, disse Isaac João Capita.
A grande nuvem
Os pais das crianças chegaram e ouviram a mensagem. Embora com relutância, transportaram toda a mobília, porcos, galinhas e cabras para a montanha do Kituto. O viajante recomendou para que não dissessem nada a ninguém, e assim fizeram. “Quando chegaram à montanha viram formar-se uma grande nuvem e a chuva começou. Era uma chuva miúda que caiu apenas em cima da aldeia. Casas, pessoas e animais desapareceram para sempre na lagoa que se formou. As pessoas que viviam na aldeia, mas que no momento em que a chuva caía estavam distantes, regressaram a correr como se tivessem sido chamados de emergência e também morreram afogados”, disse o sekulo.
Kipita kya Nzambi, pai das crianças, nem queria acreditar no que estava a ver.
Lagoa do Feitiço
José Dinis, um fazendeiro português, levou a família e os seus capatazes à lagoa. Ali ficaram fazendo um piquenique. Comeram e beberam alegremente até ao momento em que apareceu um velho que vivia numa aldeia vizinha da lagoa. O ancião alertou o fazendeiro para o perigo que corriam.
“O fazendeiro não acreditou. Pegou numa moeda e atirou-a para a lagoa dizendo em voz alta que queria ver um milagre. Não passaram muitos minutos e apareceu, de repente, uma menina morta. Estava dentro de um caixão que flutuava sobre a água. O fazendeiro ficou assustado e fugiu para casa”, conta o sekulo.
Mas à noite a desgraça bateu-lhe à porta. A filha morreu sem mais nem menos. Foi a partir daí que o fazendeiro atribuiu o nome de “Lagoa do Feitiço” à aldeia submersa. “Antigamente nós chamávamos esta lagoa Ujia ya Mbuila. Já engoliu muita gente”, disse. Um dia os mais velhos da aldeia que está na montanha Kituto reuniram-se para resolver o assunto e foram ao local: “os velhos levaram muita comida e bebida para pedir perdão às sereias por todo o mal que os nossos antepassados fizeram, para que nada mais aconteça”, contou.
O casal de sereias
A aldeia tem uma associação constituída por 178 agricultores que aguardam financiamento. A única escola do ensino primário não tem capacidade para acolher todas as crianças em idade escolar.
Por falta de transportes públicos, quando as crianças terminam o ensino primário, são obrigadas a andar a pé, até ao Quitexe, onde dão continuidade aos estudos. Deve ser efeito da Lagoa do Feitiço. Mas a reconstrução nacional vai chegar e Dambi a Ngola e então até as sereias ficam contentes.
Passam, agora, 50 anos sobre a revolta da UPA no norte de Angola. Centenas de portugueses e milhares de angolanos mortos. Uma guerra que se prolongaria 13 anos e continuaria, de outra forma, até ao novo milénio. A zona do Quitexe foi das primeiras a ser confrontada com este cortejo de desgraças. No texto anexo os autores descrevem as situações dramáticas que viveram e episódios que ajudam a compreender os caminhos que levaram àquela tragédia imensa. Textos fundamentais para a compreensão do conflito, escritos de forma tão impressiva a que não ficamos indiferentes devido à magnitude do drama humano e social então vivido, à sinceridade que se pressente no que os autores nos dizem e à forma simples, viva e directa como estão escritos.
João Nogueira Garcia
António Manuel Pereira Guerra
O dia-a-dia numa fazenda do Quitexe
Estamos ainda na época das chuvas que, quanto mais intensas, mais beneficiam uma boa floração do café. Os dias são todos iguais nesta época: é preciso capinar todo o cafezal dado que as ervas crescem rapidamente pois o calor intenso e a farta humidade no solo não dão tréguas ao pessoal. Cada contratado capina diariamente120 pésde café.
Junto às casas, os armazéns do café e a casa das máquinas de descasque constituem o sector laboral. No acampamento, situado no morro em frente, à beira da mata, vivem os contratados do Sul, em número variado conforme a época do ano: entre 60, no tempo das chuvas e 100, na época do cacimbo, altura da colheita do café. Entretanto tinha sido inaugurada no Quitexe uma escola primária tornando possível, aos colonos, terem junto de si os filhos em idade escolar.
Este é o cenário que dia a dia se vive na Roça Quimbanze de João Nogueira Garcia, a 3 Km da povoação do Quitexe, semelhante a todas as fazendas de café da região.
Relata-nos João Garcia:
É neste correr do dia-a-dia que numa das minhas idas ao Quitexe encontro o Chefe do Posto Nascimento Rodrigues que diz precisar de falar comigo, confidencialmente:
Ele, Chefe do Posto, tinha sido alertado pela PIDE que estavam a ser distribuídos panfletos subversivos nas sanzalas para os lados do Zalala e que esses panfletos eram de uma organização política designada por U.P.A. que significava União dos Povos de Angola. O Chefe esclareceu que estava a contactar todos os fazendeiros para colaborarem com a PIDE dando-lhe todas as informações que fossem colhendo. Respondi-lhe que de tudo que eu viesse a saber lhe daria conhecimento a ele e não à PIDE, visto ser organização que sempre repudiei. Esta conversa teve lugar no dia 5 de Março de 61.
Entretanto as férias escolares haviam começado e, por isso, não era necessário levar os miúdos ao Quitexe.
No dia 10, escrevo uma carta à minha Tia Marquinhas, carta essa que mais tarde recuperei e que agora transcrevo:
Dia de Comunhão no Quitexe. À esquerda o Tó Guerra entre os irmãos Baptista (Manuela e João) e à direita os irmãos Barreiros (Graça e Acácio, futuro deputado da UDP e PS)
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(...) Desculpe a Tia o só hoje dar notícias mas como deve calcular estas vidas, primeiro a baixa do café que atingiu um preço que pôs toda esta região à falência e agora surge o inevitável problema político, para o qual os governantes resolveram solucioná-lo pela força. Seremos nós, os do interior, homens, mulheres e crianças as principais vítimas, pois além de nos encontrarmos indefesos, por mil e uma razões não podemos abandonar esta boa mas também maldita terra. Em Luanda parece que os encontros têm sido renhidos e que já houve centenas de mortes, mas mesmo lá, por enquanto, parece que os ataques são só dirigidos contra a polícia e o exército e que das forças revoltadas fazem parte brancos. Seria uma sorte pois, se vamos para a questão racial será uma desgraça, pois será o caso de mata que é branco e mata que é preto. Mas parece-me que não teremos sorte pois esses cavalheiros daí para salvarem a pele não hesitarão em nos sacrificarem. (...)
Relendo agora a carta, quase me surpreendo com a clarividência com que expus a situação política vivida em Angola, bem como o alerta premonitório para o que se passaria cinco dias depois.
Ao fim de semana as famílias iam passear à Lagoa do Feitiço, a escassos 5 Km do Quitexe. Na foto da direita, ao centro, com a armadilha de peixes na mão, está o Zézito Guerreiro que viria a ser morto no 15 de Março.
Dia 15
À semelhança de todos os dias, mal despontam os primeiros alvores da madrugada, o capataz acorda o pessoal, batendo com o bocado de mola da carrinha num semi-eixo partido pendurado num galho duma messumba. Ao som das pancadas o pessoal do acampamento começa a formar a fim de serem distribuídas as tarefas para o dia de trabalho.
Quando saio de casa já só o vejo ir com o pessoal a caminho da plantação.
Da casa avistamos a estrada que, vinda do Uíge ou do Quitexe, dá acesso à fazenda continuando depois para S. José do Encoje e Ambuíla. Vimos, então, um jipe com o Chefe do Posto Nascimento Rodrigues ao volante. No banco traseiro o Abílio Guerra e o Jaime Rei. Eram afinal os três membros da Junta Local. Muito preocupados, o Chefe do Posto chamou-me de lado e disse-me que de noite tinha havido sarilho na fazenda do Zalala e que o gerente tinha conseguido fugir e ir para o Uíge chamar a tropa e que constava que muitos pretos haviam fugido da fazenda. Iam ver o que se estava a passar nas fazendas e que depois voltavam a passar por cá.
Não vá para o Quitexe. Há lá muitos mortos!
Lá partiram e eu desloquei-me para o Quitexe passando pela sanzala Talambanza onde iria buscar o carpinteiro Jorge Panzo. A sanzala, que ficava no cruzamento da estrada para o Uíge com a da fazenda, estava deserta. Nem Jorge, nem meio Jorge! Mas um capita vem apressado dizer-me:
Não vá para o Quitexe pois há por lá muitos mortos! O Dr. “Talambaza” (Almeida Santos) acaba de passar para tentar chegar ao Uíge e trazer a polícia!
De imediato dou meia volta ao jipe e corro a grande velocidade para casa passando pela fazenda do Armindo Lenita onde ele, a mulher e os dois filhos podem correr perigo. Chegado à fazenda chamo a Aline e digo-lhe para preparar cobertores pois podemos ter necessidade de fugir para a mata.
Mando, também, chamar o Alcindo e o Tavares, os empregados brancos da fazenda.
De volta o Chefe do Posto, o Abílio Guerra e o Jaime Rei vêm horrorizados dizendo que há mortos nas fazendas. Eu tenho que lhes dizer que no Quitexe também há mortos; os três tinham lá deixado as mulheres e os filhos e lá partiram, como loucos, sem saberem o que iriam encontrar.
Entretanto, no Quitexe
O António Manuel Guerra, então com dez anos, quando se levantou já não viu o pai Abílio Guerra. Tinha saído cedo com o chefe de posto, o Sr. Jaime Rei e dois cipaios do posto. Na véspera o chefe tinha-lhes pedido que os acompanhassem para os lados do Zalala, pois tinham fazenda para aqueles lados e iriam efectuar contactos com os trabalhadores das diversas roças dessa região pedindo-lhes que, caso aparecessem elementos estranhos ou suspeitos, os prendessem e mandassem recado ao posto do Quitexe.
- A minha mãe bem pediu ao meu pai que não fosse, mas de nada lhe valeu (pressentimentos de mulheres).
Recorda agora:
No final de 1960, tinha eu 10 anos, já qualquer coisa de anormal se fazia sentir, pois as festas familiares (Natal e passagem de ano) não foram como nos anos anteriores. As reuniões de família decorriam sempre com as armas em presença.
No Quitexe estavam a passar férias a minha irmã (que estudava em Luanda no Colégio das Freiras), e em casa do meu tio Augusto, onde também viviam os meus avós (António Inocêncio Pereira e Joaquina Pereira), estavam as minhas primas Milu e Juju, filhas do meu tio Celestino e tia Maria (que na altura estavam em Luanda).
Eu levantei-me cedo, como era hábito, e fui a casa do tio Augusto encontrar-me com a Milu e Juju, para as desafiar para irmos brincar. Como elas ainda estavam a matabichar, esperei por lá um pouco.
A minha mãe encontrava-se em frente da nossa casa, a curta distância da casa do tio Augusto, a podar umas roseiras de um canteiro de flores. A minha irmã ainda dormia.
Contou depois a minha mãe, que quando soaram as badaladas das oito horas, no sino da administração, que era o sinal para os comerciantes abrirem as portas das lojas, se gerou um certo burburinho na rua de cima. Era, afinal, também o sinal para começar o ataque ao Quitexe. Uns dias antes tinham fugido uns presos da prisão do posto e na perseguição que se seguiu, houve bastante algazarra, pelo que a minha mãe não deu importância ao barulho que ouviu, pensando tratar-se outra vez de uma fuga da prisão. Foi nesse instante que um elemento que estava na esquina da nossa casa, empunhou uma catana dirigindo-se a ela de arma no ar com a intenção de a matar. Ela começou a fugir em direcção a casa do seu irmão Augusto, aos gritos de socorro.
A minha mãe levou 11 catanadas e o Zézito Guerreiro ficou degolado à entrada da loja
Foi nesse instante que nós ouvimos os gritos da minha mãe e nos apercebemos da gravidade da situação. De imediato o tio Augusto agarrou a espingarda 22 long, ordenou-nos que nos escondêssemos e que só poderíamos sair quando ele nos fosse buscar. Desatou a correr em direcção à irmã que, entretanto, já tinha tombado junto ao cruzamento para a rua da Igreja (esta cena marcante, foi vista por nós, da porta de casa do tio Augusto). Os meus avós que também tinham saído em socorro da minha mãe, tombaram também. A minha avó sucumbiu na varanda da casa dos meus pais e já a vi morta quando acabou o ataque. O meu avô foi ferido com uma catanada na nuca, foi connosco para o Uíge, e veio a falecer 5 dias depois no hospital de Luanda.
Fotografia de Maria Helena Guerra, sendo visível a cicatriz que lhe atravessava o rosto, fruto da catanada que lhe fragilizou o osso do maxilar.
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Algum tempo depois chegou o tio Augusto que nos veio buscar, já com outra arma, uma caçadeira, que ele tinha ido buscar à arrecadação do posto, onde estavam algumas armas apreendidas, pois a 22 long tinha encravado ao primeiro disparo (salvou-se graças a uma pequena pistola 6,35 que andava sempre com ele no bolso das calças).
Em frente da minha casa, estavam o Sr. José Coelho Guerreiro e a esposa (D. Felismina), com a filha bebé a Maria Helena, a minha mãe com 11 catanadas (8 nas costas, 2 nos braços e uma no rosto, tendo o nariz ficado preso pelo lábio superior), a minha irmã e o meu avô que foi colocado num colchão na carroçaria da carrinha do Sr. José Guerreiro. Com o tio Augusto de pé na carroçaria a fazer protecção, seguimos para o Uíge. O filho mais velho do sr. José Guerreiro (José Cebola Guerreiro de sete anos), tinha ficado degolado à entrada da loja dos pais na rua de cima. Na cabine da carrinha de apenas 3 lugares, seguia o Sr. José a conduzir (ferido), a esposa (ferida) e filha, a minha mãe, a minha irmã, as minhas duas primas e eu. A minha mãe segurava o nariz com um roupão turco que ficou ensopado em sangue, bem assim como todos nós, pois das oito pessoas que iam na cabine três estavam feridas.
A viagem até ao Uíge decorreu sem incidentes e ao chegarmos ao Hospital, já lá estava o Dr. Almeida Santos (Dr. Talambanza como era conhecido) à espera, tendo sido a primeira pessoa a socorrer a minha mãe, aplicando-lhe logo uma injecção à entrada do Hospital.
Quando o meu pai chegou ao Quitexe, já se tinha dado o ataque e já nós tínhamos seguido para o Uíge. Como houve mobilização geral, nenhum homem mais foi autorizado a abandonar o Quitexe. Ficou 15 dias sem saber de nós, e nós sem sabermos dele.
De regresso à Fazenda Quimbanze
Na fazenda Quimbanze as mulheres e os miúdos estão reunidos na casa. Entretanto chegam mais uns vizinhos e era a altura de decidirmos o que fazer... Dentro de pouco tempo, vimos que dois carros circulavam no sentido do Quitexe que ficava a uns três quilómetros. Resolvemos avançar, também, e entrar na povoação onde alguns cadáveres estavam ainda na berma das ruas. Tento desviar o olhar dos miúdos da tragédia, mas não o consegui totalmente pois a minha Adrianita, com sete anos não mais esqueceu a visão dos mortos:
“Uma guerra, a guerra via com os meus olhos, começou a andar à volta, entrou dentro de mim: a senhora gorda que tanto tremia, as pessoas mortas nos passeios do Quitexe, nós fechados num quarto do hotel do Uíge e a mãe com uma catana na mão; depois, escondidos num jeep, com armas a protegerem-nos, na ida para o aeroporto. Já em Portugal, durante a noite chorava, não era medo era terror, pânico!
-“Não tenhas medo filha, eles não chegam cá. O mar é tão grande!”
-“Mas há barcos, mãe. Eles podem vir de barco, mãe!”
Aquela madrugada tinha sido trágica no Quitexe, mas também em diversas fazendas em redor. Tempos depois, para recordar os seus mortos, os colonos colocariam na parede da igreja lápides com os nomes dos assassinados, mutilados e esventrados à catanada. Da leitura dos nomes dos que caíram nessa manhã o que mais impressiona são as crianças:
Famílias inteiras destroçadas e, outras, que jamais recuperaram do trauma.
Até 1975 outras placas se seguiram preenchendo a fachada da igreja.
Foto de http://cesarbcav1917.blogs.sapo.pt/
A fachada da igreja foi ficando repleta de placas alusivas aos mortos portugueses no município do Quitexe
Entretanto, no Uíge
António Manuel continua o seu relato:
No Uíge, o tio Augusto levou-nos para uma sala no hospital e deixou-me de guarda às espingardas encostadas a um canto da sala, enquanto ele procurava saber dos feridos. Ao hospital chegavam cada vez mais pessoas, quer feridos, quer pessoas que iam saber de amigos e de notícias.
Uma senhora que morava próximo do hospital, levou a minha irmã e as minhas primas para casa dela, onde puderam trocar de roupa que entretanto lhes arranjaram, pois nós saímos do Quitexe só com a roupa que trazíamos vestida. Próximo do meio-dia, o tio Augusto levou-me a casa dessa senhora, onde troquei de roupa (as nossas estavam todas cheias de sangue) e almoçámos.
Logo a seguir ao almoço, o tio Augusto foi-nos buscar e levou-nos para o aeroporto do Uíge, onde aguardámos a chegada de um avião (Dakota) da DTA, vindo de Luanda para levar os feridos e ao qual foram retirados alguns bancos para receber as macas. Aguardámos a chegada do avião, sozinhos e sem qualquer protecção militar. Quando o avião aterrou, foram embarcados os feridos do Quitexe e lembro-me de ter visto a D. Felismina, Sr. José Guerreiro e filha, a minha mãe, o meu avô, a Geninha e a prima Beatriz, o Tio Augusto, a minha irmã, e as minhas primas. Mais pessoas embarcaram, pois o avião ia cheio, mas não me recordo quem eram.
Ao Quitexe começam a afluir as mulheres e crianças brancas de todas as fazendas. Ninguém sabe se será seguro permanecerem lá sozinhas ou, sequer, como vai evoluir a situação. Na parte da tarde vem uma camioneta do Uíge para evacuar as mulheres e crianças para o hotel do Uíge. Mas consta que esta cidade será atacada por milhares de pretos nessa noite (de 15 para 16). Decido que o meu dever acima de tudo é defender a família e deixo o Quitexe rumo ao Uíge.
No Uíge ficamos instalados no hotel, mas os rumores do ataque da UPA são cada vez mais persistentes. As ruas estão desertas e na rua principal apenas um civil, que deve ser da Pide, patrulha, rua abaixo, rua acima, com uma pistola-metralhadora e cartucheiras cheias de balas. No hotel a confusão e ansiedade pelo que pode acontecer é grande. Não há ninguém para defender o hotel. Um redactor do Jornal do Congo, lá hospedado, apercebe-se do drama e telefona para o quartel da tropa relatando a situação em que se encontravam dezenas e dezenas de mulheres e crianças, totalmente desamparadas e sem protecção. A resposta foi pronta:
- Desenrasquem-se como puderem pois em caso de ataque nem tenho tropa suficiente para defender o paiol!
Eu tinha comigo uma pistola 365 com 10 balas; eu que na minha vida só tinha disparado ao alvo armas de pressão de ar! E se fosse preciso abrir fogo?...
As mulheres, nos quartos do hotel, apenas têm catanas para se defenderem!
A situação era aflitiva pois os homens tinham ficado no Quitexe. Esgotada a possibilidade de defesa, vou à loja do Ferreira Lima buscar uma dezena de catanas que distribuo pelos quartos. Com os poucos homens organiza-se uma defesa simbólica com duas pistolitas e duas catanas. Três pessoas ficam na porta principal. Eu fui para as traseiras defender a porta de acesso às instalações. A noite vai avançando. Atacarão, não atacarão? Agora chega a informação que o ataque vai começar à meia-noite. Cresce a ansiedade. Nada é dito para os quartos, agora fechados, onde as mulheres, em caso de ataque apenas têm as catanas para se defenderem. A meia-noite aproxima-se e então começo a ver e ouvir vultos que se aproximam, subindo a rua das traseiras do hotel.
– MATA! MATA! UPA! UPA!
Do lugar onde estou vejo passar a turba, mas não há nenhum sinal de quererem atacar o hotel. Também já passaram junto ao quartel da Polícia e do Palácio do Governador e só se ouve o – MATA! MATA! UPA! UPA! Não há tiros. Só mais tarde para os lados do Bairro Montanha Pinto começa grande tiroteio que vai diminuindo conforme a noite avança. Corre a notícia de que, afinal, as grandes sanzalas em redor do Uíge não colaboraram no ataque. O grupo que avançou era o que havia passado nas traseiras do hotel e foi disperso.
Ao chegarmos a Luanda, não fomos desembarcados para o terminal do aeroporto como seria normal. Fomos metidos todos em ambulâncias que nos levaram para o hospital Maria Pia, onde ficaram internados os feridos. O tio Augusto, as minhas primas, a minha irmã e eu, podemos juntar-nos ao tio Celestino, que estava em Luanda e tinha seguido as ambulâncias desde o aeroporto e aguardava por nós.
O tio Celestino levou-nos para o hotel Europa, onde ele se encontrava hospedado e fomos mandados subir imediatamente para os quartos, não tendo sido permitido a ninguém falar fosse com quem fosse. À porta do hotel encontravam-se bastantes pessoas, mas só o meu tio Celestino ficou para trás, e creio ter sido nessa altura que ele falou com o autor do livro Sangue no Capim (Horácio Caio), que faz uma alusão muito rápida sobre as pessoas com que o meu tio estaria preocupado (Tio Jaime e família, família Rocha, etc.).
Houve manipulação por parte do poder para encobrir os ataques
Ao tio Augusto, que infelizmente viveu na primeira pessoa o ataque ao Quitexe, e que para mim foi o nosso salvador, não foi permitido que falasse com ninguém (não entendemos porquê). Mais tarde, e à medida que se ia falando mais sobre estes acontecimentos, começámos a perceber uma certa manipulação por parte do poder que tentara encobrir os ataques.
Entretanto, uma senhora amiga, esposa de um caixeiro-viajante, que aparecia pelo Quitexe e por vezes ficava em nossa casa, viu o nome da minha mãe, num jornal diário na lista dos feridos, foi visitá-la ao hospital e mandou um telegrama para o meu pai, dando-lhe conta que a família se encontrava viva em Luanda.
Na primeira oportunidade que o meu pai teve de pedir uma licença ao exército para ir a Luanda ver a família, fê-lo e nunca mais regressou ao Quitexe.
As nossas casas foram entretanto alugadas ao exército, tendo permanecido assim até 1975.
Dia 16
Continuamos, agora, com o relato de João Garcia
Começa a caça ao preto, enquanto vão chegando notícias de mortes por todo o norte de Angola.
Eu, o Ramos e o Armindo concluímos que, dada a impossibilidade de as famílias voltarem para o Quitexe e para as fazendas, o melhor seria requisitar um avião e evacuá-las para Luanda, onde estava tudo calmo. Feitas as diligências junto da DTA o avião só viria ao Uíge se nós nos responsabilizássemos pelo pagamento. Perante uma tragédia desta dimensão era ignóbil que fossem os particulares a assumir as despesas, mas não hesitámos. Eu e o Ramos assumimos a responsabilidade, com a garantia de que o avião chegaria ao Uíge por volta das três da tarde. Não havia sacos nem malas pois as mulheres e crianças embarcavam com a roupa que traziam no corpo.
Já no aeroporto e com o avião na pista os pilotos tomam conhecimento do que se está a passar e ficam muito surpreendidos pois em Luanda não há conhecimento de nada. E prometem que, se houver condições, voltarão antes de anoitecer. Mas as condições atmosféricas não o permitiram.
No dia seguinte o Governo ordena uma ponte aérea e começa a evacuação das mulheres e crianças do norte de Angola. E eu regresso ao Quitexe preocupado com o que se terá passado na fazenda.
No percurso, perto da fazenda do Matos Vaz um casal de nativos, ela com um bebé atado às costas, caminha pela berma da estrada. De uma carrinha alguém dispara e mata o casal. Eu, que vou noutra carrinha, mais atrás, vejo horrorizado o bebé rastejando por cima do corpo da mãe já morta. O motorista não para e ninguém grita... A morte sobrepõe-se à vida!
O Quitexe está cheio de gente que, vinda dos Dembos, das povoações e das fazendas ali procurava abrigo.
A noite de 17 para 18 é passada na casa do Chefe do Posto entretanto transformada na fortificação principal. Um grupo de 9 soldados africanos, 2 cabos e um tenente brancos das forças territoriais vêm em nossa defesa. Os soldados e os civis, deitados no chão, embrulhados num cobertor, esperam, dormindo acordados, que a manhã afaste o medo da noite. Os soldados africanos revezam-se dia e noite agarrados às metralhadoras. Parecem nunca terem sono, disciplinados. São homens do Sul, talvez Cuanhamas, soldados de confiança.
Bilhete do contratado José Zeferino relatando o assalto à fazenda no dia 24 de Março: Atenção no dia 24 de Março de 1961 apareceu com muita gente de Ambuíla com espingardas. Começou a partir as portas. Queria nos levar no povo deles. Nós com pessoal do Sr. Gracia ninguém acedeu na conversa deles. Os gajos mataram as cabras e galinhas do Snr. Gracia, (...) entrou nos quartos a bebida toda que havia lá e chouriço e atum comeram tudo. Fez muito estrago (...) Vosso servo José Zeferino |
O Quitexe, onde nos primeiros dias se juntou muita gente, vai ficando cada vez menos ocupado. Com diversos argumentos, entre os quais irem ver as mulheres e os filhos a Luanda os homens também vão saindo. Mas a vigilância aumenta, temendo-se novo ataque.
A repressão
Após o ataque ao Quitexe as populações das grandes sanzalas permaneceram nelas, pacificamente. Os carros circulavam no seu interior, sem qualquer hostilidade. Há como que uma pausa para avaliar a situação pois creio que, embora todos os negros estejam ao corrente do que se passa, inicialmente, só uma pequena parte terá aderido à UPA e ao ataque ao Quitexe e às fazendas. A UPA só conseguiu alguns êxitos no primeiro dia dada a surpresa, pois se estivessem as fazendas alertadas, tudo tinha sido diferente. As autoridades estavam, afinal, a par do que iria acontecer, dia e hora, como posteriormente se veio a saber. Porque não alertaram as fazendas e as povoações da iminência do ataque? Porque deixaram morrer tantos brancos, mulheres e crianças sem saberem por que estavam a ser esquartejados à catanada?
A UPA, à semelhança do que se passou no Congo Belga, confiou que os brancos, cheios de medo, abandonassem em fuga as suas terras, o que, por pouco não conseguiu. Só, talvez a presença de largos milhares de contratados do Sul, agora todos classificados de Bailundos o terá evitado. Só na área do Posto do Quitexe haverá quatro ou cinco vezes mais Bailundos que toda a população local africana. Por variadas razões estão totalmente ao nosso lado e, assim evitam que a actividade cafeícula paralise.
A repressão que se segue é brutal. Não se procura uma alternativa. Entretanto, eu e o Martins Gonçalves propomos tentar entrar em contacto com as sanzalas, mas a nossa sugestão é liminarmente excluída: não havia ordem para isso.
As sanzalas são metralhadas e incendiadas. Homens, mulheres, velhos e crianças iniciam a debandada; levam consigo os poucos haveres que conseguem reunir. O seu destino é as matas impenetráveis da Serra do Quimbinde, da Serra do Quitoque, do maciço da Serra do Cananga. Vão, quem sabe, à procura dos lugares dos seus antepassados, de onde, um dia, foram obrigados a sair, pela força, para se fixarem junto às estradas que correm no sopé das serras e dão acesso aos Postos Administrativos e, agora, às povoações da população branca e às sanzalas africanas.
A morte de todos os pretos da região, sentenciada pela Pide, braço da repressão do governo, secundada pelos agentes das autoridades administrativas e outros mais sedentos de vingança, conseguiu, em poucos dias destruir o equilíbrio simbólico que existia entre o poder das autoridades portuguesas e o poder africano dos sobas.
O bom relacionamento dos comerciantes com os povos das sanzalas era fruto de uma actividade onde os interesses mútuos se cruzavam. Para o comerciante do mato é do bom relacionamento com os nativos que depende a sua própria sobrevivência e foi este equilíbrio estável que foi irremediavelmente perdido. E, assim, de maneira pouco política e irresponsável, as autoridades portuguesas entregaram à guarda da UPA, os povos com quem convivemos durante centenas de anos. Este convívio nem sempre foi feito da melhor maneira, mas mais por culpa das autoridades que preferiam, em vez do respeito mútuo, incutir em terra alheia a submissão e o medo, esquecendo os valores do humanismo cristão que tanto apregoavam.
Só mais tarde adoptaram a política da “psico”, tentando atrair as populações africanas a aldeamentos -modelo guardados pelos “flechas” e visitados pelos altos governantes, como exemplo da convivência com os povos nativos.
“Ao Povo do Quitoque que está nas mata. Eu Raul Manuel chamo meu pai Manuel, venha apresentar no Quitexe e outra gente quer vir, venha também. Não deixa perder seu tempo. Francisco Domingues chama a mulher Donana Almendo, o Tiago Malungo chama a sua mulher, o soba Simão Domingues chama sua filha Luísa Simão e os seus netos
O comandante deixa vir quem quiser vir apresentar. Todo está apresentado vive bem, a tropa trata bem de nós. Todo que vinha doente foi tratado no hospital, agora está muito bem; olha se não deixar gente para vir apresentado vão entrar patrulha vão fazer 3(?) mez (?) na mata e lagar (?) mandioca Se onde vão esconder
espero
dia 21-11-65
O Soba Simão Domingues”
Carta do Soba do Quitoque pedindo aos familiares para saírem da mata e se apresentarem à tropa portuguesa. Este panfleto era lançado no mato com meios aéreos e fazia parte da "guerra psicológica", lançada mais tarde, para retirar as populações da influência dos movimentos de libertação.
Documento - José Lapa
Em 62 os que regressavam ao Quitexe eram treinados e preparados como um grupo especial da defesa civil
(foto – António Rei)
O homem da Pide, pessoa por sinal asquerosa, era quem mandava no Quitexe. Tinha efectivamente um poder que se sobrepunha a todos os outros, incluindo o militar e era ele que comandava toda a repressão. Assim, resolve um dia, com autorização superior, incendiar a sanzala do Ambuíla que confrontava com a minha fazenda.
Fiquei preocupadíssimo, pois a roça limitava com a sanzala e com todas as lavras de café, mandioca e feijão que eram a base de toda a sobrevivência daqueles povos. Quando fui autorizado a demarcar a fazenda tive o cuidado de falar com o velho Cussecala, deixando livre a mata entre a fazenda e as lavras e sempre mantive relações de cordialidade com os nativos da Sanzala.
Sigo para lá e constato que são os meus contratados que, à ordem da Pide, estão a colaborar no ataque.
Quando entro na sanzala os contratados vêm carregados de cobertores, panelas, bicicletas e tudo o mais que podem carregar. Entretanto o fogo vai consumindo as cubatas, restando apenas paus fumegantes.
Quando parece acabada a operação eis que surge uma figura envolvida em panos, de carapinha toda branca, um velho (macolundo) descendo do ponto mais alto da sanzala. Era o velho Cussecala, pai do Pedro, meu antigo ajudante nas carrinhas, que enlouqueceu, depois de ter sido soba.
Nesse fim do dia, ele descia livre, pela última vez a avenida da sua velha sanzala. Ainda grito para um soldado:
- Não o matem! Não o matem! Ele é um doido que há muito enlouqueceu!
Do cano da espingarda uma bala parte direitinha ao crânio do Velho Cussecala que cai com a cabeça despedaçada.
Agora é o regresso dos heróis e eu vou para a fazenda onde começam a chegar os contratados com os despojos do saque. Ordeno, então, para que todos os haveres que tinham sido roubados na sanzala sejam transportados para fora da fazenda pois não permito que nada roubado aqui permaneça. Têm o prazo até amanhã de manhã para o fazerem.
Parti com a sensação de que, no dia seguinte, só encontraria destroços fumegantes das casas, dos armazéns, dos acampamentos, dos tractores, enfim de tudo o que representa uma vida de trabalho e sofrimento.
A morte é a sina para todos os negros que não sejam bailundos
Vivendo ainda o sucedido no dia anterior, vou para a fazenda saber a reacção dos contratados Bailundos aos acontecimentos. Sou informado de que está tudo calmo e que a minha ordem, para que todos os utensílios roubados no Ambuíla fossem postos fora da fazenda foi cumprida. O Augusto segredou-me que eles tinham reunido todos os bens roubados e os tinham ido pôr junto à minha casa; de noite alguém os havia levado.
Não fiz mais perguntas, mas calculo que os seus donos os vieram reaver, levando-os para as matas, onde agora se escondiam.
O Augusto e o Quintas
Recordar o Augusto e o Quintas é, para mim, um acto doloroso. Eram dois empregados da fazenda que não eram Bailundos. Trabalhadores exemplares de quem eu gostava muito. Depois do 15 de Março tomo consciência do perigo que eles correm. Eu não vou permitir que os brancos os matem, pois é a sina que está reservada para todos os negros que não sejam bailundos. Como sabia que eles nada tinham a ver com o que se estava a passar, chamei-os e fiz-lhes ver a situação. Pelos tempos mais próximos eu dava-lhes guarida na fazenda, comida e dormida, mas não podiam aparecer a qualquer branco. Certo dia, em que eu tinha ido ao Uíge, houve alguém, que sabendo do seu paradeiro e, aproveitando a minha ausência, resolveu ir buscá-los. Essa pessoa, manda-os chamar dizendo que eu precisava deles no Quitexe. Os dois dirigem-se para a carrinha. O Quintas sobe mas o Augusto diz que tem que voltar ao acampamento buscar um cobertor. Vai a correr para demorar pouco. No momento em que o tinham mandado subir lembrou-se das minhas palavras e já não voltou. O pobre do Quintas é entregue à Pide que o faz desaparecer.
O Augusto viveu sempre na fazenda e, em 1973 quando regresso ao Quitexe, passados 12 anos, lá o vou encontrar já casado e com três filhos.
À procura da cidadania
Neste tempo de certezas absolutas ninguém queria encarar a raiz do conflito. No entanto era notório que algo novo estava na forja e que excluía a comunidade branca. Os indígenas, que tantos anos esperaram pelo direito à cidadania na sua própria terra, impedidos de serem cidadãos portugueses, fartos das prepotências das autoridades administrativas, da palmatória e do chicote foram terreno fértil para a sementeira de ódios recalcados.
João Garcia recua no tempo e relata-nos alguns acontecimentos do quotidiano que ajudam a compreender a raiva e o descontentamento acumulados que, bem explorados pela UPA, explodiram numa onda cega de ódio e sangue.
Por volta dos anos 55/56 o preço do café atinge preços elevados; a economia floresce e os indígenas, ao vender o seu café nas povoações comerciais regressam a casa com bens de consumo que nunca pensaram adquirir. Os quimonos e as tangas dão lugar aos vestidos, os panos que envolvem os mais velhos são, em parte, substituídos por calções. Até a língua portuguesa começa a sobrepor-se ao Quimbundo; já não há miúdo nenhum que não fale a nossa língua, ou porque nas missões o seu ensino é agora mais intenso, ou porque o relacionamento com os comerciantes é cada vez mais forte. Alguns indígenas, já produtores de grandes quantidades de café, começam a manifestar o desejo de adquirir o direito à cidadania portuguesa e fugir ao estatuto do indigenato que era, ainda, uma reminiscência da velha escravatura.
A aquisição da cidadania era formalizada com a posse do Alvará de Assimilação. Enquanto os brancos, para obterem o Bilhete de Identidade, apenas precisavam duma certidão de nascimento, duas fotografias e uns dias de espera, para os negros era um nunca mais acabar de exigências:
- Tinham que ser católicos (quando nesta região os povos eram quase todos protestantes);
- Só podiam ter uma mulher;
- Deviam possuir uma casa com cobertura de zinco ou alumínio.
- Tinham que falar português.
Eram as condições que as autoridades administrativas do Quitexe impunham e que podiam ser certificadas por comerciantes. Ainda certifiquei uma meia dúzia de casos, pelo conhecimento pessoal que tinha das pessoas, pois, tirando a questão religiosa, tudo o resto era verdadeiro.
Mas, como no passado, desde o reino à república, as leis são aprovadas em Lisboa, mas os governos coloniais das províncias não só não as cumprem como não as mandam cumprir, perpetuando uma escravatura, onde os direitos são só aqueles que cada autoridade administrativa, segundo a sua bondade, permite. O abuso é tal que qualquer branco se julga no direito de fazer justiça por conta própria.
Nenhum filho da puta de preto queira ser português como eu!
Vem tudo isto a propósito do Alvará de Assimilação. Certificada a pretensão era entregue na Administração ou no Posto Administrativo; Em qualquer dos dois lados o destino era o mesmo – o cesto dos papeis. Fartos de esperar acabam por desistir, pois a resposta era sempre a mesma:
- Ainda não há nada!
Alguns, entretanto, vão tentar a sorte a Luanda e, possivelmente a troco de uns angolares, lá arranjam o tão desejado alvará. Quando voltam às suas terras, orgulhosos porque finalmente são homens com direitos, vão, como tal, apresentarem-se se às autoridades exibindo o símbolo do sonho agora realizado. O Chefe do Posto analisa o alvará e vê que foi tirado em Luanda. Sendo ele natural deste posto não podia ser emitido sem prévia informação da autoridade local. O Chefe do Posto chama o cipaio e manda dar uma carga de porrada e vinte palmatoadas em cada mão, dizendo:
- Aqui quem manda sou eu e, enquanto for autoridade, nenhum filho da puta de preto queira ser português como eu!
O Velho Canzenza
O velho Canzenza simbolizava a alma da velha cultura e do poder africano, exercido em paralelo com o da administração portuguesa. A solução dos grandes problemas surgidos no seio das comunidades e no interior das sanzalas estava a cargo de Os Mais Velhos que eram pessoas de muito respeito, não só por serem velhos, mas pelo saber e experiência que tinham da vida africana. São, os mais velhos, homens como o Canzenza, perante os quais os mais novos se curvam e batem palmas em sinal de muito respeito. Foi na pequena sanzala, logo à saída do Quitexe, na estrada que vai para Camabatela, que o velho Canzenza foi obrigado a fixar-se desde 1947/48 vindo de longe, da serra do Cananga. Lá vivia rodeado de uma numerosa família e era possuidor de grandes lavras de café.
A ordem do Muniputo (Administração Portuguesa) viera. Tinha que abandonar a sua serra e fixar-se junto à estrada, perto do Posto Administrativo do Quitexe, a uns 40 ou 50 Km.
A partir de 1949 o café começa a subir nas cotações internacionais, o seu preço aumenta. Em Luanda há uma corrida em direcção ao Norte. Todos querem ser fazendeiros: médicos, engenheiros, advogados, comerciantes, juízes, reformados do exército e também muitos aventureiros; vêm todos à procura do ouro negro.
As matas do Quitexe são as mais apetecidas e, assim, munidos de licenças de demarcação de milhares de hectares, vão espalhando tabuletas a assinalar a posse e ocupação dessas extensas áreas. O Quitexe está transformado num verdadeiro “Farwije”.
Estamos no ano de 1951. O velho Canzenza é chamado ao posto onde o Chefe lhe diz que as suas antigas lavras de café na serra do Cananga e as matas em redor foram demarcadas por um senhor médico, reformado do exército. O Chefe do Posto intimou o Velho Canzenza para, no outro dia, lhes ir mostrar todas as lavras lá existentes. Ele, que três anos antes fora obrigado a abandoná-las, regressa, agora, para as entregar ao branco vindo de Luanda. Podia ser que o branco, em troca, lhe desse uma boa retribuição...
Há uma corrida em direcção ao Norte. Todos querem ser fazendeiros
Mas o oficial médico, vestindo a sua farda militar, arroga-se em representante do estado português e, portanto nada tinha a pagar.
E, assim regressaram ao Quitexe, o Velho mais pobre e o branco, mais rico, talvez já colha, nesse ano, umas toneladas de café nas lavras abandonadas.
No dia 15 de Março o Canzenza ficara na sua sanzala que ficava a menos de 1 Km do Quitexe. Por certo saberia o que se tinha passado nessa manhã. Ao cair da noite, uma carrinha vinda dos lados de Camabatela aproxima-se da sanzala. O velho lá está vestido com os tradicionais panos. Da carrinha são disparados tiros e o Canzenza cai ao chão. A viatura não para, segue para o Quitexe e o R...... anuncia que acabava de matar o Canzenza. No dia 18 de Março o Quitexe está em pé de guerra, cheio de gente. Por altura do meio-dia é dado o sinal de alerta, todos correm a pegar em armas. Um preto, possivelmente um “turra” aparece de mãos no ar dirigindo-se para o Posto Administrativo. Aproxima-se e passa entre alguns brancos de armas apontadas. Vou ver de quem se trata e, meu Deus, que vejo eu! A figura imponente do velho Canzenza. Tal como Jesus Cristo, que ao terceiro dia ressuscitou, também o velho Canzenza faz de novo a sua aparição no reino dos vivos. Afastei-me cobardemente, para que ele não me visse. Eu não estava em condições de lhe poder valer, pois, dias antes, eu também havia sido ameaçado de morte pelos brancos. Horas mais tarde, soube que havia sido entregue à Pide e tinha sido levado para o Uíge para interrogatório. Pobre Canzenza, por certo nunca mais voltaria e as autoridades portuguesas teriam perdido um dos elos mais fortes do convívio pacífico entre os Portugueses e os Africanos: apesar de tudo, Os Mais Velhos gostavam dos Portugueses!
O segundo ataque ao Quitexe
Em 10 de Abril organiza-se uma grande coluna com todos os brancos que ainda resistem, tropas e Bailundos das diversas fazendas para ir ocupar Aldeia Viçosa. Mas a povoação estava completamente destruída e é feito o regresso ainda nesse dia. A deslocação a Aldeia Viçosa deixou-me muito cansado e, como tudo parece calmo, vou dormir a minha casa, no meu colchão. De noite, pouco antes de amanhecer, acordo com um falatório em surdina entre os Bailundos que estavam a dormir nas varandas da casa. Levanto-me, calço os sapatos e em cuecas venho à porta saber o que se está a passar.
Mal abro a porta, rompe um tiroteio infernal. Vou buscar a espingarda e o saco bordado da ilha da Madeira, onde trago as 100 balas que me haviam sido distribuídas e vou para o Bar do Pacheco, mesmo em frente, onde todos os dias dormíamos. Mas eles, logo que começou o tiroteio, fecharam as portas. Entretanto os Bailundos vão-se juntando à minha volta; eles e eu, estamos agora em campo aberto. Olho da esquina do Bar do Pacheco para as ruas em frente e só vejo pretos com uma fita branca à roda da cabeça. É o distintivo dos “upas” para não se confundirem com os Bailundos. Tudo quanto é arma faz fogo cerrado desde as metralhadoras pesadas, às mausers e caçadeiras e eu, ali em cuecas, no meio da rua, sem saber o que fazer. Resolvo arriscar e começo a subir em direcção ao Posto, com todos os Bailundos atrás de mim. É uma decisão arriscada, para mim e para os contratados, pois há o risco dos defensores da casa do Posto confundirem os Bailundos com os terroristas e, então, ocorrer uma chacina de consequências imprevisíveis, pois nenhum dos comandantes se lembrou da protecção a estes homens em caso de ataque.
Tudo quanto é arma faz fogo cerrado e eu ali, em cuecas, no meio da rua sem saber o que fazer.
As balas assobiam por todo o lado, um bailundo, perto de mim, leva uma catanada na cabeça. No lusco-fusco ainda há muitas sombras, mas o ataque é forte. Eu, na vida, nunca tinha tido medo, mas naquela altura, e, por segundos, as pernas tremeram-me; felizmente reagi e não caí. Continuo a subir a rampa trazendo, atrás de mim os contratados. Já a uns 50 metros da casa do Chefe do Posto, onde estava concentrado o maior poder de fogo da nossa defesa, mas felizmente, agora, virado para o lado oposto de onde eu vinha, alguém grita:
- Não façam fogo! Vem ali o Garcia! Não façam fogo!
E assim conseguimos chegar ao Posto, eu e os Bailundos, que foram colocados à volta da casa. Mas dois “turras” haviam-se misturado com os contratados que, prontamente, os denunciaram. Foram de imediato executados. Entrei para dentro do Posto e fui colocado numa janela para proteger o motor e o gerador da electricidade. De arma carregada fiquei vigilante. De repente um estrondo enorme faz tremer a casa. Digo para mim:
- Estamos perdidos, já cá estão dentro.
A coisa é grave, vou ver o que se está a passar e vejo, no canto da sala ao lado, um soldado morto, completamente despedaçado. Aconteceu, que o soldado, prevendo o aproximar dos atacantes, agarra numa granada de mão, tira a cavilha e, quando se prepara para a arremessar é atingido por um tiro na barriga. Recua para a sala, sempre com o manípulo premido, com a mão fechada. Já no canto da sala começa a desfalecer, abre a mão e deixa cair a granada que rebenta estrondosamente, estilhaçando tudo à volta.
Agora, que as armas se calaram e o dia começa a despontar há que tratar dos feridos e contar os mortos. Dos feridos, o caso mais grave é o cabo Alfredo, que foi atingido e tem uma bala alojada um pouco acima do coração, junto ao ombro. O Dr. Assoreira e o enfermeiro Alves conseguiram estancar a hemorragia. Há mais três ou quatro feridos mas sem gravidade. Mortos, temos o soldado esfacelado pela granada e uma família, pai (Bessa), mãe (negra) e dois filhos, que viviam em casa do Laurindo Ribeiro, mesmo à entrada da povoação e, por isso mesmo, foram as primeiras vítimas do ataque, barba-ramente assassinados.
Os mortos visíveis da UPA são poucos, uns seis ou sete à roda do posto. É uma surpresa, terão eles carregado os mortos? Como é possível, com tantos tiros e avançando eles a descoberto?
Ora, dentro da povoação, a única saída que tinham, dado o fogo intenso a que estavam expostos, era refugiarem-se no capinzal, que do lado poente tinha uma altura que os escondia completamente.
As autoridades dão ordens para que os contratados das fazendas capinem toda aquela área do lado poente. E, então, as suspeitas confirmam-se: à medida que o terreno vai ficando limpo começam a aparecer os cadáveres crivados de balas. Na fuga os “upas” tinham que atravessar um terreno inclinado, onde eram apanhados pelas balas das metralhadoras, não lhes valendo de nada o facto de estarem escondidos no capim.
Ouvi dizer que os alinharam no chão, à medida que iam aparecendo, mas eu não fui ver. O espectáculo da morte nunca me atraiu. Para mim representa sempre uma tragédia macabra, mesmo quando feita em legítima defesa. Infelizmente, neste mundo cristão, o mandamento – Não matarás, não é escutado, prevalecendo sempre o grito odiondo de – Viva a morte! De um lado porque é preto, do outro porque é branco
O Adeus ao Quitexe
Corre o mês de Abril de 61 no Quitexe. O tractor, que eu havia emprestado para os trabalhos de abertura da pista para as avionetas, continua ao serviço da Administração. Mas, entretanto, alguém me vem informar que o pretendem utilizar na abertura de valas para enterrarem os pretos que vão sendo mortos na repressão cega, desenfreada e absurda da revolta. Faço-me ouvir:
- Quem os mata que lhes abra a cova! Com o meu tractor, não!
Retiro a máquina e guardo a chave. Ninguém se atreveu a questionar-me.
A vida humana tem apenas o valor do custo de uma bala, 7$50
Os corpos dos negros são atirados da ponte ao rio Luquixe. Às vezes ainda moribundos, agarram-se aos ramos das árvores que bordejam o rio e assim se vão esvaindo até que a morte e a corrente os transportem rio abaixo.
A indisciplina, que entretanto reina entre os brancos, causa alguma apreensão às autoridades.
Neste ambiente, sem calor humano, os sentimentos são confusos. Não há mulheres, nem o sorriso ou o choro de uma criança. À noite matilhas de cães famintos, abandonados pelos seus donos cercam o Quitexe, uivando sem parar, pressagiando a desgraça e a morte. Os nervos sempre à flor da pele, o vinho, a cerveja e os instintos mais primários de cada um vão tomando conta do dia-a-dia do Quitexe. A vida humana, para alguns, tem apenas o valor do custo de uma bala, 7$50. Triste imagem de gente “civilizada”. Estes são, afinal, os valores morais emergentes da filosofia da guerra que só viriam a ser contrariados por oficiais militares que reconheceram o mérito e a bondade das minhas atitudes nesta guerra diabólica.
Também se acabaram as cucas (cervejas), o vinho e até os cigarros escasseiam. As pessoas começam a reagir pelo desprezo a que estão a ser votadas pelas autoridades, que nada fazem para abastecer o Quitexe. Só os de Mucaba são heróis. Aproxima-se o mês de Julho e eu começo a pensar seriamente em vir a Portugal. Entretanto, a chegada de uma companhia de soldados, para se fixar no Quitexe, já tem data anunciada. O meu irmão Alfredo, que já regressou de Luanda, vai tentar, com o Alcindo, fazer a colheita do café. As circunstâncias são difíceis, pois os contratados do sul são poucos e também ficaram afectados por quatro meses de terríveis sobressaltos.
Com a anunciada vinda da tropa muitos comerciantes regressam na esperança de que a actividade possa ser retomada. Mas, ao contrário dos agricultores, que, se tiverem um pouco de segurança, podem fazer a colheita, os comerciantes não têm a quem vender e a quem comprar, pois só com o regresso dos nativos das matas aos lugares das antigas sanzalas isso seria possível. Hoje sabemos que isso só veio a acontecer 14 anos depois, quando já nada podia voltar a ser como era dantes. Entretanto alguns, poucos, abriram as lojas e começaram, com restaurantes e bares, a fazer negócio com os militares e, mais tarde com os voluntários.
Nos primeiros dias de Julho vou a Camabatela. No caminho encontro muitos camiões carregados de tropa, atolados num mar de lama. Era a companhia que seguia para o Quitexe.
Chegado ao Quitexe, anuncio que, finalmente, as tropas já estão às portas de Camabatela e que dentro de três ou quatro dias chegarão à povoação.
No dia 4 de Julho combino com o Armindo Lenita a ida para Luanda, pois ele também vai a Portugal ver a família. Combinamos fazer a viagem de carrinha, via Lucala onde dormimos. No dia 5 vou ter com o Alferes Santiago, uma jóia de pessoa, pedir autorização para ir a Luanda e a Portugal.
- Vá, vá, Garcia. Vá ver a família e trate da saúde que deve estar abalada.
Desejei-lhe felicidades e, com um aperto de mão, despedi-me do nono comandante do Posto Militar do Quitexe, quantos os que foram rendidos durante a minha permanência de 4 meses na guerra.
Do Quitexe levei comigo a imagem de um sepulcro, onde só regressaria se um dia voltasse a haver paz.
João Nogueira Garcia rumou a Angola, em 1947, com uma carta de chamada do seu irmão Alfredo que se instalara em Porto Alexandre uns anos antes. Natural da Várzea Grande (Vila Nova do Ceira) chegou a Angola com 21 anos, com uma mala cheia de esperança. Rapidamente a sua experiência no comércio lhe permitiu construir a sua própria casa comercial no posto administrativo do Quitexe, na zona do Uíge, a terceira a ser edificada no local.
O bom relacionamento e o respeito que nutria pelos povos desta região angolana foram fundamentais na expansão das suas actividades.
Já em colaboração com o seu irmão Alfredo foi também agricultor de café e industrial. No Quitexe, que rapidamente cresceu e se tornou vila, nasceram os seus filhos. Envolvido na barbárie que toldou os espíritos de angolanos e portugueses em Março de 61, soube afirmar o seu carácter no respeito pela dignidade humana, contra a violência, a vingança e o terror. Veio a falecer em2006, com 79 anos, deixando-nos o relato desses dias negros no repositório de memórias que é o livro “Quitexe 61– Uma Tragédia Anunciada”.
1948 – A casa de João Garcia em construção |
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António Manuel Pereira Guerra, nasceu no Quitexe em Junho de 1950, sendo o primeiro filho de europeus a nascer naquela povoação. Filho de Abílio Augusto Guerra e Maria Helena Borges Pereira Guerra. Os seus pais oriundos de Trás-os-Montes tinham chegado a Angola, depois de uma breve passagem pela Guiné. Estabeleceram-se no Quitexe em 1949. Depois de estar à frente da casa comercial do seu cunhado Celestino, o seu pai construiu a sua própria casa e demarcou uma fazenda para os lados do Zalala.
- “Eu tive o privilégio de nascer em Angola e crescer livre (qual bicho do mato) pelas terras do Quitexe e viver a odisseia da época das chuvas e das viagens a Luanda sem estradas asfaltadas”.
Tinha 10 anos quando assistiu, incrédulo, à morte dos avós e à tentativa de assassínio da sua mãe, acontecimentos que o marcaram profundamente.
Veio para Portugal em 1975 tendo falecido, prematuramente, o ano passado, com 60 anos. Partilhou, no entanto, connosco as memórias da sua vivência de menino no Quitexe. Assumiu a descrição da tragédia do 15 de Março com o distanciamento que só um espírito livre consegue, sem ódios, sem rancores ou ideias de vingança recalcada. O horror visto pela criança de 10 anos, com os mesmos olhos, com a mesma simplicidade e incredulidade.
Há dois anos, Quitexe era das localidades consideradas mais atrasadas entre os municípios da província, em termos de desenvolvimento. Mas hoje o quadro é completamente diferente. Quitexe caminha a passos largos rumo ao desenvolvimento.
A melhoria do programa de distribuição de merenda escolar, extensão da rede de alfabetização, colocação de placas solares para a iluminação pública, construção de fossas sépticas, recolha de lixo e a realização de acções de formação das parteiras tradicionais, para melhorarem a qualidade dos serviços que prestam nas comunidades, fazem parte do Programa de Desenvolvimento Comunitário traçado pela administração municipal para o presente ano.
A vila municipal do Quitexe tem agora uma nova imagem, com a reabilitação e pintura das principais infra-estruturas existentes.
Os passeios e lancis também beneficiam de obras de reabilitação. A nova imagem da rua que liga o comando da Polícia Nacional e a aldeia da Missão é um exemplo vivo do trabalho que está a ser feito na localidade.
Educação em alta
O sector da educação é o que mais cresceu nos últimos anos, segundo a administradora municipal. “O sector está a trabalhar com muita força, tem muitos alunos matriculados e recebemos um número considerável de professores que estão a leccionar aqui na sede, nas comunas, nas regedorias e aldeias, onde existem escolas.
Por isso, podemos dizer que a educação, no Quitexe, está presente em todas as localidades e é, por isso, o sector no qual mais se nota o crescimento”, referiu.
Cavungo deplorou o facto de alguns professores colocados no município agirem de má fé, porque trabalham a meio gás, prejudicando assim os alunos.
A administradora referiu que existe um grupo de docentes que se ausentam injustificadamente.
“Mas há um outro grupo que alega motivos escolares. São estudantes do ensino superior, estudam na cidade do Uíge, onde permanecem muitos dias, em vez de voltarem com mais frequência, para cumprirem com mais responsabilidade o seu dever de ensinar”, deplorou.
Paulo Francisco, chefe da repartição municipal da educação, disse que o município possui 390 professores, distribuídos por 68 escolas do ensino primário, primeiro ciclo de ensino e do segundo ciclo do ensino secundário.
Mas, segundo o responsável, o número de professores ainda não é suficiente para responder à procura de alunos, e, para contrariar a situação, necessitamos de mais 90 professores para os diversos níveis de ensino. Mais de sete mil alunos estão matriculados no presente ano lectivo no município de Dange- Quitexe, segundo Paulo Francisco.
Dange-Quitexe localiza-se a cerca de 41 quilómetros da cidade do Uíge. Possui uma população estimada em mais de 48.500 habitantes, maioritariamente camponeses, distribuídos por três comunas – Aldeia-Viçosa, Vista-Alegre e Cambamba – que se dedicam essencialmente ao cultivo da mandioca, banana, milho, feijão, amendoim, batata-doce e rena e arroz, entre outros produtos.
As 32 associações agrícolas controladas pelo sector da tutela beneficiaram de apoios do governo, para melhorarem a actividade agrícola. O executivo local distribuiu tractores às referidas associações e os meios estão a permitir o desenvolvimento da agricultura na região, tendo em conta que esta actividade, em muitos campos agrícolas, já não é realizada manualmente. Agora, as terras são lavradas mecanicamente.
“Felizmente não temos problemas de escoamento dos produtos cultivados pelos camponeses locais”, disse Cavungo. A estrada nacional Luanda – Caxito – Uíge, completamente asfaltada, atravessa as sedes comunais de Vista-Alegre e de Aldeia Viçosa, além da sede municipal do Quitexe, facto que assegura a livre circulação de pessoas e bens na região.
Só a via que liga a comuna de Cambamba necessita de reabilitação urgente mas, em contrapartida, os acessos às localidades mais recônditas do município, como aldeias e regedorias, embora degradados, não constituem grande obstáculo ao processo de escoamento dos produtos ali cultivados.
“Os nossos camponeses escoam os produtos a tempo e horas devido à grande movimentação de automóveis ligeiros e pesados ao longo da estrada que liga estas duas comunas à sede municipal”, explicou.
Combate à fome e à pobreza
No âmbito do Programa de Combate à Fome e à Pobreza, Maria Fernando Cavungo adiantou que os sectores sociais, como a educação, saúde, estradas e energia e águas, estão entre as prioridades definidas. De acordo com a administradora municipal, as acções vão incidir em obras de construção, reabilitação e apetrechamento de mais escolas, centros e postos de saúde, sistemas de captação e abastecimento de água e de melhoria no fornecimento de energia eléctrica.
Maria Cavungo acredita que o sector agrícola é o ponto de partida para o crescimento económico e social do município.
“No Programa de Combate à fome e à Pobreza temos algumas acções que, naturalmente, pretendemos implementar no sector da agricultura, para ajudarmos as associações e as cooperativas locais a desenvolverem-se.
Por isso, a administração municipal aposta na compra de mais dois tractores com as respectivas alfaias agrícolas, que vão contribuir ainda mais para o aumento da produção agrícola”, disse.
Fotografia: Manuel Distinto
Maria Fernando Cavungo, administradora municipal do Dange-Quitexe, está preocupada com o actual quadro sanitário que o município apresenta. A falta de um médico que possa orientar as consultas médicas aos pacientes que procuram os serviços de saúde na localidade é um dos principais problemas que afectam o funcionamento normal do sector da saúde, em Dange-Quitexe.
Por isso, pede a intervenção urgente das estruturas de direito na solução do problema. Maria Cavungo afirma que o sector da saúde não pode funcionar como está, sem que haja pelo menos um médico que possa examinar os pacientes, antes de serem submetidos a um determinado tratamento. “Estamos preocupados com o funcionamento do sector da saúde, porque este universo populacional não tem um médico sequer, para os consultar, sujeitando-se apenas à intervenção dos poucos enfermeiros que temos”, afirmou.
Mas, ainda assim, continuou, “não baixamos os braços”. A administração tem implementado alguns projectos, no âmbito do Programa de Intervenção Municipal, que visa melhorar as condições de assistência nas unidades sanitárias localizadas nas sedes municipais e comunais. “Estamos a fazer algumas obras de canalização de água nas unidades sanitárias”, esclareceu.
O chefe da repartição municipal da saúde também lamenta a ausência de médicos no município de Dange-Quitexe. Kuavita Bamba referiu que, com a ausência de indivíduos com esta categoria profissional e académica a trabalharem no município, “não é possível haver atendimento personalizado, tendo em conta que há também um grande défice de enfermeiros capazes de responder à procura dos pacientes que acorrem diariamente às unidades sanitárias locais.
Milton Eduardo - Jornal de Angola
O amigo Francisco Gonçalves escreve-nos de Angola: "Neste momento o Quitexe carece de uma data certa ou aproximada da sua fundação, para constar na mente dos filhos do Quitexe e que passaria a comemorar-se . Investigações estão em curso, mas sem sucesso plausível."
Infelizmente ainda não consigo responder a esta pergunta sobre a data da fundação do Quitexe, como posto militar, mas irei continuar as pesquisas. Sabemos que foi em 1917 (portanto mais antigo que o Uíge), talvez em Abril, mas não temos o dia certo.
Tenho à minha frente o livro “Pedro Francisco Massano de Amorim” que nos diz:
“No Cuanza o Governador Djalme de Azevedo, com uma persistência grande, apenas comparável à sua serenidade, consegue em trabalhos sucessivos de duas colunas, que organizou no grande e pequeno Cacimbo e acompanhou, romper primeiramente o território que lhe ficava entre o Lucala e o Ambuíla chegando até Encoge, deixando à retaguarda o posto de Quissaque (17 de Março de 1917) e depois, numa segunda fase das operações militares, montar o posto de Quiteche e internar-se já a Norte e a Sul em território dos Dembos.”
Um dos comandantes de uma destas colunas era fotógrafo amador e registou em fotografia estes momentos. Estas fotografias, verdadeiramente históricas, foram publicadas na revista –“ Ilustração Portugueza, No. 612, Novembro 1917”
Temos, assim uma fotografia do Dembo do Quitexe na data da fundação do posto militar com o seu nome, mas não temos a data exacta deste acontecimento.
Temos que continuar a pesquisar!!!!
Uma consulta pública sobre o impacto do projecto ambiental “Valana” que visa a exploração e transformação de madeira no município do Quitexe, 40 quilómetros da cidade do Uíge, decorre hoje (quinta-feira), nesta cidade, numa promoção da direcção provincial do Ordenamento do Território, Urbanismo e Ambiente.
O projecto, apresentado à representantes do governo local, da sociedade civil, ambientalistas e técnicos do Ministério do Ambiente, tem como objectivo a exploração e transformação de madeira em produtos derivados, o corte de toros para processamento de madeira, assim como na recuperação de áreas degradadas pela exploração da mesma.
O projecto contempla uma fábrica com uma área de serração e uma de exploração. E três naves, uma para serração e outra para carpintaria, assim como uma outra para a secagem.
O chefe de departamento da direcção provincial do Uíge do Ordenamento do Território, Urbanismo e Ambiente, David Mendes, que procedeu abertura do encontro, salientou que a integração do projecto servirá para a criação de mais empregos, e proporcionará o desenvolvimento sustentável, garantindo a melhoria das condições de vida da população.
Publicamos, hoje, os comentários de Fernando Pereira, inseridos no semanário angolano "Novo Jornal" ao livro "Angola 61" de Dalila e Álvaro Mateus. Em primeiro lugar porque é uma análise muito lúcida a um livro que, no seguimento do que já nos habituaram os autores (Memórias do Colonialismo e da Guerra, A PIDE/DGS na Guerra Colonial, Purga em Angola) é fundamental para a percepção deste período da história de Angola e Portugal. Em segundo lugar porque é feita uma referência ao livro "Quitexe 61- Uma Tragédia Anunciada" de João Nogueira Garcia, meu pai, que agradeço ao Fernando.
João Garcia
ANGOLA 61
Dalila Cabrita Mateus e Álvaro Mateus
Quando comemoramos os cinquenta anos dos acontecimentos do 4 de Fevereiro de 1961, chega-nos à mão um livro de dois autores portugueses que tentam fazer um trabalho sério sobre as circunstâncias que levaram à eclosão do quatro de Fevereiro e as razões próximas da mobilização dos participantes e organizadores do movimento que muitos já apelidaram de “princípio do fim do colonialismo português”. (…)
Os seus livros são importantes, podendo eventualmente eu ou outros acharmos que há incorrecções a exigirem ser reparadas, mas a realidade é que nos confrontamos com trabalhos académicos sérios, coerentes e fruto de muito trabalho de investigação e pesquisa. Posso por vezes não gostar que a história fosse como ela é descrita, posso colocar dúvidas em relação a alguns relatos e posicionamentos marcados pela ainda proximidade dos acontecimentos, mas o que não devo é questionar com afirmações avulsas um trabalho científico.
À data de 4 de Fevereiro de 1961, o governador-geral era Silva Tavares um juiz de carreira politicamente cinzento como convinha a Salazar é substituído por Venâncio Deslandes, provavelmente o mais prestigiado militar das forças armadas portuguesas. Do que leio no livro partilho a opinião dos autores em relação à figura camaleónica de Adriano Moreira, que substitui Lopes Alves no ministério das colónias, e que entra em rota de colisão com Deslandes. Este general da força aérea, figura prestigiada do regime, não se coíbe de dar as opiniões a Salazar, que “manholas” como sempre foi, vai-se aquecendo na fogueira ateada pelas faíscas das opções e dos egos dos dois governantes. As vicissitudes de muito do que aconteceu nesse longínquo 61, acabaram por permitir que Salazar, numa atitude de feitor de quintal, se visse livre dos dois quando as circunstâncias militares começaram a ter outro rumo. Deslandes, quando disse que tinha sobre a sua “direcção o maior efectivo de sempre das forças armadas portuguesas na sua história”, e que “essa teoria do Portugal de Minho a Timor era uma figura de retórica”, para além de pedir uma Universidade para Angola, e dizer que Angola e o Minho não tinham nada a ver uma coisa com outra foi cavando a sua sepultura política, perante o olhar embevecido de Adriano Moreira que acabou por ser pontapeado também por Salazar, quase na mesma oportunidade; De delfim do “Botas” à cova foi um ápice! O livro tem muita documentação e fundamenta com verosimilhança um conjunto de relatos sustentando alguma opinião que, apesar de tudo, contraria algo oficial em Angola sobre o 4 de Fevereiro de 1961. Percebo a coerência política das autoridades angolanas em relação ao que foi o 4 de Fevereiro de 1961, mas também é de enorme utilidade que comecem a aparecer trabalhos como este que possam de certa forma incentivar ao estudo dos acontecimentos determinantes na história do nosso País. (…)Acho que os historiadores angolanos devem ser estimulados a fazerem trabalhos destes, para depois não ficarmos na situação algo embaraçante de termos que dizer “nós é que cá estivemos” ou “nós é que sabemos”.(…) Não sou historiador e por conseguinte posso estar a especular sobre alguns detalhes que não terão relevância histórica nenhuma, mas na leitura que fiz do livro Angola 61 e recordado algumas conversas que tive com Rebocho Vaz, vizinho e amigo de meus pais em Coimbra e baseando-me no que escreveu num livro publicado em 1993 –“ Norte de Angola/1961 A Verdade e os Mitos”, há algo que como se diz em bom português não bate a “bota com a perdigota”, no que concerne à Baixa de Cassange. Penso que devia ter sido dado um maior enfoque ao trabalho de Eduardo dos Santos, nomeadamente o seu livro “Maza”, editado pela AGU. (…) Ainda sobre isto e não querendo andar com os panegíricos do regime tipo Amândio César, Horácio Caio, Falcato, Alves Pinheiro, Amadeu Ferreira, Barão da Cunha, Diamantino Faria, João Simões, Artur Maciel, Pedro Pires, Hélio Felgas, Carlos Alves, Borja Santos, e quejandos, acho que se deveria aprofundar o factor insurreccional iniciado em 1961 com a leitura de muito depoimento de gente que foi para Angola por perseguição política, e aqui lembro entre muitos os exemplos de Antero Gonçalves, com um livro de 1965 “O Norte de Angola” e de João Garcia sobre o “ Quitexe” de 2000, que deixaram depoimentos interessantíssimos sobre o que politicamente se passava nas suas “bualas” e à volta, fora do contexto urbano da cidade capital. Acho que a professora Dra. Dalila Cabrita Mateus tem cumprido cabalmente o seu propósito de investigar e simultaneamente oferecer trabalhos de grande qualidade científica, mesmo quando pontualmente estou em desacordo. O que não devemos, e aqui repito-o, é vilipendiar a autora porque tem opiniões cientificamente alicerçadas em documentos e depoimentos que contrariam convicções suportadas por opções ideológicas fabricadas em tempos que era necessário fazer-se força com base em verdades, que nalguns casos se revelaram falácias. Acho o Angola 61 um livro interessante, a que voltarei quando o puder ler com calma, e só me cumpre agradecer aos autores, pelo menos a possibilidade de discordar com algumas opiniões que por lá andam, mas isso já justifica eu ter que ler e documentar-me bem para ripostar. Pelo que ouvi dos autores era possível que este livro fosse polémico em Angola, mas julgo que não o será porque infelizmente quem se interessaria por levantar essa polémica está no seu cantinho a tratar da vidinha. Se o contrário acontecer, é muito bom, porque só se desenvolvem ideias com polémica assente em pressupostos de seriedade, respeito e tolerância pela diversidade. Já agora, talvez a despropósito, há um outro Angola 61, já com uns aninhos de Rocha de Sousa, da Contexto que é um quase romance excelente, sobre a guerra colonial.
Fernando Pereira
Os heróis sobreviventes do 4 de Fevereiro em 1975
Publicamos hoje um artigo retirado do semanário angolano "NOVO JORNAL", Nº 159 :
As fontes da História são diversas e muitas vezes até contraditórias. Para que os investigadores as possam
consultar e comparar é fundamental que elas sejam divulgadas. Existem já alguns livros publicados com memórias e documentos dos quais reproduzimos alguns extractos directamente relacionados com o 4 de Fevereiro.
CRONOLOGIA SEGUNDO MANUEL PEDRO PACAVIRA:
1- “Em Dezembro de 1960, com a presença de um curandeiro mais jovem, Augusto Bengue, ligado ao movimento da Igreja Tocoista (…) decidiu mudar-se (... para) a Pedreira. (…). Foi na Pedreira que se começou a conferir com todo rigor os aderentes mobilizados, tendo-se estimado em cerca de 3.123 efectivos, devidamente preparados para o ataque.
2- (…) “No dia 2 de Fevereiro de 1961, a Direcção do Movimento Clandestino recebeu ordem superior para atacar as cadeias e outros locais da cidade de Luanda no dia 4 de Fevereiro de 1961. O Cónego Manuel das Neves (…) foi que, através do camarada Salvador Sebastião, transmitiu à direcção central do Movimento Clandestino a ordem para atacar (…).
3- “Eram cerca de 20h00. A direcção do Movimento Clandestino (…) encontrava-se reunida sob o Comando-Geral do camarada Paiva Domingos da Silva Massuika Malamba (… onde) foi traçado o esquema e constituídos os grupos de ataque (…).
4- (…) formou os grupos que se cifraram em dez (…):
a. Casa de Reclusão, com 25 homens, chefe: Francisco Imperial Santana;
b. Emissora Oficial, 25 homens, chefe: Virgílio Sotto Major;
c. Cadeia de S. Paulo, 25 homens,
d. Quarta Esquadra, 25 homens, chefe: Domingos Manuel;
e. Companhia Indígena, Campo de Aviação e Palácio do Governo, com um número de homens desconhecido (…), chefe: Paiva Domingos da Silva;
f. Grupo de Vigilância (…), chefe: Salvador Sebastião;
g. Grupo da rainha, (…) chefe: Engrácia Francisco Kabemba. (…)
(in PACAVIRA, Manuel Pedro, 2003,
O 4 de Fevereiro pelos próprios, Luanda,
Editorial Nzila:108-114; 124)
PROTAGONISTAS SEGUNDO HOLDEN ROBERTO:
“…Em 4 de Fevereiro de 1961, dá-se o assalto às prisões: à cadeia de S. Paulo em Luanda, ataque à Casa
de Reclusão e à esquadra da polícia móvel (os aracuaras) arquitectada pelo Cónego Manuel das Neves, “Makarius” e pelos operacionais Neves Bendinha, Herbert Inglês, Viegas Paulo, Francisco Miguel Zau, Luís Inglês, Zacarias António Amaro, César Correia “Mekuiza Mekuenda”, todos ligados à UPA e outros
nacionalistas como Paiva Domingos da Silva, Imperial Santana, Virgílio Sotto Maior, Francisco Pedro, e muitos outros”
(In N’GANGA, João Paulo, 2008, O Pai do Nacionalismo Angolano. As Memórias de Holden Roberto 1923- 1974. (1º Volume). Brasil, Parma: 105)
REFERÊNCIAS EM DOCUMENTOS DA PIDE:
“…Nesse grupo, sobressaiu a figura de Afonso Dias da Silva que por incumbência do Cónego Manuel das Neves elaborou relatórios que foram enviados para o exterior e, bem assim, indicou as personalidades que fariam parte do 1°. Governo de Angola.
A saber:
Presidente da República: Dr. Eduardo dos Santos; Chefe do governo: Mário Pinto de Andrade; Ministro dos Negócios Estrangeiros: Viriato Francisco Clemente da Cruz; Ministro da Saúde e Assistência: Dr. Américo Boavida; Ministro das Finanças: Dr. Amaral; Ministro da Economia: Dr. António de Almeida; Ministro da Educação Nacional: Dr. Agostinho Neto; Ministro dos Transportes e Comunicações: Eng.º Bessa Victor; Ministro da Agricultura, Florestas, Terras e Fomento Pecuário: Eng.º. Azancot de Menezes; Ministro da Justiça: Júlio de Castro Lopo; Ministro das Obras Públicas: Dr. Luís José de Almeida; Ministro da Informação e Propaganda: Aníbal de Melo; Ministro do Interior: Dr. Mário Afonso de Almeida; Ministro da Defesa: Lúcio Lara; Presidente do Parlamento: Reverendo Dr. Nascimento; Vice-Presidente: Dr. Vicente José; Procurador-Geral da República: Dr. Diógenes Boavida; Cardeal arcebispo: Manuel das Neves; Bispo do Congo: Reverendo Martinho; Bispo de Luanda: Dr. Pinto de Andrade.
Cf. ANTT (PIDE/DGSAngola)
Bastos Vigário, Processo nº
469/61.”
(In CORREIA, Fernando, 2009, Américo
Boavida - Tempo e memória
1923-1968, Luanda, INALD:143)
Sr. Carlos Domingos
Fala do Sr. Francisco Cazenza, ok, sou fIlho do Rei Gonçalves do Quitexe e o Sr. Francisco Cazenza trabalhou com minha familia. Tem um filho dele que mora em Luanda e conversamos muitas vezes.
Por curiosidade também morei aí no Lubango, estudei no TCHIVINGUIRO.
Agora moro no Uíge.
Um abraço Rui Rei
Uma jovem mulher, 20 anos de idade, está a ser acusada de raptar uma bebé de 2 meses, na localidade de Quitexe, a 40 Quilómetros da sede Municipal da Província do Uíge. Segundo relatos, o facto decorreu no dia 05 de Janeiro, a mulher de nome Fernanda, aproveitou-se da ausência da mãe da criança e levou – a, alegando que era apenas para passear. Fernanda disse a Polícia que levou a bebé com o consentimento da mãe, entretanto, a lesada afirmou que tal é mentira. A acusada já e encontra a contas com a justiça.
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14jan11
Com a formação de professores mais alunos do primeiro e segundo ciclo vão ser inseridos no sistema do ensino
Fotografia: Kindala Manuel
No município de Dange-Quitexe, 73 alunos do ensino pré-universitário terminaram os s seus estudos nas especialidades de ciências físicas, biológicas, humanas e jurídicas.
O acto de consagração dos primeiros finalistas aconteceu, na terça-feira, na vila que dista 40 quilómetros da cidade do Uíge.
O director da escola, Morais Abel, referiu que pela primeira vez, desde a conquista da Independência em 1975, são formados, no município do Dange-Quitexe, técnicos pré-universitários.
Morais Abel informou que a escola arrancou com 147 alunos, mas apenas 73 terminaram o curso devido a vários constrangimentos devido à distância entre a sede municipal e as aldeias, regedorias e comunas, facto aliado à falta de condições financeiras para a compra de material didáctico.
O professor apelou ao Executivo para construir uma escola de raiz, para melhor acomodação dos professores e alunos. “As salas, nas quais funcionam o PUNIV não oferecem boas condições para o exercício da actividade docente. Precisamos de instalações, onde os professores e alunos se sintam bem e possam desenvolver o seu trabalho sem grandes constrangimentos”, pediu.
O director provincial da Educação, Maculo Valentim Afonso, encorajou os finalistas e apelou aos professores para continuarem a dar o seu melhor na formação das novas gerações.
Prometeu melhorar, no próximo ano lectivo, as condições de trabalho, para que os resultados possam superar os actuais. “Vamos mobilizar a administração local e o governo da província para melhorarmos a escola, o que vai permitir que mais jovens possam ingressar no sistema de ensino”, disse Maculo Valentim Afonso.
A escola do segundo ciclo secundário do Dange-Quitexe é a única no município, e tem 24 professores e sete colaboradores. A instituição de ensino teve, este ano, mais de 700 alunos, distribuídos nas especialidades de ciências físicas, biológicas, ciências humanas e jurídicas.
Governador Paulo Pombolo quando pressionava o interruptor para o arranque do fornecimento de energia ao Uíge a partir de Capanda
Fotografia: Filipe Botelho| Uíge
A cidade do Uíge está, finalmente, desde segunda-feira, a beneficiar da energia eléctrica produzida pela barragem de Capanda, situada na província de Malange. A alegria tomou conta dos citadinos e das autoridades, que vêm, assim, concretizado um projecto alimentado há anos. Em breve, a energia de Capanda abrange mais municípios da província.
Foi na residência de Segundo Laurindo, no bairro da Pedreira, que o governador da província do Uíge, Paulo Pombolo, pressionou um dos interruptores de electricidade, sinal que, a partir daquele momento, o bairro beneficiava, oficialmente, de corrente eléctrica proveniente da central hidroeléctrica de Capanda, na província de Malange.
Laurindo era um homem satisfeito, não cabia em si de contente, quando ligou, na presença do governador e do secretário de Estado para a Energia, João Baptisa Borges, o televisor e a arca frigorífica, que durante muitos anos eram abastecidos com a energia de pequenos, barulhentos e inseguros geradores.
"A chegada desta energia representa uma prenda de Natal para a população. Há muitos anos que não dispunha deste bem. Tinha de recorrer a candeeiros ou a pequenos geradores para iluminar as casas e meter a funcionar os electrodomésticos", disse, sorridente.
Segundo Laurindo aconselhou a população do Uíge a evitar fazer puxadas anárquicas porque, alertou, é um processo perigoso que pode provocar a morte de muitas pessoas.
"O melhor é, todos nós, celebrarmos contratos com a ENE porque a luz, que agora estamos a beneficiar, é de média tensão, e um mínimo descuido pode levar a um choque eléctrico capaz de provocar a morte", lembrou.
Nos bairros Candombe e Pedreira a empresa que se encarregou da construção das linhas de transporte de corrente eléctrica e das subestações instalou redes de distribuição para consumo domiciliário e iluminação pública.
As ligações domiciliárias efectuadas nas cidades do Uíge e Negage, segundo fontes afectas à ENE local, beneficiam, neste momento, 4.541 famílias. A capacidade instalada na subestação do Uíge permite, nesta fase, iluminar mais de cinco mil casas.
Uíge "Cidade Luz"
O fornecimento de energia eléctrica à cidade do Uíge passou a ser assegurado, desde de segunda-feira, pela barragem hidroeléctrica de Capanda, na província de Malange. A linha de transporte da corrente eléctrica e as subestações localizadas na aldeia Quigima e na rua Industrial, no município sede, foram inauguradas pelo governador provincial, Paulo Pombolo, e pelo secretário de Estado para a Energia, João Baptista Borges.
Os dois governantes visitaram as duas subestações, a do Quigima, com capacidade instalada de 12 megawatts, e a da cidade do Uíge, de 5,6 megawatts, onde receberam informações dos técnicos sobre o seu funcionamento, ficando a saber que mais de duas mil casas estão já conectadas à nova rede eléctrica.
A cidade do Uíge deixa de depender do fornecimento de energia eléctrica da antiga central térmica, equipada com grupos geradores que não possuíam capacidade para fazer chegar a corrente eléctrica a todos os bairros.
Paulo Pombolo referiu o empenho do Ministério da Energia e Águas e do governo provincial para conclusão do projecto, que considera ser o de "maior ganho da província” depois de alcançada a paz.
“Este é um dia especial, que vai ficar marcado para sempre na memória da população uigense. Há muitos anos que a província vem tendo problemas relacionados com o fornecimento de energia eléctrica e esta inquietação foi hoje solucionada", disse.
O governador pediu à população civismo no consumo da electricidade e salientou a necessidade de se alargar a rede de distribuição aos bairros e aldeias, antigas e novas, para que o projecto seja mais abrangente.
"O governo provincial quer que os bairros periféricos, como o Mbemba Ngango, Papelão, e aldeias próximas da cidade, como o Tange e Quituma, também beneficiem desta energia, tendo em conta a aglomeração populacional e algumas infra-estruturas sociais ali existentes", referiu.
Paulo Pombolo sugeriu ao secretário de Estado a construção de pequenas subestações e linhas de transporte de corrente eléctrica para beneficiar as populações das vilas da Damba e Mucaba, pois a do município de Maquela do Zombo e da região mineira de Mavoio passa por elas.
O governador acrescentou que os municípios do Puri, Sanza Pombo, Milunga e Quimbele merecem também uma atenção especial, no que ao fornecimento de energia diz respeito.
O secretário de Estado para a Energia afirmou que a sua área tem políticas específicas para a província do Uíge.
Em todos os municípios situados ao longo das linhas de transporte, afiançou, vão ser erguidas subestações para que beneficiem também da energia de Capanda.
Nas localidades que se encontram afastadas destas linhas, vão ser construídas pequenas centrais hídricas, anunciou.
"A chegada da energia eléctrica proveniente de Capanda à cidade do Uíge constitui uma conquista do Ministério da Energia e Águas e do governo da província. Venho acompanhado do presidente do Conselho de Administração da ENE e do director do GAMEK e garantimos que vamos encontrar soluções para os restantes municípios", disse.
Reabilitação da rede
João Baptista Borges defendeu a melhoria da qualidade da prestação de serviços à população, no domínio da electricidade.
O aumento da qualidade, frisou, passa pelo alargamento da rede de distribuição para permitir a sua valorização através do aumento do número de clientes e do pagamento mensal do consumo da energia eléctrica pela população beneficiada.
"Agora, que já está a ser consumida a energia proveniente da barragem hidroeléctrica de Capanda, é necessário melhorar a qualidade dos serviços de fornecimento", declarou, sublinhando:
"Esta qualidade deve ser valorizada com o pagamento do consumo de energia pela população, que só será possível com a reabilitação e alargamento da rede de distribuição".
A actual rede de distribuição, em toda a província do Uíge, foi instalada no período colonial e já há algum tempo vem demonstrando sinais de envelhecimento, o que tem dificultado o normal fornecimento da corrente eléctrica devido às constantes avarias, que originam cortes e restrições em algumas zonas.
As autoridades da província do Uige querem acautelar possíveis conflitos de terra naquela região, onde já se nota um movimento medonho de pessoas com tendência para a expropriação de terras.
A tendência de incursão é já evidente nos municípios de Negage, Uige, Puri, Bungo, Sanza Pombo, Quitexe.
Uma fonte governamental, que prestou a informação ao Novo Jornal, referiu que as administrações municipais têm vindo a promover espaços de diálogo, junto das autoridades tradicionais, informando-os sobre os propósitos do Governo relativamente à problemática da terra.
“O Governo não pode prejudicar os camponeses, visto que a Lei é clara: são reconhecidas às comunidades locais o acesso e o uso das terras, nos termos da lei”, argumentou.
“A expropriação de terras a algumas populações provoca ira”, resumiu a fonte, reconhecendo que chegam
informações referindo que grandes fazendeiros com poder económico querem expropriar “abusivamente”
terras que pertencem à população.
“O executivo tem os seus objectivos no sentido de reconstruir o país, mas não deve lesar os camponeses,
obrigando-os a abandonar forçosamente as suas terras que lhes foram deixadas pelos seus antepassados”,
disse o soba Domingos Malungo, do município de Sanza Pombo.
Para o mesmo soba, as famílias ocupam e cultivam as suas terras há longos anos e ali constituíram as suas famílias, casas, roças.
“Mesmo produzindo e vivendo há tanto tempo naquelas terras, já aparecem vigaristas a aliciar as autoridades governamentais para penalizar o povo”, explicou.
O estudante de agronomia João Nkoxi entende que a invasão injusta das terras dos camponeses é um processo de dilaceramento da cidadania no campo.
“A actual Lei de Terras foi debatida por organizações da sociedade civil e partidos políticos. Ela não deve
ser cumprida em defesa de todos os angolanos”, acrescentou.
O comerciante Domingos da Silva diz que os desprovidos economicamente não podem ser despojados
das suas terras porque tornam-se assim cada vez mais pobres.
“A questão do conflito de terras em Angola é uma realidade, sendo urgente
a tomada de medidas para mudar este cenário. Felizmente para nós, aqui no Uige, a situação ainda não é dramática”, reconheceu o comerciante.
Na sua opinião, todos os uigenses têm direito à terra, visto que a região possui vasto espaço que ninguém
explora.
Segundo uma fonte ligada ao sector da Agricultura e Desenvolvimento mRural, nos últimos tempos, a utilização da terra em actividades agropecuárias regista, de momento, um acompanhamento actualizado susceptível de caracterizar o sector.
Para a mesma fonte, as características ecológicas e a abundância de água, além de proporcionar condições
ideais para a cultura de diversos produtos, conferem à província, por um lado, vastas possibilidades de atingir um nível de ampla diversificação agrícola em todo o seu território, desde que haja um apoio
substancial.
“A direcção da agricultura está aberta aos que queiram investir neste sector, sem, no entanto, prejudicarem os camponeses”, referiu, salientando existirem vários pedidos relativamente à actividade pecuária nos municípios de Negage, Bungo, Alto Cauale, Puri Kangola, Sanza Pombo, Songo, Damba e Maquela do Zombo.
DAVID FILIPE
Novo Jornal
Nascido no dia 9 de Fevereiro de 1943, em Kimbindo, município de Quitexe, o malogrado que foi também membro do Comité Central do MPLA e coronel na reserva assumiu, em vida, várias funções de chefia no partido e no Governo.
Unigénito Armando António foi responsável do grupo clandestino do MPLA entre os anos 1973/74, guerrilheiro do exército popular de libertação de Angola, no ex-Zaire, activista político do MPLA no município de Quitexe e comissário comunal do Nsosso e municipal do Bungo, Ambuila e Kimbele.
Fotografia de lápide que existia no cemitério do Quitexe e que evocava os mortos no dia 15 de Março de 61 sepultados naquele cemitério. Esta fotografia foi retirada do site http://ultramar.terraweb.biz/
Humberto Romano de Freitas Silva - 8 anos
Cinquenta e três jovens dos municípios dos Songo e Quitexe, província do Uíge, enquadraram-se de Agosto a Novembo do ano em curso, nos núcleos de empreendedores, como forma de garantir a sua participação em várias actividades do desenvolvimento nas comunidadesEsta informação foi adiantada à Angop pelo secretário provincial do comité dos jovens empreendedores no Uíge, Luís Abel Miango, acrescentando que dos 53 jovens, 25 enquadraram-se no núcleo do Songo e os restante no de Quitexe.
Disse que os referidos núcleos são controlados pelos comités municipais da JMPLA, com o objectivo de promover jovens carentes e apoiarem certas actividades da organização e do Partido MPLA.
Luís Abel Miango adiantou que os jovens inseridos nessas organizações estão consciencializados igualmente a realizar empreendimentos em vários ramos de actividades, como a agricultura, comércio e cultura.
A primeira etapa da pedalada “Com a paz, Angola é melhor”, que conta com a organização da Brigada 28 de Agosto e Federação Angolana Ciclismo, disputa-se hoje, a partir das 08h00, da cidade Uíge a Vista Alegre, com a participação de três dezenas de ciclistas.
Os pedais começam a rolar e a primeira etapa da maratona em bicicleta compreende 100 quilómetros. Os ciclistas vão pedalar a partir da sede da província do Uíge e repousam na localidade de Vista Alegre.
A mensagem sobre os benefícios que a paz trouxe ao povo angolano vai ser também transmitida pelos embaixadores das bicicletas aos amantes do desporto da vila de Kitexe que dista a 40 quilómetros do Uíge, primeira localidade a acolher a pedalada. A corrida vai ser coordenado no pelotão da frente pelo oficial reformado das ex-FAPLA e presidente do Conselho Fiscal e Jurídico da Brigada 28 de Agosto, Domingos de Sousa “Capitão Certeza” e o técnico da Escola de Ciclismo David Ricardo, David Ricardo. A coluna em bicicleta é composta 23 ciclistas, sendo 17 de Luanda e seis do Uíge.
A prova vai sofrer o seu primeiro interregno, amanhã, na vila Vista Alegre. Nesta região as autoridades locais vão ceder a sala de reuniões do Município de Vila Alegre para acolher uma palestra sobre o resgate dos valores morais e cívicos, que será preferida por membros da Brigada 28 de Agosto.
Na quarta-feira, a caravana vai cumprir a segunda etapa. Parte da vila Vista Alegre para a região do Ukua. O Secretário Nacional da Brigada 28 de Agosto, Cláudio Teixeira de Araújo, tranquilizou a massa associativa que está a correr tudo bem. “Não temos queixas administrativas e técnicas. As coisas estão a seguir o seu percurso normal. As principais preocupações são as mais de 300 curvas que o percurso de 400 quilómetros apresenta e as fortes chuvas que estão a assolar a região. Mas vamos ultrapassar tudo isto”, tranquilizou o dirigente.
Simão Kibondo e Álvaro Alexandre - Jornal dos Desportos
As fotos tiradas pelo Luís Felizardo em Julho evidenciam as obras que decorriam no Quitexe: A Administração, as residências para a administradora municipal e seu adjunto e a escola.
O edifício da Administração Municipal já concluído e as residências ainda em obras.
O Tó Guerra deixou-nos. Aos 60 anos não resistiu à terrível doença que se manifestou há menos de um ano. Com uma vontade enorme de viver, nunca se deixou abater e acreditou, sempre, que iria superar a enfermidade. Não o conseguiu, mas fica connosco a memória de um homem excepcionalmente bom, querido e estimado, por todos.
Tive o prazer de o (re)encontrar há alguns anos e fiquei encantado com a sua afabilidade e simplicidade, o seu enorme coração, sem tempo para a mesquinhez ou a maledicência.
Foi o primeiro filho de europeus ou, sem eufemismos, o primeiro branco a nascer no Quitexe, filho de Abílio e Helena Guerra. Aí cresceu, numa infância feliz, até aos 10 anos, tendo deixado o Quitexe depois dos trágicos acontecimentos de 61.
“Eu tive o privilégio de nascer em Angola e crescer livre (qual bicho do mato) pelas terras do Quitexe e viver a odisseia da época das chuvas e das viagens a Luanda sem estradas asfaltadas. Aprendi a comer o funge com as mãos, com quem mais entendia do assunto e, acreditem, tem outro paladar.”
O seu amor pelos amplos espaços ainda se mantinha e concretizava-o com a sua auto-caravana que lhe permitia calcorrear as distâncias em liberdade.
Em boa hora o desafiei a escrever as suas memórias de infância, no Quitexe, e ele partilhou connosco uma série de histórias magníficas, desde o fatídico 15 de Março, até às hilariantes descrições das suas aventuras de criança rebelde.(http://antonioguerraquitexe.blogs.sapo.pt/)
Sei que lhe foi difícil reviver o 15 de Março e ter verificado que o trauma que julgava já arrumado numa gaveta da memória, afinal estivera sempre presente na sua vida, manifestando-se inconscientemente em momentos delicados. Assumiu a descrição da tragédia com o distanciamento que só um espírito livre consegue, sem ódios, sem rancores ou ideias de vingança recalcada. O horror visto pela criança de 10 anos, com os mesmos olhos, com a mesma simplicidade e incredulidade.
Não fosse a guerra civil, iniciada em 1975 e o Tó teria sido, sem dúvida, um cidadão angolano com as raízes bem fundas nessa terra que amava e a que pertencia de alma e coração – o Quitexe.
A toda a família, em especial à Nanda, ao Pedro e à Odete as mais sentidas condolências deste blogue.
João Garcia
Uíge - Catorze escolas do primeiro e segundo ciclos de ensino e três centros de saúde construídos pelo governo, no quadro do Programa de Investimentos Públicos (PIP), vão ser inauguradas na província do Uíge, no âmbito dos festejos do 35º aniversário da Independência Nacional, a assinalar-se a 11 de Novembro.
Segundo o programa do governo provincial, chegado hoje à Angop, as infra-estruturas escolares serão inauguradas nos municípios de Quitexe, Damba, Mucaba, Milunga e Bungo.
Estão igualmente agendadas inaugurações das instalações dos Serviços Integrados de Atendimento ao Cidadão (Siac), os sistemas de telefonia móvel da Unitel "Liga Liga", o sinais da Televisão Pública de Angola e da Unitel, no município de Quimbele.
Consta ainda do programa a inauguração de empreendimentos administrativos, nomeadamente residências para os administradores e seus adjuntos, assim como a realização de um concurso de gastronomia, literário "Havemos de Voltar", maratonas populares "11 de Novembro", "Caça Talentos", entre outras actividades.
Para saudar a data, estão agendadas igualmente actividades recreativas, culturais e desportivas, campanhas de limpeza e embelezamento, lançamento do concurso infantil de melhor reportagem radiofónico, além de visitas a localidades históricas
Abrindo o baú.
Não recordo os nomes ... Se alguém puder ajudar .
Acredito que essas fotos são de 67 a 69 .
Antônio Rei
António Rei e dois militares frente ao Hospital
A casa que se transformou em Hospital Militar
Em 1962 alguns ( sobreviventes ) retornam ao Quitexe .
Os poucos que persistem são treinados e preparados como um grupo Especial da Defesa Civil .
Não recordo os nomes ....
Antônio Rei
Em 1962 fui para o Colégio Nun´Álvares de Tomar onde tive grandes amigos . Entre eles, o Cavaco que foi convocado para o exército em 66/67.
Por ironia do destino foi para o Quitexe e, como não podia deixar de ser, tornou-se um grande amigo da familia .
Infelizmente o Alferes Moura Cavaco morreu por acidente, ao desactivar uma mina Anti-Pessoal nas imediações da Fazenda Negrão, no dia 26/02/1968, uma terça-feira de carnaval. O pessoal técnico que foi levantar a mina foi o mesmo que a montou.
O acidente deveu-se essencialmente ao facto do capim ter crescido muito com as chuvas, facto que modificou o aspecto do terreno no local.
Antônio Rei
TPA
Na terra dos bagos vermelhos província do Uíge, a polícia nacional registou 77 crimes de diversas naturezas, com uma operatividade por parte das autoridades de 95%. Em Setembro do corrente ano os municípios do Uíge, Kiteche e Songo tiveram o maior número de casos registados, com a detenção de 79 cidadãos. Em Outubro foi registado 25 acidente de viação, causando quatro mortos, 26 feridos e danos materiais avaliados em mais de cento e vinte mil Kwanzas. Em Setembro houve 240 operações ao código de estrada que resultaram em 14 atropelamentos, quatros atropelamentos, duas capotagens e aplicadas multas no valor de 283 mil Kwanzas. As autoridades policiais vão redobrar as vigilâncias com novos métodos para reduzir o índice de criminalidade. |
Nota: Nesta notícia da Televisão Pública de Angola não deixa de ser curiosa a forma que reveste o topónimo "Kiteche", que nunca tinha encontrado. Outras formas já encontradas: Quitexe (a oficial, em português), Quiteche (no pricípio do séc. XX), Kitexi e Kitexe (Kimbundo)
António Rei andou a pesquizar no baú das fotografias e encontrou algumas preciosidades:
A primeira foto (1969) é da familia Rei ( Jaime , Glória , Antônio e Rui ) + ( José , Joaquina , José Carlos e a batizada Elizabete ) + Salustiano e Zarina Reis do Songo , junto com o padre (esqueci o nome) em frente à Igreja no batizado da Beta .
A segunda foto é dos anos 60 . Primeira comunhão de Antônio Guerra , Antônio Rei , Graça Barreiros e Manuela J. Batista
O Município de Ambaca, vizinho do Quitexe e ao qual este já pertenceu, tem sofrido obras de construção e reabilitação de infraestruturas, mas enfrenta o problema da falta de quadros em todas as áreas, conforme testemunhado nesta reportagem da Angop:
Marcelo Manuel | Camabatela - 04 de Outubro, 2010
Fotografia: Marcelo Manuel
O município de Ambaca é dos que mais cresce social e economicamente na província do Kwanza-Norte, em função dos projectos desenvolvidos pelo Executivo, principalmente no abastecimento de água potável, energia eléctrica, construção de unidades sanitárias e escolares, a par da grande dinâmica que se regista no sector pecuário.
As comunas do Tango e o sector do Mussabo, no primeiro trimestre do ano começaram a ser dotadas de duas centrais de captação, tratamento e abastecimento de água potável, enquadradas no programa do Executivo “Água para Todos”.
Os dois projectos prevêem a canalização de água ao domicílio e a construção de chafarizes e lavandarias. As obras estão orçadas em 165 milhões de kwanzas.
As estações funcionam num sistema de electrobombas alimentadas por um grupo de três geradores cada um com capacidade de 30 KVA.
Segundo a administração de Camabatela, a construção do novo hospital municipal, com capacidade para internar 120 doentes, está em fase de conclusão. A estrutura foi erguida num terreno com 15 mil metros quadrados. Tem blocos operatórios, áreas de consultas externas para todas as especialidades, serviços de limpeza, cozinha, refeitório, farmácia, radiologia, e morgue. Vai também prestar cuidados intensivos. A sua projecção como Hospital Regional vai permitir receber pacientes das províncias do Bengo, Uíge e Malange. O director provincial da Saúde do Kwanza-Norte, Manuel Duarte Varela, informou que a inauguração do novo hospital está dependente do acabamento das casas dos funcionários e o recrutamento de 20 novos médicos, 100 enfermeiros e 30 técnicos de meios auxiliares de diagnóstico.
Em Camabatela está a ser construída a linha de alta tensão entre Capanda e Maquela Zombo, que atravessa o Lucala, Samba Cajú e Ambaca. O projecto originou a construção de uma subestação eléctrica na localidade de Pambo de Sonhy, que nos próximos dias vai distribuir energia à região.
Em Camabatela, capital do município de Ambaca, já estão montados os aparelhos técnicos das linhas de média, baixa tensão e domiciliar em alguns bairros.
No âmbito da aprovação da construção do novo matadouro industrial, estão a decorrer estudos preliminares para o arranque do projecto. O mesmo sucede com as reservas fundiárias. A circulação de pessoas e bens entre a comuna do Bindo e a sede municipal regista melhoras com os trabalhos de terraplanagem efectuados na picada que liga as duas localidades.
Café e gado
O município de Ambaca tem excelentes condições para a agropecuária, com relevância para a criação de animais de grande e pequeno porte, produção de cereais, tubérculos, café, frutas e madeira. A principal actividade é a agricultura de subsistência, praticada pela maioria da população.
Um relatório do Governo Provincial revela ainda que existem no município 61 associações de camponeses, 13 cooperativas e cinco agricultores que na actual época agrícola prepararam 154 hectares mecanizados, já semeados.
Até finais de 2009, foram recuperadas 24 fazendas, mais 20 em relação aos últimos três anos, com um efectivo de 6.527 cabeças de gado bovino, mais duas mil em relação ao ano de 2008.
Existem igualmente 52 fazendas de café, das quais duas desenvolvem as suas actividades com regularidade. O número de cafeicultores é de 1.446. O município conta com oito técnicos especializados, ligados aos ramos da Estação Municipal de Desenvolvimento Agrário, Gabinete Regional de Desenvolvimento Agrário de Camabatela, Brigada Técnica do Café e Mecanagro.
Educação e saúde
Está em curso a conclusão de uma escola com seis salas de aulas, na sede municipal. Durante o ano em curso foram matriculados 13.233 alunos, dos quais 2.217 no ensino pré-escolar, 9.934 no primário, 857 no secundário do primeiro ciclo e 225 no segundo. O número de professores é de 337.
As autoridades escolares receberam da Direcção Provincial de Educação 278 pacotes de material didáctico para professores, 3.500 fichas para a iniciação, dois armários e 1100 carteiras individuais. No que diz respeito à formação profissional, estão inscritos mais de 100 instruendos no Centro Municipal de Formação Profissional
O Centro de Saúde Municipal regista mensalmente uma média de 11 doentes internados, 798 consultas e 16 partos. O banco de urgência atende 411 pacientes por mês.
Durante o mês de Setembro, foram diagnosticados 521 casos de malária, 179 de diarreias agudas, 394 doenças respiratórias, 267 de febre tifóide, 37 gastrites, 11 casos de hipertensão arterial, 43 casos de sarna e 27 de reumatismo.
Em relação à saúde materna foram vacinadas, em Agosto e Setembro, 84 mães contra o tétano, realizadas 131 consultas e 16 partos, dos quais cinco bebés morreram.
As campanhas de imunização contra a tuberculose, poliomielite e sarampo tiveram a adesão de 47.099 crianças.
Quanto à actualização do registo eleitoral, até o dia 13 de Setembro tinham sido registados 489 cidadãos, dos quais 271 do sexo masculino e 218 do feminino.
Falta de quadros
O corpo da Polícia Nacional em Ambaca registou durante o mês de Setembro 13 casos, todos esclarecidos. Em relação ao trânsito automóvel ocorreram dois acidentes de viação, sendo um por despiste e outro por choque contra uma casa, tendo como consequência um morto e três feridos.
As principais dificuldades em Camabatela são a falta gritante de quadros, insuficiência de estruturas (escolas e postos médicos), o acentuado estado de degradação das vias e a falta de água em algumas localidades do município.
O município de Ambaca é limitado a Norte pelos municípios do Negage e Cangola, a Sul por Samba Cajú e a Oeste com o Dange-Quitexe. É constituído pelas comunas do Bindo, Luinga, Máua e Tango. Tem uma extensão territorial de 30.807 quilómetros quadrados, o seu clima é temperado, e tem uma população de 70.500 habitantes.
A reabilitação da estrada Uíge / Luanda tem, infelizmente, contribuído para a nova guerra em Angola: a guerra das estradas. O alargamento da via e a sua repavimentação induz um aumento de velocidade para o qual o traçado da estrada não está preparado. O mais grave, ainda, é os condutores profissionais não adaptarem a sua condução às características do arruamento.
O esforço gasto na reedificação das infraestruturas tem por vezes este lado perverso que, tanto em Angola como em Portugal, se paga com um número elevado de vítimas.
| 23-09-2010 / 14:30 / TPA
Acidente rodoviário mata 3 pessoas neste final de semana
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Três pessoas perderam a vida, quando a viatura em que se faziam transportar capotou em consequência de uma manobra perigosa. O acidente que teve como único sobrevivente o motorista ocorreu próximo da aldeia de Bengue a 32 quilómetros do município de Kitexi, Província do Uíge. Importa realçar que o referido veículo fazia transporte de grades de cerveja com destino a capital do país.
10-09-2010
Uíge - Vinte e quatro mulheres do grupo coral da IEBA, quatro das quais em estado grave, ficaram feridas quinta-feira, em consequência de um acidente de viação ocorrido nas imediações de Vista Alegre, município de Quitexe, aproximadamente 100 quilómetros a sul da província do Uíge.
O autocarro que as transportava para município do Bembe, para festejarem os 100 anos da fundação desta confissão religiosa, capotou e deixou quase todos os seus ocupantes feridos.
As vítimas estão a receber tratamento no hospital provincial, de onde as quatro coristas em estado grave vão ser evacuadas para a capital do país, devido a gravidade das lesões contraídas, apurou a Angop.
30-07-2010 Cinco pessoas morreram de acidente hoje na via Luanda/Uíge Uíge - Cinco pessoas morreram nesta manhã de sexta-feira, vitimas de acidente de viação na via Luanda/Uíge, informou hoje à Angop no local, o regulador em serviço na referida via, Santos de Oliveira Segundo explicou, os únicos ocupantes do camião/cisterna que transportava combustível para o Uíge faleceram de imediato, após o despiste da viatura, deixando até a altura da informação, o motorista entalado no camião.
Nota: A maioria das fotos são da autoria de Luís Felizardo (Bembe) a quem agradecemos. |
Dando por findo um tempo sem notícias, aqui vai alguma informação em que tropecei numa ida ao Arquivo Histórico Ultramarino. Trata-se do Dicionário Corográfico-Comercial de Angola, 4ª Edição, 1959, e as respectivas páginas sobre o Quitexe.
Uma pequena nota de aviso: por definição, os dados constantes do dicionário são anteriores à data de publicação. Mais: naqueles dias, tanto o Quitexe como quase toda aquela zona estava em desenvolvimento acelerado. E se a 1ª edição é de 1947 e a 2ª de 1948, já a 3ª é de 1955. Assim, eu diria que muita da informação poderá ter passado de uma edição para a outra (55 para 59), pois seria pedir demasiado que toda ela fosse reavaliada. Seja como for, e podendo eu estar enganado, uma coisa é certa: a informação será (tendencialmente) a verdadeira para um dos seguintes anos: 1956, 57 ou 58.
João Cabral
Nos anos 50 a produção indígena era ainda descascada segundo o método tradicional no pirão, pois os comerciantes só compravam café limpo, que era ensacado em sacos de juta de 80 Kg. Em algumas sanzalas foram instalados, mais tarde, descascadores mecânicos accionados por motores de explosão que tornam a tarefa mil vezes mais rápida.
Nas fazendas dos europeus, as maiores áreas de cultivo, aliadas à maior capacidade financeira e empresarial, possibilitaram a introdução rápida dos métodos mecânicos.
Na Fazenda Quimbanze o equipamento para descasque e beneficiação do café começou com um simples descascador que funcionava movido por um tractor Volvo que tinha uma transmissão para esse efeito.
Uns anos depois, por volta de 1956/57, compramos ao Ferreira Lima uma máquina que trabalhava no Pumbaloge, marca ANDREIA, fabricada em Limeira - Estado de S. Paulo - Brasil, composta, à entrada por uma tarara que fazia a limpeza dos objectos estranhos e mais volumosos e, seguidamente, por meio de elevadores, enviava a Mabuba (café seco por descascar) para o descascador que funcionava como um moinho de martelos e não por aperto num sem-fim, como os descascadores primitivos. Uma potente ventoinha expelia para o exterior toda a casca, sendo o produto do descasque levado para um peneiro que com vários movimentos separava o café completamente descascado dos bagos por descascar e os reconduzia ao descascador.
O café limpo, saído deste peneiro, era distribuído por dois classificadores para tamanhos, cada um com quatro seleccionadores com a sua bica que deitavam, cada um, para sua tulha. Era uma máquina muito interessante, quando em funcionamento, movida por um motor diesel que antes estava na cerâmica.
Um ano depois, como deixou de ter interesse a classificação que se fazia, esta ANDREIA foi substituída por uma máquina idêntica, mas sem classificador e de maior rendimento, fabricada em Angola pela SOTECMA, Sociedade Técnica Cardoso de Matos do Amboím.
No ano de 1970 a colheita foi de tal maneira atacada pela “broca”, que furava os bagos ainda verdes na árvore, que, depois de seco e descascado, rigorosamente classificado, o café não iria além de resíduos. Tentando minorar essa calamidade pela escolha, comprámos em Luanda à pressa, uma máquina brasileira marca MOREIRA que fazia essa selecção. Funcionava por meio de um motor eléctrico, pelo que tínhamos que por a trabalhar durante o dia o gerador da iluminação eléctrica. O resultado foi pouco animador, pois como sabíamos, a maior parte dos bagos estava furada reduzindo a colheita desse ano para um terço.
Depois do primeiro choque, de que os exportadores se aproveitaram para comprar aos produtores pelo preço que entendiam, a situação quase normalizou, deixando o bago furado de ser considerado defeito com a importância que vinha tendo.
Pouco tempo depois comprámos um secador que se destinava a retirar a humidade do café quer já descascado, quer, principalmente, em mabuba, que por qualquer acidente como uma chuvada no terreiro onde esta secava ou por motivos de espaço, de onde era retirada mal seca.
Esta máquina compunha-se de um enorme cilindro metálico que rolava sobre si e tinha umas saliências interiores para misturar o seu conteúdo, onde era injectado ar quente e seco proveniente de uma caldeira tubular. No interior dos tubos circulava ar, em vez de água, a temperaturas convenientes e saía, depois, com a humidade tirada ao café ou mabuba. Este secador foi comprado e construído em Luanda numa firma onde entrava o nome Antão.
Nessa altura começou um novo processo de descasque chamado de “via húmida” que apenas a Companhia do Pumbassai utilizava, não por ser mais caro, mas apenas diferente, que requeria um terreiro pavimentado, de preferência. O café, colhido em cereja e maduro, era facilmente despolpável numa espécie de descascador, parecido com os antigos, onde era prensado com bastante água, pelo que, assim lavado, secava no terreiro mais facilmente. Este processo implicava que a colheita tinha que ser feita com mais cuidado de maneira a não levar bagos verdes que, depois de secos, ficavam negros prejudicando a classificação do café.
Em 1975 a Fazenda Quimbanze era uma das mais bem equipadas não só no sector do descasque e beneficiação, mas também nas restantes estruturas.
A sua produção era a de uma fazenda média, podendo em 1975 e, a partir daí, chegar às 500 toneladas / ano.
Placa de identificação do Quitexe colocada pela JAEA
Fotografia de José Oliveira tirada em 1969
Após o alargamento e repavimentação da estrada foi colocada nova placa como comprova a fotografia tirada por Luís Felizardo na sua viagem até ao Bembe.
A comuna de Aldeia Viçosa, no município do Quitexe, província do Uíge, ainda mostra as ruínas provocadas pela guerra. Desde que Angola vive em paz há muito projecto concretizado mas ainda está muito por fazer, sobretudo nos sectores da educação e da saúde.
São 14 horas e as ruas da comuna da Aldeia Viçosa estão desertas e silenciosas. A maioria dos habitantes dedica-se à produção agrícola. Vão às lavras muito cedo e só voltam no final do dia.
Os estabelecimentos comerciais têm poucos produtos nas prateleiras, mas já se nota algum movimento de clientes. É o renascer de uma localidade fustigada pela guerra durante três décadas.
Alguns jovens estão pendurados nos velhos muros do tempo colonial, falam e riem. Mas a maioria está nas aulas que funcionam nos escombros das antigas unidades militares e igrejas construídas no período colonial.
Neste momento estão em construção mais escolas, postos e centros de saúde, sistemas de abastecimento de água potável e de distribuição de energia eléctrica.
O administrador comunal, Mateus Pedro, disse à reportagem do Jornal de Angola que a população continua a praticar uma agricultura do tipo rudimentar. Mandioca, jinguba, feijão, pevide, batata, abóbora, banana e uma grande diversidade de hortícolas, são os produtos mais cultivados na região. Alguns cafeicultores estão a dar pequenos passos com vista à revitalização da produção do café.
Falta água e luz
Vila Viçosa está sem energia eléctrica e água potável. A comuna tem postes de iluminação alimentados por placas solares que funcionam à noite. “Temos projectos para construir sistemas de captação, tratamento e abastecimento de água e para a rede eléctrica. Esperamos que sejam concretizados o mais rápido possível”, disse o administrador, acrescentando que os sectores da energia e águas fazem parte das prioridades definidas para a rápida recuperação de Aldeia Viçosa.
“A reabilitação das vias de acesso vai possibilitar o transporte dos materiais necessários para a construção de escolas, postos de saúde, sistemas de fornecimento de água potável e energia eléctrica, para além de facilitar a livre circulação de pessoas e bens”, rematou o administrador Mateus Pedro.
Abandono escolar
Carlos Cabral Alexandre, coordenador escolar da comuna, está preocupado com o abandono das crianças: “muitos alunos desistem de ir às aulas por negligência dos pais, que obrigam os filhos a trabalhar nas lavras”.
O coordenador escolar disse à reportagem do Jornal de Angola que, durante o presente ano lectivo, pelo menos 102 crianças desistiram de estudar: “são 55 rapazes e 47 raparigas que decidiram trocar a escola pelo campo, obrigados pelos pais. Já convocamos os encarregados de educação, mas eles são indiferentes à situação”, informou.
O ensino primário e o primeiro ciclo têm um total de 925 alunos matriculados, sendo 520 masculinos e 405 femininos, que estudam nos escombros de antigas unidades militares, igrejas, e debaixo de árvores. A comuna tem 76 professores que asseguram o funcionamento do sector.
Os alunos que transitam para o segundo ciclo são obrigados ir até à sede do município do Quitexe, para darem continuidade aos estudos. O material didáctico é outra dor de cabeça. Há uma grande carência de manuais de leitura da quarta classe.
O Governo Provincial do Uíge está a construir em Vila Viçosa uma escola de quatro salas com capacidade para albergar 360 alunos subdivididos em dois períodos de aulas. A rede escolar tem 17 escolas que funcionam em péssimas condições e nem sequer têm carteiras. Os alunos levam de casa bancos ou latas para se sentarem.
Irene Augusto Manuel, estudante da 9ª classe, está feliz com a construção da nova escola: “já é tempo de estudarmos em escolas com carteiras e quadros.
Estou feliz porque, finalmente, vamos deixar de estudar debaixo de árvores ou em salas de aulas que não possuem quadros nem carteiras”, disse.
“É um grande passo que o Governo Provincial está a dar, mas é preciso construir mais escolas para que todos os estudantes da comuna possam sentir-se bem”, disse o estudante Amélio António.
Amílcar Fernando Maxinde é de opinião que a nova escola, para além de proporcionar uma imagem mais vistosa à vila, vai contribuir para a melhoria do processo de ensino e aprendizagem. “Mas é necessário que esteja bem apetrechada e precisamos de mais escolas”, disse a concluir.
Ambulância sem motorista
Aldeia Viçosa tem um centro de saúde onde funcionam apenas três enfermeiros. Miguel Candando Boto, chefe do centro de saúde comunal, disse que a unidade sanitária necessita de, pelo menos, sete enfermeiros para permitir a melhoria dos serviços de assistência sanitária às populações locais.
Apesar do Governo Provincial do Uíge colocar uma ambulância nova à disposição do centro de saúde da comuna, ela não funciona por falta de motoristas.
“Nós recebemos a ambulância há mais de dois anos e até agora não conseguimos arranjar um motorista. Sempre que é necessário evacuar um doente, pedimos sempre favores a alguns motoristas que, embora trabalhando noutros sectores, se mostram disponíveis para nos dar uma ajuda”, revelou.
Por falta de reagentes, no laboratório são feitas apenas análises de gota espessa, fezes e urina. O paludismo e as diarreias agudas são as doenças mais frequentes na localidade.Quanto ao paludismo, o chefe do centro de saúde da comuna de Aldeia Viçosa, Miguel Candando Boto, garantiu que o sector realiza palestras sobre as formas de prevenção da doença, para além de distribuir mosquiteiros à população.
Para o responsável comunal, a distribuição de água potável às populações seria o melhor antídoto para a prevenção de muitas doenças de origem hídrica.
“Se tivessemos regularizado o abastecimento de água potável às populações, tenho a certeza que muitos casos de diarreias seriam cortados pela raiz”, disse.
Caça furtiva
A par da agricultura rudimentar, a caça é outra forma encontrada pelas populações para a sua subsitência. Macacos, javalis, veados e outros animais de pequeno e médio porte são encontrados no mercado local e ao longo da via que dá acesso à Vila Viçosa.
As autoridades proibiram a caça desses animais, mas caçadores furtivos abatem diariamente dezenas de peças de caça que são encontradas facilmente à venda no mercado local.
De acordo com velho Manuel, apesar da proibição, as pessoas continuam a caçar, porque além da caça ter tradição na região, é um dos poucos meios existentes para a sobrevivência de muitas famílias.
José Bule - Jornal de Angola
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